O Sertão no Mundo

Pontos, redes, culturas e meios de comunicação

No âmbito do evento Celebração das Culturas dos Sertões, realizado esta semana (5 a 9/05), em Salvador e Feira de Santana, pela secretaria de Cultura da Bahia foram incluídas quatro Rodas de Conversas. Convidado a participar de uma delas por Claudia Vasconcelos – dado o trabalho que realizei na TV com a série Bahia Singular e Plural – tive a felicidade de compartilhar uma tarde rica com um grupo bastante produtivo, criativo e estimulante.

Com o nome de O Sertão no mundo, esta roda, coordenada pela professora da Uneb Gislene Moreira, debateu aspectos e experiências dos sertões articulados em redes; os sertões e os meios de comunicação; e o cinema no Sertão: desafios da inclusão sociodigital, quando tratamos de vários aspectos, tendo em vista a centralidade da imagem – do audiovisual, sobretudo – na vida contemporânea.

Rede de rádios comunitárias

O radialista de Santa Luz, cidade da região sisaleira, Edisvânio Nascimento relatou a experiência de comunicação comunitária na região envolvendo 17 municípios e 16 emissoras de rádio. Vinculadas aos interesses de pequenos agricultores, de trabalhadores rurais e outros segmentos populares da região, as rádios comunitária enfrentam, de modo destemido, a ação repressiva da polícia e do governo que, ao invés de efetivar a regulamentação das emissoras, buscam calar as vozes de pessoas e grupos sociais que denunciam os descalabros locais.

As emissoras comunitárias surgiram na região na segunda metade da década de 1990, para dar vazão às denúncias de mutilações de crianças, trazendo o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti) para as roças de sisal e pedreiras da região, nas quais crianças menores de dez anos faziam trabalhos de adultos. Com o apoio do governo federal, do Unicef e do Movimento de Organização Comunitária (MOC), de Feira de Santana, os sindicatos de trabalhadores e outros associações locais criaram essas rádios para superar a censura que sofriam nas emissoras comerciais daqueles municípios.

O radialista conta que os sindicatos pagavam a esses veículos para divulgar assuntos de interesse dos trabalhadores, porém as rádios recusavam a divulgar as denúncias graves dado as suas ligações com os poderes econômicos e políticos locais; além disso era preciso informar sobre os direitos individuais e coletivos dos atingidos. A saída foi criar uma comunicação alternativa.

“As rádios comunitárias são da comunidade, com a comunidade e para a comunidade”, destacou Edisvânio, atualizando com propriedade um jargão dos movimentos populares de cultura do começo da década de 1960, feitos por estudantes universitários que prometiam conscientizar o povo para fazer a revolução brasileira, abortada pelo golpe civil-militar de 1964.

Infelizmente o poder central, apesar do fim da ditadura, ainda está distante de compreender positivamente esta comunicação comunitária. Graças às influências dos donos da mídia no Brasil, a legislação de rádios comunitárias foi criada com o objetivo maior de dificultar a implantação das emissoras do que buscar, de fato, a regulamentação.

“Há rádios que passaram dez anos aguardando a outorga, tentando fugir da polícia federal, locutores circulando em camburão da PF porque a radio denuncia os problemas do município; e os denunciados recorrem à Anatel e à PF para lacrar e apreender os equipamentos e promover agressões físicas e tortura psicológica”, denunciou Edisvânio.

O impacto sócio cultural dessas emissoras é enorme – elas divulgam, debatem e valorizam as culturas locais elevando a auto-estima dos seus praticantes. Tal repercussão deve-se ao fato de que, desde o início, grupos de habitantes da região fizeram oficinas de qualificação profissional para operar os equipamentos; e para aprender a fazer rádio; encontrar a melhor emissão vocal, etc., a fim de que o trabalho seja feito com um olhar e perspectivas mais adequadas e eficazes.

A experiência vai além, contudo, da criação de emissoras locais com essas características – eles criaram uma associação que congrega as emissoras comunitárias da região e através desta rede norteiam e articulam todo o trabalho. O radialista de Santa Luz comenta ainda que a constituição da Abraco e a criação dos territórios de identidade levaram a que eles percebessem a necessidade de aumentar ainda mais a qualificação das pessoas que operam as emissoras. A UNEB criou um curso de rádio e televisão em Conceição do Coité e muitos dos radialistas estão agora recebendo formação universitária.

 

Texto completo aqui: http://blogbahianarede.wordpress.com/2012/05/11/o-sertao-no-mundo-pontos-redes-culturas-e-meios-de-comunicacao/#more-3635

 
Redação

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