O sucesso da Operação Braços Abertos na Cracolândia, na visão da InSight Crime

Do Jornal GGN – A InSight Crime é uma organização bancada pela Open Society Foundations, ligada à America University, com o objetivo de estudar o crime organizado na América Latina.

A reportagem “A mudança da face da Cracolândia” visou analisar os impactos da política do prefeito Fernando Haddad no combate ao tráfico.

A reportagem relata as diversas tentativas fracassadas de resolver o tráfico na cidade. Várias operações policiais estaduais e municipais foram lançadas, tendo como alvo os usuários e traficantes de droga. As autoridades fecharam dezenas de hotéis e bares na área, acusando-os de serem fachada para o tráfico de drogas. No ano passado, o governo do Estado começou a implementar uma controvertida lei de tratamento compulsório, permitindo às autoridades ordenar a internação daqueles considerados em “estágio avançado de dependência”.

Desde a metade da década de 1990, vários prefeitos de São Paulo, bem como os governadores do Estado, têm procurado acabar com a Cracolândia. Várias operações policiais estaduais e municipais foram lançadas, tendo como alvo os usuários e traficantes de droga. As autoridades fecharam dezenas de hotéis e bares na área, acusando-os de serem fachada para o tráfico de drogas. No ano passado, o governo do Estado começou a implementar uma controvertida lei de tratamento compulsório, permitindo às autoridades ordenar a internação daqueles considerados em “estágio avançado de dependência”.

A primeira grande operação foi em 2005, a “Operação Limpa”, do então prefeito José Serra. “Longe de acabar com a Cracolândia, o esforço simplesmente empurrou o comércio de crack para uma meia dúzia de quarteirões a leste”.

A segunda tentativa foi em 2012, com Gilberto Kassab. Segundo a reportagem, “anunciada como um golpe de morte para implodir o mercado de crack a céu aberto no centro da cidade, a incrivelmente denominada Operação Sufoco foi descrita pelo coordenador de políticas de drogas da cidade como uma tentativa de cortar o fornecimento de drogas aos usuários”. O objetivo seria “causar “dor e sofrimento” o suficiente para forçá-los a procurar tratamento. 

Conseguiu apenas realacoar o comércio do craca.

A reportagem descreve a cultura local dos viciados.” Como em qualquer subcultura, há estatutos. Fumar na frente das crianças, chamadas de “anjos” na gíria da rua, é proibido, e roubar de estranhos é geralmente desencorajado, uma vez que atrai a atenção não desejada da polícia”, relatou o diretor de uma ONG entrevistado..

 A útlima tentativa foi o programa “De Braços Abertos” do prefeito Haddad.

“O programa é um esforço conjunto de 13 secretarias, incluindo as Secretarias da Cultura, do Trabalho e dos Direitos Humanos, mas está sendo acompanhado de perto pela Secretaria da Saúde. Inspirado pelo sucesso de programas similares na Holanda e Canadá, os cerca de 400 participantes da De Braços Abertos recebem US $ 6,50 por dia em troca de quatro horas de trabalho na limpeza de parques e outros locais públicos. Todos recebem refeições regulares e habitação em hotéis locais. Uma tenda instalada na área fornece cuidados médicos, entretenimento e um lugar para descansar aos usuários”.

A reportagem mostra que as maiores críticas da imprensa local foi o fato de, para entrar no programa, o usuário não precisar abandonar de imediato o vício. E descreve a política de “redução de danos”, que consiste em “fornecer condições básicas de vida e cuidados de saúde aos usuários, dizem, ajuda a limpar as ruas e, ao mesmo tempo, reduzir as mortes por overdose e propagação de doenças”.

De Braços Abertos tem sido bem recebido pelos participantes. De acordo com uma mulher no programa, que não quis ser identificada, foi “a primeira vez em anos que eu fui capaz de dormir direto por mais de algumas horas”. Viver nas ruas, ela diz, forçou-a a dormir com um olho aberto, constantemente observando seus arredores.

A reportagem diz que a imprensa local “está longe da verdade”, ao noticiar um suposto mercado de drogas a céu aberto. 

