O texto de Hélio Schwartsman não ajuda em nada nossa democracia, por Carolina Maria Ruy

Tal radicalismo remete à agitadores infiltrados, do tipo Cabo Anselmo, que insuflou as bases, instigando e justificando a repressão que estava por vir.

O texto de Hélio Schwartsman não ajuda em nada nossa democracia

por Carolina Maria Ruy

No texto Por que torço para que Bolsonaro morra, publicado na página 2 do jornal Folha de São Paulo, dia 8 de julho, Hélio Schwartsman, membro do Conselho Editorial do jornal, defende, com base em uma pretensa argumentação “lógica”, fundamentada no que ele entendeu de uma corrente filosófica chamada Consequencialismo, a morte do presidente Jair Bolsonaro.

A notícia de que o presidente foi contaminado pelo coronavírus parece ter animado o jornalista a escrever este texto desastroso. Tão logo o resultado do exame de Bolsonaro foi divulgado por ele mesmo na CNN, começou a bombar nas redes sociais postagens em tom de humor com os dizeres “força covid”. Até aí nada que tenha ultrapassado os limites das guerras de memes e hashtags, nada muito sério, nada que apontasse para um plano de tomada de poder à la Brutus.

Neste contexto, entretanto, o jornalista falastrão, que da coragem e determinação de Brutus parece não compartilhar nada, sentiu-se à vontade para ir mais longe e defender seriamente, na página nobre do maior jornal do país, a morte do presidente eleito nos parâmetros da nossa democracia.

Seu artigo diz coisas como:

“O sacrifício de um indivíduo pode ser válido, se dele advier um bem maior”;

“A morte do presidente torna-se filosoficamente defensável, se estivermos seguros de que acarretará um número maior de vidas preservadas”;

“Numa chave um pouco mais especulativa, dá para argumentar que a morte, por Covid-19, do mais destacado líder mundial a negar a gravidade da pandemia serviria como um “cautionary tale” de alcance global”.

Eu também não estou satisfeita com o governo. A eleição de Bolsonaro em outubro de 2018, e a retumbante derrota da esquerda naquele pleito, me deixaram profundamente atordoada.

Mas não é por isso que vou sair por aí defendendo a morte de quem quer que seja. Precisamos lidar com nossas perdas e procurar melhorar. A democracia é um exercício de convivência social e política. São os ditadores que matam os adversários, não os democratas! E, é bom lembrar, não estamos atravessando nenhum processo revolucionário. Não há indícios disso.

O texto de Hélio Schwartsman não ajuda em nada o desenvolvimento e o aprimoramento da nossa democracia. Ele é um desserviço ao processo civilizatório. Tal radicalismo remete à agitadores infiltrados, do tipo Cabo Anselmo, que insuflou as bases, instigando e justificando a repressão que estava por vir.

Dito isso, fica a questão: qual é a democracia que a Folha defende?

Carolina Maria Ruy é jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical

Redação

17 Comentários

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  1. Também não atrapalha , um texto , muito barulho por nada.
    No dia seguinte está embrulhando peixe.
    Seu Jair queria dona Dilma morta.
    Democracia tem de viver com a besteira , faz parte , ditadura é que não permite a bobagem.

  2. Bom, tudo muito bom, tudo muito bem. Democracia derrotou esquerda? Só se foi na Esdrulábia Oriental do Sul. Aqui foi golpe mesmo. Liberdade com adjetivo ou complemento nominal não é liberdade. Tanto a Folha como a presidência são farinha de vários sacos da mesma farinha. Por fim, eu não vou ficar com a boca escancarada cheia de dentes esperando porrada para revidar com florzinhas. Cada um deveria saber dos seus inimigos. Abraços.

  3. Que texto desastroso é esse assinado por Carolina Maria Ruy… Incapaz de se aprofundar num debate filosofico e politico sobre a questão. Helio schwartsman argumenta o porquê de sua torcida e em nenhum momento em seu artigo incentiva mortes ou assassinatos. Alias, quem tem feito esse trabalho é justamento o tal do presidente da republica…

    1. Não se separa a criatura de seu criador. Hélio Schwartsman é um conservador que namora com o reacionismo. Em sua coluna na Folha se dedica há anos a assumir posições que, por argumentos falhos, defendem ideias no mínimo controversas. Seus textos precisam ser lidos sob essa ótica.

