O segundo tempo…

Findo o carnaval “Fora Temer”, o usurpador e sua maioria parlamentar seguem querendo impor reformas impopulares. A Câmara dos Deputados e o Senado agem como se não tivessem que prestar contas aos cidadãos. O usurpador se vangloria de sua imensa impopularidade.  

Os principais atores políticos e financeiros do golpe de 2016 parecem acreditar piamente no mito do “brasileiro cordial” enunciado por Sérgio Buarque de Holanda.

“Já se disse, numa expressão feliz, que a contribuição brasileira para a civilização será de cordialidade – daremos ao mundo o ‘homem cordial’. A lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam, com efeito, um traço definido do caráter brasileiro, na medida, ao menos, em que permanece ativa e fecunda a influência ancestral dos padrões de convívio humano, informados no meio rural e patriarcal.” (O homem cordial, Sérgio Buarque de Holanda, Penguin – Companhia das Letras, São Paulo, 2015, p. 52)

Cordialidade é algo que o usurpador e os membros de sua quadrilha empregam apenas quando estão lidando com os banqueiros que apoiaram o golpe de 2016. Quando se trata da esmagadora maioria da população, a malta liderada por Michel Temer age exatamente como os escravocratas do século XVII.

Os governadores alinhados à nova ditadura (por ora apenas transitória) são hospitaleiros e generosos, exceto quando empregam policiais militares para desbaratar manifestações indesejadas. Quem vai às ruas aplaudir o novo regime pode tirar selfies com os neo-capitães das florestas de concreto. Mas aqueles que tentam fotografar a PM usando armamentos não letais para dispersar passeatas contra desmantelamento do SUS e do INSS correm o risco de levar tiros e ter seus equipamentos destruídos.

Freud  afirmou que “…o preço do progresso cultural é a perda de felicidade, pelo acréscimo do sentimento do culpa.” (O mal-estar na civilização, Sigmund Freud, Penguin – Companhia das Letras, São Paulo, 2011, p. 81). Ele certamente não estava se referindo ao Brasil. Em nosso país a degradação cultural foi transformada em política pública para que os culpados continuem felizes em razão do acréscimo de certeza de impunidade que conquistaram ao dar um golpe de estado.

A esquizofrenia do novo regime político brasileiro não tem cura dentro da legalidade, pois a própria a ilegalidade já é uma arma de destruição em massa empregada metodicamente pelos burocratas do MP e do Judiciário para destruir os líderes populares. A maioria da população terá que passar da opinião (ou seja, da rejeição ao usurpador e seu bando) à ação violenta contra os juízes e promotores que ignoram a  legislação para garantir a produção de exclusão social por políticos que foram excluídos da persecução penal.  

Os militares brasileiros já estão prevendo o pior. Eles sabem que a violência politicamente organizada vai irromper a qualquer momento. Michel Temer, porém, segue em frente como se fosse um zumbi. O usurpador não pode deixar de atender os compromissos que firmou porque pode ser deposto pelos “seus amigos” (uma minoria) mesmo sabendo que poderá ser morto pelos “outros brasileiros” (a maioria da população) numa guerra civil.

Temer está cometendo o mesmo erro que Dilma Rousseff. A presidenta eleita pelos brasileiros também “…incorreu por vezes no erro dos muito astuciosos, que não crêem que o inimigo vá desferir-lhes um golpe na sua opinião imprudente e insensato.” (O Estado como obra de arte, Jacob Burckhardt, Penguin – Companhia das Letras, São Paulo, 2012, p. 69). O erro de Dilma, contudo, não produziu uma guerra civil. Os petistas acertadamente toleraram o golpe de 2016. Eles provavelmente concluíram que a intolerância social do usurpador e dos criminosos que ele enfiou nos Ministérios vai incendiar o Brasil contra o PMDB, PSDB, MP e Judiciário.  

O segundo tempo ainda não começou. Quando começar o sorriso dos vencedores em 2016 dará lugar às lágrimas irrelevantes daqueles que se desesperarão inutilmente. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

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