A InSight Crime visitou o local no início de abril para avaliar a realidade da situação, e notou uma forte presença estatal. Em um determinado dia, pelo menos duas dezenas de profissionais de saúde do programa de internamento do governo estadual estão em pontos de atendimento em todo o bairro. Além da De Braços Abertos, a prefeitura opera uma clínica na área. Os policiais, tanto da guarda municipal como da Polícia Militar controlada pelo Estado, fazem patrulhas de rotina pelas ruas e viaturas estão localizadas em esquinas particularmente problemáticas.

InSight entrevistou o tenente William Thomaz, chefe das operações da Polícia Militar, que se apresentou como firme defensor da operação.

 “O programa está realmente funcionando. Costumávamos ter entre 800 e mil  pessoas na rua. Neste momento, temos apenas 200, 250, mas à noite pode chegar até 350, 400. A ação do governo tem reduzido o número de pessoas aqui, há muito menos do que havia [antes do início do programa ] em dezembro.”

Luis Nassif

33 Comentários

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  1. Uma nova Cracolândia

    Nassif,

    Coitado do tenente William Thomaz.

    Este Fernando Haddad inventa cada novidade, agora foi a vez de olhar para o pessoal do crack, tá até gastando $$$ prá pagar a alguns dependentes por trabalhos comunitários, assim não dá.

    1. É ironia, né Alfredo ?

      “Coitado” do Cel William Thomaz ! ( ? )

      Coitado do Haddad ! Ele “peitou” a hipócrita direita paulistana, que “empurrou” estes coitados, para a Cracolñdia, e não aceita, que administradores corajosos e comprometidos, resolvam enfrentar o problema com seriedade e respeito aos excluídos, e sem a tradicional violencia, que outros ex-prefeitos usaram.

    1. Acabar com o vício ?

      Prezado, ninguem teve a utopia, de achar que acabaria com o vício.

      O que está se tentando fazer, é dar oportunidades destes dependentes tratarem-se adequadamente, sendo assistidos pelos serviços sociais, e tendo uma “porta aberta” para a ressocialização, via trabalho remunerado, assistencia médica e garantia de uma alimentação dígna, e um lugar para repousar, fora das ruas, e a perspectiva de sairem da Cracolandia, senão “limpos” porem com o horizonte visível.

  2. A OPEN SOCIETY é inteiramente

    A OPEN SOCIETY é inteiramente financiada por George Soros que tem inumeras causas a que dedica grandes recursos

    tempo e inteligencia.

      1. E dai? Em todo o mundo,

        E dai? Em todo o mundo, inclusive no Brasil, filantropia é deduzida em parte dos impostos. Mesmo assim, no Brasil é raro um milionario fazer filantropia.

        1. Sei quem é Soros

          Ok, Araujo. Sei que não só ele.

          E porque o destaque, o elogio fácil e gratuito a quem ganha zilhões manipulando a bolsa e o mercado, a base da miséria de populações mundo afora e que, destina hipocritamente somente uma infima parte, mesmo que deduzida nos impostos, à beneficiencia?

          Desculpe, não sei se foi proposital, mas soou como idolatria ou bajulação…

          Não leve a mal e sei que não te importa, somente manifestei a minha discordância.

      2. O que tem a ver? Se for

        O que tem a ver? Se for assim, todo rico está proibido de tentar fazer alguma coisa pelo fantasma da iputação da hipocrisia?

      3. Ser filantrôpo, seria hipocrisia ?

        Tony, esta é uma prática senão dígna de aplauso, porem que deve ser aceita, em cidades aonde o orçamento não permite grandes passos no sentido de fazer o que é dever do Estad, então ironizar a quem investe nesta área social, e desconta tais investimento nos impostos devidos, é bem vinda. Ou terias sugestão melhor ?

        1. Filantropia?

          Rai,

          Acho qu você também não entendeu a minha ironia…

          Sabe quem  é o Soros? Sabe como ele faz dinheiro? Soros de filantropo não tem nada, nada…

          Uma informação atual (que talvez não saiba) : ele e um conjunto de investidores estão por trás, patrocinando o golpe fasci-nazista na Ucrânia, provocando tantas mortes, a divisão quase definitiva do seu estado e o um país sumergido numa guerra civil.