  4. Discordo. É preciso desafiar o tirano a todo momento. Caso contrário, corre -se o risco de se acostumar com a autocensura privada legitimando assim a censura institucional.

  5. “… A eleição de Bolsonaro em outubro de 2018, e a retumbante derrota da esquerda naquele pleito, me deixaram profundamente atordoada”.
    Quando o Bolso foi esfaqueado a Globo e outras mídias viram ali uma oportunidade de enfraquecer os candidatos de esquerda. Pensando, que assim o seu candidato, de direita, cresceria na opinião pública, uma vez que o Mito era um out-side. Tratou tudo como uma grande conspiração contra o Bolso, bem como perdoou-o de não ir para os debates eleitorais e outras coisas mais. A mídia, os grandes jornais e a Globo, permitiram que o Mito assumisse o governo, pois havia um inimigo a ser destruído, o PT. Não, o psol ou pdt ou qualquer outro, mas sim o PT.
    Nesse sentido, ela foi derrotada duas vezes, pois o PT não morreu e criou um inimigo, o Mito, bem furioso.

  6. Completamente equivocado o comentário.
    O jornalista Hélio Schwartsman foi até chamado de covarde, apenas por fazer uma análise lógica das consequências da morte do presidente, se ela viesse a ocorre.
    Em nenhum momento seu texto sugere matar Bolsonaro.
    As bases de bolsonaro acreditam em terra plana e cloroquina, portanto, é perfeitamente previsível não tenham capacidade de entender o que foi escrito. Esse não deveria ser o caso da jornalista que assina este texto

  7. Operação Valquíria

    Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

    A Operação Valquíria (em alemão: Unternehmen Walküre) era um plano alemão criado durante a Segunda Guerra Mundial com o propósito de manter o governo do país funcionando em caso de uma emergência, através da mobilização do exército reserva da Alemanha para assumir o controle da situação caso houvesse algum tipo de levante entre a população civil alemã ou uma revolta de trabalhadores estrangeiros (a esmagadora maioria escravos trazidos dos territórios ocupados) em fábricas dentro do país.

    Os generais do exército alemão (Heer) Friedrich Olbricht, Henning von Tresckow e o coronel Claus von Stauffenberg modificaram o plano com a intenção de usar a força de reserva alemã para tomar o controle das cidades do país, desarmar a SS e prender a liderança nazista após o assassinato do ditador Adolf Hitler no Atentado de 20 de Julho. A morte de Hitler (ao invés de simplesmente prende-lo) era necessária para desprender os soldados e oficiais alemães do seu juramento de lealdade pessoal a ele (Führereid). Em julho de 1944, a operação foi executada mas terminou em fracasso, com os conspiradores sendo presos e muitos deles executados.

  8. O texto de Carolina Maria Ruy não ajuda em nada.

    Então, as alternativas seriam:
    1) corrente de oração para as coisas melhorarem;
    2) pensamento positivo;
    3) torcer a favor;
    4) nota de repúdio;
    5) vestirmo-nos de branco, ir para o vão do MASP e entoar cantigas de roda;
    6) chamar o Suplicy para o vão do Masp;
    7) Depois da ciranda no vão do Masp, descer a Consolação com velas acesas;
    8) Na Roosevelt, todos de mãos dadas, gritam em uníssono: “Ninguém solta a mão de ninguém”!!
    9) Ora, tenha dó.

    Imagine em pleno 1944 o coronel Stauffenberg propondo aos colegas generais manter o Fuhrer vivo. [“A morte de Hitler (ao invés de simplesmente prende-lo) era necessária para desprender os soldados e oficiais alemães do seu juramento de lealdade pessoal a ele (Führereid)”]

    Estamos na mesma situação, senão pior.

    1. Perfeita a colocação do Luis Fernando. Hitler tinha que ser morto para que a Alemanha fosse libertada. Aqui no Brasil só a libertação do país nos permitirá respirar ar fresco. A Sra. Carolina Maria Ruy é de uma ingenuidade lamentável e só vem atrapalhar as coisas.

  9. Só uma saída é possivel. A Folha tem de expulsar Hélio do jornal.

    Não que a folha não mereça ter ele como membro do conselho editorial.

