O Samba-enredo de 2019

https://www.youtube.com/watch?v=3lRTDkd0AYA

Aos 45 minutos do tempo final da derradeira partida, quando tudo carece de esperança, há Mangueira. E eu estava ali, na plataforma da estação – primeira – menino de tudo, lembrando-me das histórias que meu pai contava, quando fugiu de casa para ver o desfile das campeãs de 1967, ano em que a verde-rosa foi a campeã com Monteiro Lobato. De “quando uma luz divinal iluminava a imaginação de um escritor genial” até “na luta é que a gente se encontra” são pra lá de 50 anos. Havia intolerância pelo pensar diferente naquele 67 – ano antes e antessala do AI-5, página infeliz da nossa história. Hoje, flertamos perigosamente com as mesmíssimas linhas. Mas há Mangueira no fim de tudo, repito. Sempre há. E naquele “arquipélago” quântico-sensorial-químico-mágico elevado, para ser visto assim do alto como céu no chão, contra juízes, coronéis e prefeitos castradores, ainda resiste a cultura popular. Duas imagens que tudo sintetizam: o bolo parece um carro alegórico bem-acabado, que, sabe-se lá a técnica ninja, irrompeu a quadra, cruzou a multidão e chegou sem ranhura qualquer, intacto. Os salgadinhos são distribuídos sem distinção, assim como a torta salgada – esta apenas para estômagos verdadeiramente guerreiros. E há a pausa para a vaidade e os caprichos, o retoque da maquiagem. O batom da diversidade, em Mangueira, veste os lábios de meninas e meninos de oito a oitenta. Contra o esquecimento do poder público, que instaurou a violência e a desigualdade social, a maior escola do Planeta – que dá vez para “ouvir as Marias, Mahins, Marielles e Malês” – egueu-se forjada no abraço, no congraçamento, no amor. E acalentou os melhores ideais.

Que estes sentimentos não faltem jamais em nossos corações.

Entre realidade e quimeras de raríssimo esplendor… Somos Mangueira até morrer.

Um beijo.

Fabio Fabato

 

 

Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra

Brasil, meu dengo
A mangueira chegou

 

Com versos que o livro apagou
Desde 1500
Tem mais invasão do que descobrimento
Tem sangue retinto pisado
Atrás do herói emoldurado
Mulheres, tamoios, mulatos
Eu quero um país que não está no retrato

 

Brasil, o teu nome é Dandara
Tua cara é de cariri
Não veio do céu
Nem das mãos de Isabel
A liberdade é um dragão no mar de Aracati

Salve os caboclos de julho
Quem foi de aço nos anos de chumbo
Brasil, chegou a vez
De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês

Mangueira, tira a poeira dos porões
Ô, abre alas pros teus heróis de barracões
Dos Brasil que se faz um país de Lecis, jamelões
São verde- e- rosa as multidões

Redação

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