          Dinheiro, vindo do sangue e da miséria promovidos para a sua obtenção, é benvindo e digno de exaltação quando destinado infimamente para filantropia? E ainda mais abatidos de impostos?

          E se fossem para os impostos, teoricamente também não seriam corretamente utilizados pelo governo , no caso o americano?

          Essa filantropia merece destaque e elogio? Prefiro melhor quem sabe a de Bill Gates…

          E para concluir, você ainda não conhece qual é a do Araujo?

          Releia minha critica a ele.

  3. MÍDIA INTERNACIONAL VÊ HADDAD VENCENDO O CRACK

    http://www.brasil247.com.br:

     

    Programa Braços Abertos, que capacita, emprega e remunera dependentes de crack em troca do abandono do vício, dá certo; índices de recuperação na Cracolândia, no centro de São Paulo, são animadores; criada pelo prefeito Fernando Haddad, ação inédita de diferentes setores está solucionando problemas acumulados em 15 anos de existência consentida da área para uso e comércio da pedra; jornal canadense Globe and Mail, de Toronto, publica reportagem especial em que elogia abordagem e resultados; lição paulistana serve para outras grandes metrópoles com o mesmo problema; “O programa fez uma grande diferença na sensação das ruas da Cracolândia”, anotou a jornalista Stephanie Nolen; confira

     

    6 DE MAIO DE 2014 ÀS 19:12

     

    247 – O modo como a Prefeitura de São Paulo está lidando com a Cracolândia – a zona praticamente livre para o comércio, circulação e uso de crack que existe a 15 anos no centro da cidade — está despertando a curiosidade, e os elogios, da mídia internacional. No último sábado, o prestigioso Globe and Mail, de Toronto, no Canadá, publicou reportagem especial sobre a cracolândia e a abordagem praticada, desde o início do ano, pelo programa Braços Abertos.

    De modo integrado, o Braços Abertos oferece aos viciados que se dispõem a larga a droga capacitação profissional, trabalho por quarto horas diárias, remuneração e atenção à saúde, bem como apoio para moradia. “O programa fez uma grande diferença”, anotou a jornalista Stephanie Nolen. O prefeito Fernando Haddad é reconhecido como a autoridade que melhor desenvolveu um plano para solucionar o problema, servindo de exemplo para outras grandes metrópoles mundiais.

    Confira:

    O crack é rei no Brasil: o que
    São Paulo está fazendo a respeito

    Stephanie Nolen

    26/04/2014, no Globe and Mail, Canadá

    As pessoas que vivem aqui chamam de Cracolândia: uns poucos quarteirões sem árvores no coração de São Paulo, a maior cidade da América do Sul. O nome é uma homenagem sombria à Disney – um lugar, dizem, para o qual se vai para fazer o que você quiser.

    Mas não há mágica nesse reino: em vez disso, algumas centenas de pessoas vivendo nas ruínas de velhos prédios e nas calçadas; tendo por única mobília colchões manchados e pilhas de trapos. Sua pele é de uma cor uniforme de carvão, mistura de queimadura de sol e anos e anos de sujeira. No sol quente do meio-dia, eles sentam nos meio-fio, fumando crack em cachimbos improvisados e trocando uma conversa muda, com ocasional explosão de gargalhadas. O vento levanta redemoinho de sujeira e sacos plásticos: eles observam, imóveis, enquanto circula em torno deles.

    A Cracolândia existe há 15 anos, pelas estimativas de seus habitantes. Sua população chega a 1.500 pessoas. E até poucos meses atrás, a vida lá seguia uma triste rotina. A polícia aparecia de vez em quando, prendendo alguns dependentes e espantando outros, que partiriam num desfile mambembe e desesperado, agarrando seus pertences modestos e seus colchonetes, perambulando pela cidade por um dia ou dois até que os agentes da lei passassem a prestar atenção em outra coisa e eles pudessem voltar à suas calçadas familiares.

    Então, no final do ano passado, a cidade lançou uma nova política pública ousada para recuperar a Cracolândia em estilo tipicamente brasileiro: com pouca base empírica, mas com convicção de que os cidadãos de uma superpotência emergente merecem mais. A iniciativa é chamada de Braços Abertos e consiste em um esforço de muitas frentes para dar moradia e emprego para os dependentes e acabar com sua “exclusão social” numa tentativa de ajudá-los a se livrar das drogas.