    Mas os leitores não merecem.

    Fico imaginando se fosse um ministro do STF que estivesse doente e ele escrevesse uma ignonímia dessa.

  10. Não deixa de ser uma situação interessante. Mas NADA é mais importante que ficar de olho nas atividades dos Ministérios, das Secretarias, do Parlamento. O resto é polêmica de revista de fofoca, que chama a atenção, consome seu tempo (e seu dinheiro, afinal, energia e internet custam caro), é divertido mas te mata subjetivamente até você ser um idiota sem remédio.

    Cito de memória um escritor norte-americano: o pacifismo e o sistema utópico não correm a nosso favor. Mas o insuspeito Frantz Fanon também escreveu: o colonizado quer as terras do colonizador, suas posses e até mesmo a sua mulher.

    O que há de verdadeiro não é o que está escrito ao pé da letra. Submetido a condições aviltantes, não é impossível que as fantasias terríveis ocorram nos piores momentos. Então, não é a morte que se deseja, mas a restituição daquilo que lhe foi retirado. Do colonizado não é preciso apenas tirar suas posses, é preciso tirar cada cada ideia e inocular-lhe o veneno, colocar o colonizador inteiro na cabeça do colonizado (deve ser isto o que Sartre quis dizer quando, no conflito entre as consciências, uma quer dominar a outra, mas não apenas isto, ser A consciência do outro, NO outro)

    Somente a título de exemplo, no período em que Margaret Thatcher foi Primeira-Ministra do Reino Unido, não foram poucas as músicas que falavam sobre as consequências de seu “trabalho neoliberal”. De bandas declaradamente socialistas com público skinhead (sim, isto existe e mais do que você imagina), bandas punk, gente como Billy Bragg e Paul Weller (dando uma mãozinha apoiando a dramática greve dos mineradores de 1984), Heaven 17, The Specials, The Blow Monkeys. O número é grande.

    Fazendo um pulo temporal. Quando Margaret Thatcher morreu, em 2013, o cantor Morrisey escreveu o seguinte:

    “Todas as ações dela eram carregadas de negatividade; ela destruiu a indústria de manufatura britânica; ela odiava os mineiros, ela odiava as artes, ela odiava aqueles que lutam pela independência da Irlanda e permitia que morressem, ela odiava os britânicos pobres e nunca fez algo para ajudá-los, ela odiava o Greenpeace e protecionistas ambientais, ela foi a única política europeia que se opôs ao banimento do comércio de marfim, ela não tinha inteligência ou fervor e até o próprio Gabinete a expulsou. Ela deu a ordem para explodir o cruzador General Belgrano, mesmo que ele estivesse fora da zona de exclusão das Malvinas – e estava navegando para LONGE das ilhas! Enquanto jovens argentinos a bordo do Belgrano sofriam uma morte injusta e terrível, Thatcher fazia um sinal com o polegar para cima para a imprensa britânica.” (fonte: https://rollingstone.uol.com.br/noticia/em-carta-aberta-morrissey-escreve-que-margaret-thatcher-nao-tinha-um-atomo-de-humanidade/)

    Comentário de Morrisey sobre o Atentado no Grand Brighton Hotel, de 1984: “”The only sorrow of the Brighton bombing is that Thatcher escaped unscathed”.

    Claro, não queremos o mal de Bolsonaro. Nem queremos fazer apologia à violência. Apenas queremos que ele receba em dobro aquilo que faz conosco.

  11. E daí? Não é só uma gripezinha? Já morreram mais pessoas do que a H1N1 matou o ano passado, logo ele não vai morrer não. Ele é atleta. Vamos tocar uma Ave Maria para ele.
    Outra, ele e todos aqueles que o apoiam não são seres humanos, não têm qualquer empatia, são demônios soltos por Satanás aqui na Terra. Desejo que todos morram. E daí?

  12. O texto do Hélio Schwartsman não presta, porque ofende as bases do Cristianismo. Só isso.
    Odeio Jair Bolsonaro, mas eu não sou igual a ele.
    Simples assim.

  13. Texto republicanamente fofo esse da Carolina Maria…
    Em boa medida, é graças a tais “republicanismos” que ingressamos na Era Bolsonaro e nela permaneceremos.

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