    “Essas pessoas são as mais miseráveis entre as miseráveis”, diz Myres Cavalcanti, coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da cidade de São Paulo. “E o Estado brasileiro tem recursos para cuidar delas.”

    Estima-se que existam um milhão de usuários de crack no Brasil¬ – a maior população do mundo – e já foram implantadas uma série de programas diferentes para atacar o problema das drogas sem muito êxito. A questão em São Paulo hoje é: um programa baseado no instinto e força de vontade consegue mudar as coisas?
    Cura por meio do trabalho — Há décadas os norte-americanos vêm se preocupando com a deterioração urbana causada pelo crack. Opiáceos e meta-anfetaminas têm tomado as manchetes (e grande parte da atenção da saúde pública). Mas, como o prefeito de Toronto deixou claro, a mistura barata e ordinária da cocaína nunca foi embora: continua amplamente disponível nas ruas tanto na América do Norte quanto do Sul.
    No Brasil, no entanto, o crack não é só amplamente disponível. O crack é rei.
    Parcialmente por causa de sua proximidade com os fornecedores (uma enorme e porosa fronteira com países produtores como a Colômbia, Bolívia e Peru), a cocaína há tempos domina o mercado de drogas aqui; comparativamente, há pouco uso de opiáceos injetáveis como a heroína. E o crack é o barato fácil de produzir mais adequado para os usuários de drogas de baixa renda do Brasil (uma pedra custa em torno de $ 2, comparado ao $ 40 da heroína). As gangues enraizadas nas anárquicas cadeias brasileiras dirigem o comércio.
    Toda cidade grande hoje em dia tem uma ou várias Cracolândias. No entanto, nenhuma atraiu a atenção como a original, em São Paulo – localizada bem no coração da capital cultural e financeira do país. Da última vez que os dependentes ficaram sob perseguição policial, ele protestaram acampando diante da principal sala de concerto de São Paulo, de maneira que a elite de smoking tinha que desviar deles no seu caminho para o concerto. Moradores de classe média também alegam que a Cracolândia aumentou a criminalidade. As estatísticas policiais não confirmam isso, mas quase todo mundo tem medo de andar pelas redondezas.
    De maneira geral, o álcool causa mais danos sociais e financeiros em São Paulo, diz Cavalcanti, mas foi esse acampamento que deixou todo mundo de cabelo em pé em relação às drogas.
    “É chocante. Como se pode ter uma Cracolândia no meio da cidade, com pessoas usando drogas à luz do dia?”, ela afirma. “É como um bairro perdido o meio da cidade.”
    O Brasil tem uma política pública federal anti-crack (Crack é Possível Vencer), voltada para educação pública para desencorajar as pessoas a começarem a usar e coibir as vendas; o governo financiou leitos em instituições psiquiátricas para pacientes em tratamento.

    Mas o governo também manda usuários para clínicas de recuperação, em sua maioria dirigidas por organizações católicas ou evangélicas, onde o tratamento é baseado em orações e cura pelo trabalho manual. Bruno Gomes, um partidário da redução de danos que trabalha na Cracolândia, diz que essas instituições em geral carecem de pessoal treinado para tratar de dependência química e as pessoas entram e saem de lá entre 15-20 vezes sem qualquer mudança no uso da droga.

    O Governo do Estado (a cidade de São Paulo é sua capital) também tem um programa para dependentes, que estabelece um dispositivo legal permitindo que as famílias forcem os dependentes a tratamentos. Esse programa é popular entre pais desesperados – aproximadamente 30 pessoas por dia se inscrevem (ou são inscritas) – mas raramente resulta em uma solução permanente. Os usuários de droga conseguem ajuda enquanto estão na instituição, mas são dispensados sem moradia ou emprego.

    Então, em janeiro passado, o recém eleito prefeito de São Paulo, um acadêmico de esquerda chamado Fernando Haddad, decidiu tentar algo diferente.

    Braços abertos — A prefeitura assumiu uma série de hotéis baratos em torno da Cracolândia – estabelecimentos que perderam clientela e comércio no bairro – e instalou 400 dependentes em acomodações de longo prazo. Também armou uma tenda nos limites do fluxo, o cambiante campo de colchões onde os dependentes circulam, penduraram uma faixa da operação Braços Abertos e instituiu um exército de assistentes sociais

    Eles oferecem cuidados de saúde básica. Três refeições diárias. Um chuveiro. Ajuda para se registrar no conjunto de programas sociais que, em teoria, são feitos para auxiliar pessoas como essas, mas na prática são subutilizados pelos dependentes, em geral são eliminados pela falta de endereço permanente ou de documentos exigidos pela burocracia para inscrição. Se os usuários de drogas requisitarem tratamento, eles são levados para uma unidade de tratamento ambulatorial na mesma rua.

    E eles estão empregados, por quatro horas diárias em serviços leves – como a varrição das calçadas, poda de jardins ou fazer café em repartições municipais.

    O programa de São Paulo tem alguns elementos em comum com outras abordagens experimentais no tratamento da dependência de drogas e doenças mentais relacionadas. Um programa em Amsterdam emprega alcoólicos crônicos como varredores de rua e paga sobretudo com doses de cerveja; o programa Insite de Vancouver fornece para usuários de drogas injetáveis um lugar seguro para consumir a droga e os aproxima dos serviços de saúde e outros serviços sociais.

    Ainda assim, muitas pessoas em São Paulo duvidam do Braços Abertos. Quando foi lançado, “eles olharam para a gente como se fôssemos malucos, dando casa e comida para zumbis, para pessoas que não querem mais nada da vida”, diz a psicóloga Mirmila Musse, que trabalha no programa.

    Ela e seus colegas ganharam financiamento da prefeitura com a promessa de que o programa se pagaria, apenas com a redução das internações em hospital – e que a criminalidade cairia. Há também uma pilha de estudos que demonstram que o melhor uso de recursos para ajudar pessoas com doenças mentais crônicas é moradia segura.

    Mas a polícia acampou em todos os cantos da rua em torno do Braços Abertos; eles deixam os usuários em paz, mas a câmera montada num gigantesco poste filma todas as idas e vindas.

    Há uma sensação de que eles estão apenas esperando para a coisa toda dar errado, assim eles podem voltar às prisões, Musse reconhece.

    Uma saída — È muito cedo para dizer se a aposta do prefeito Haddad vai dar certo.

    Mas pessoas no programa parecem surpresas e encantadas em partes iguais com as mudanças em seus destinos; Roberto (ele usa apenas o primeiro nome) tem 37 anos e vive na rua desde os 11; é o típico perfil de um dependente aqui; imigrante pobre do nordeste. Ele usou crack por muito tempo e conseguiu segurar as pontas; ele tinha uma esposa e uma empresa de conserto de janelas. Mas acabou perdendo tudo e foi parar no fluxo.

    Agora, no entanto, Roberto tem um apartamento para si. Ele ganha R$ 225 (U$ 100) por mês varrendo as ruas e está economizando para comprar ferramentas e recomeçar seu negócio de conserto de janelas. Recentemente, ficou noivo de uma mulher também participantes do Braços Abertos. Ambos estão em tratamento, Roberto diz que não está usando drogas.

    “Sem o programa nada iria mudar – você usa o dia inteiro, a polícia te persegue e daí você fica bravo e faz coisas que não deveria e então você não consegue se livrar das drogas”, ele diz. “Mas com esse emprego, eu tenho um horário, uma rotina – uma estrutura. Eu levanto de manhã tendo um lugar para ir. Tenho planos de logo sair daqui.”

    Muitas das 400 pessoas que aderiram ao Braços Abertos num dia típico consideram a moradia segura, o emprego e a sensação de voltar a um mundo que parecia fechado a grande mudança nas suas vidas.

    “Uma grande parte não está usando, outros diminuíram de 20 para 5 pedras por dia – essa é uma diferença brutal na vida dessas pessoas em três meses”, diz Cavalcanti. Setenta por cento daqueles a quem foi fornecia moradia começaram tratamento, ela afirma, e taxa de adesão é bastante superior em relação a modelos de tratamento anteriores.

    E o programa fez uma grande diferença na sensação das ruas da Cracolândia. Ainda é surreal: à sombra de uma gigantesca estação de trem neocolonial, a rua está cheia de gente fumando crack. Muitos deles parecem derrotados. Há um fedor de urina velha e restos de comida nas calçadas. Mas não parece mais ameaçador. Os animados assistentes sociais andam com determinação sobre tudo isso e um recém empregado dependente cai na risada, exortando os colegas a serem mais caprichosos.

    Benedikt Fischer, diretor do Centre for Applied Mental Health and Addictions da Universidade Simon Fraser University de Vancouver, estudou longamente o problema do crack no Brasil. Ele diz que não há dúvida de que dar moradia segura e trabalho vai “ajudar a estabilizá-los”.

    “Mas a dependência de crack é um problema de dependência complexo, que interfere no cérebro de maneira nociva e permanente. Eles terão recursos para lidar também com isso?”A epidemia de crack no Brasil é um “sintoma da extrema marginalização”, ele diz, e o país não está resolvendo os problemas sociais que o alimentam.

    Gomes vê essa sensação de marginalização todos os dias. Os clientes que sua organização de redução de danos tenta ajudar são muitas vezes ex-presidiários, que não conseguem trabalho, muitos vindos da área rural, poucos com alguma escolaridade quee foram totalmente deixados de fora do crescimento econômico rápido aqui em recente anos.

    Esses cliente especulam se novo esforço para ajudá-los não estaria mais relacionado com retirá-los de uma área imobiliária nobre do que com uma preocupação genuína com seu bem-estar. “Todo mundo no programa se pergunta se ele não vai acabar logo após a Copa do Mundo”, diz Gomes.

    Por enquanto, ainda é uma prioridade da administração. O prefeito Haddad passa pelo local em um carro com insulfilm vez ou outra e às vezes supreende a todos descendo do carro para perguntar como anda o programa para dependentes e assistentes sociais, diz Musse.

    Leon Garcia, diretor de prevenção da Secretaria Nacional de Políticas Sobre Drogas do Ministério da Justiça em Brasília, tem observado o programa com interesse. Para ele, o programa reflete a evolução das atitudes brasileiras em relação às drogas nos últimos anos.

    “Você tem de gerar reação social – um lugar para morar, lugar para trabalhar, a possibilidade de voltar a estudar. É uma oferta de tratamento, e é uma oferta de cidadania, e não se está dizendo que você tem que cumprir uma antes de ter a outra.”

    “Isso vai parar gradualmente o uso de crack nas ruas? Não podemos afirmar isso. Mas estamos à espera de outras cidades com programas que tenham a mesma abordagem para ver.”

     

     

  4. De onde vem essa reportagem?

    De onde vem essa reportagem? No site não há a menor menção à tal reportagem, alguém tem o link?

    Confesso que no site não há nada…

    Há imagens desta maravilha?

    As imagens que vejo são de tráfico a céu aberto, principalmente nos dias de pagamento do “trabalho”.

    Que tal uma reportagem com os mordores legais dos arredores par averificar a tal melhora.

    Aguardo o link…

     

     

      1. Muito obrigado pelo

        Muito obrigado pelo link.

        Como qualquer programa, começa em pequena escala, com bastante marketing e apologia à genealidade.

        Passado um tempo, a verdade vem à tona.

        Sugiro uma voltinha de surpresa pela região, para comprovar o sucesso sem filtros, e depois postar as impressões, inclusive perguntando aos moradores da região o quanto eles acham que vida melhorou…

         

        1. Se ainda está em pequena

          Se ainda está em pequena escala coo vc diz porque dessa ansia em não ver nada na vizinhança? Esse é o típo comportamente higienista que não tem coragem de mostrar-se no total. No fundo o que vc quer para essas pessoas é vala funda, como muitos que não o dizem porque é feio e porque são “Cristãos”.

        2.  
          Mauro me desculpe, não

           

          Mauro me desculpe, não seria melhor ser mais direto? Não vejo qual sentido vosmecê ficar dando voltas. A impressão que passa, é que se trata de uma dissimulação para sacar da algibera a drágea de pessimismo anti PT.

          Orlando

  5. Cracolandia em fase de extinção

    Muito bom este programa,realmente diminuiu o numero de pessoas abandonadas pela sociedade e nas mãos do vício,

    Eliminar o tráfico é um outro problema e que precisaria de Leis que liberassem  as drogas vendendo-as oficialmente e cobrando impostos diretos sobre o seu uso assim, teríamos o controle dos drogados e sua possível cura.

    Liberar o jogo também é necessário para acabar com o ganho particular sobre os viciados desta outra modalidade. Porque só Las Vegas pode ganhar dinheiro limpo com o jogo e as nossas cidades brasileiras não podem?

    Em suma tudo o que é proibido é explorado pelos particulares ilegalmente, legalizemos tudo e só então retomamos o contrôle sobre os viciados e teríamos lucro através de impostos para aplicar em programas de recuperação.

  6. Consumo de drogas

    Embora aparentem abrangência e esforço com investimentos significativos em abordagens multidisciplinares sobre as drogas ilegais, o insucesso e a frustração de pessoas bem intencionadas mundialmente decorre de não remover a causa da ansiedade e da compulsão localizada nos hábitos alimentares dos dependentes.

    Eles consomem exclusivamente produtos ricos em alcalóides causadores de dependência, criadores de ambiente celular ácido por fermentações, o qual pede e aceita as drogas pq o consumo diário de sacarina, cafeína, guaranina, teobromina, presentes no açúcar branco, nos refrigerantes, no café e no chocolate, possuem afinidade química com as drogas legais e ilegais.

    E mesmo qdo estes dependentes ingerem o q pode ser considerado alimento, costuma haver carência absoluta de fibras e de nutrientes; as proteínas são de 2ª qualidade biológica; as gorduras são saturadas e trans.

    Se os dependentes forem bem orientados e ajudados pedagogicamente na obtenção de hábitos sadios q sejam prazerosos, práticos, econômicos, simples e fáceis, nos quais sejam valorizados a combinação dos ingredientes, o balanceamento dos grupos alimentares, o teor adequado de fibras, gordura e açúcar, a ausência de lactose e de colesterol, eles serão naturalmente nutridos e desintoxicados havendo nesta soma de providências saudáveis a criação de ambiente orgânico para rejeitar quaisquer drogas pq seu planejamento biológico foi bem atendido. 

    Nossa experiência com a troca de hábitos alimentares nocivos tem provocado abandono espontâneo de substâncias legais e ilegais, até mesmo sem a sua abordagem pq desconhecíamos a dependência.

    Porém, estes casos chamam a nossa atenção pela facilidade e rapidez do abandono, sem síndromes de abstinência e recaídas.

    Biólogo, Mestre em Nutrição Biomolecular, Mestre em Qualidade de Vida, presidente da SOCIEDADE BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO & QUALIDADE DE VIDA.

     

    1. O Nassif deveria elevar o

      O Nassif deveria elevar o comentário do Mestre Fajardo

      à condição de post. Daria excelente discussão e aprenderíamos

      muitissimo com ela. É a primeira vez que leio um comentário

      questionando a alimentãção no tratamento de dependentes quimicos.

    2. Hábitos alimentares

      Augusto Fajardo,

      Obrigado pela aula.

      Como esta sua opinião é notoriamente pública, entendo como estranho o fato desta sua já bem sucedida abordagem, a  de adoção de critérios para uma correta alimentação, ainda não constar dos programas oficiais que visam a população dependente de drogas ilegais. 

      Imagino que o blogueiro venha a elevar este seu comentário, pois assim muitos dos que trabalham nesta área específica  terão a oportunidade de tomar conhecimento deste seu ponto de vista. 

      Um abraço

       

       

  7. Ocorre se houver perseguição

    Ocorre se houver perseguição aos produtores e distruibuidores, o preço do crack consome tudo que a prefeitura paga não sobronda nada para quem gastem com comida

  8. Isto é alguma gozação ??? O

    Isto é alguma gozação ??? O SPTV de ontem mostrou CENTENAS de drogados vagando pela área, não havia nem espaço para o trânsito dos carros do “Haddad”. Ontem isto estava acontecendo, fora as ameaças de “tiros na cabeça” feitas pelos fanáticos do PT será que teremos que proteger os olhos e ouvidos ???

    1. Caro Pato,
      Busquei nos

      Caro Pato,

      Busquei nos arquivos do SPTV de ontem (10/05) e anteontem (09/05) e não encontrei o video que você mencionou. Poderia mandar o link pra gente ?

      abraços!

    2. “Ave” não vê, o que os normais vêem.

      Prezado, como o seu cérebro deve ser similar(ou menor)que o da ave, da qual vc.”rouba” o nome, vc. deve ter visto a reportagem do SPTV que mostrava realmente uma rua central de São Paulo,onde não havia espaço sequer para os carros dos paulistanos circularem, porem vc. não ouviu que eram pessoas que deixaram pra comprar presentes para o dia das mães, na última hora. Um conselho: assista a noticiosos sérios(os da Globo, não são) e procure um oculista, urgente. 

    3. Comm perdão as aves , voce tá

      Comm perdão as aves , voce tá mais prá urubu com ares de tucano ressentido

      que qualquer  outra coisa. Ou na melhor das hipóteses  é funcionário do DENARC,

      a casa tá caindo irmão?

  9. Um passo de cada vez.

    Concordo com a opinião do companheiro Alfredo Machado, que sugeriu ao dono do blog, que elevasse o explicação científica do Prof. Augusto Fajardo a post, para que este assunto fosse debatido à exaustão, pela importancia que tem.

    Tambem é verdade, que a Prefeitura de Sampa, ainda não conseguiu grandes progressos contra este “câncer” que corroi boa parte de nossa população que vive nestes guetos da cidade, empurrados que foram pra lá, pelas famílias(ou falta delas) e pelo pouco caso, com que eram tratados, pelas adms. anteriores.

    O que este pool de Secretarias Municipais estão fazendo, é atacar o problema na sua raíz, ou seja, não transformar estes indivíduos em adversários, e sim ressocializa-los, com dignidade e dando-lhes condição de recuperarem suas cidadanias perdidas, com um amparo social humanitário e atencioso, desta forma: Garantindo-lhes uma alimentação, balanceada, que se não é a “sonhada” e recomendada pelo Prof. Augusto, tambem não é a pior das refeições, e importante, é “bancada” pelos recursos orçamentários da Secr. do Bem Estar Social, que é ínfima e insuficiente para vôos maiores;

    Alojando-os em hotéis da região, sem separa-los dos lugares aonde fincaram raízes,e próximos dos seus poucos amigos e/ou conhecidos;

    Fornecendo-lhes a documentação básica, e a reentrada no mercado de trabalho, mesmo braçal, porem dignificante, alem da garantia de que pequenas infrações e contravenções à CLT, não serão punidas;

    Permitindo que aqueles dependentes químicos mais extremos, possam eventualmente voltar a usar a droga, desde que acompanhados por profissionais médicos e assistentes sociais humanos.

    Seria utopia, pensar que este programa, fosse ser um sucesso absoluto, em tão pouco tempo, quando sabemos que as tentativas anteriores(e foram muitas)não conseguiram chegar ao estágio, que chegamos e estamos galgando “degraus” importantes, nesta busca de uma solução que tire-os não somente das ruas, mas tambem do vício e dos crimes que o vício leva-os a cometer.

    É assim, dando um passo de cada vez, subindo um degrau de cada vez, recuando quando for absolutamente necessário, porem jamais desistindo do programa, que obteremos os resultados, que virão no devido tempo, sem violencia contra o “sujeito ” desta equação, e sem soluções mágicas.. 

  10. Uma sugestão

    Já que todo mundo comenta, mas parece que ninguém vai no local ver a atual situação (eu morei no centro por 6 anos, até março deste ano, e infelizmente via essa tragédia todo dia), assistam ao vídeo abaixo. Ignorem os comentários raivosos da “equipe” do sbt, vejam apenas as imagens.

    Por experiência própria, posso afirmar que a cracolândia continua firme e forte, talvez um pouco mais dispersa (para os lados da sé, na “ferradura” da 23 de maio, na região da praça da república), mas ainda firme:

     

    https://www.youtube.com/watch?v=PjrrFjiFJaI

     

     

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