O Xadrez da Intervenção Militar. Golpe em 1964 versus golpe em 2018.

O Xadrez da Intervenção Militar. Golpe em 1964 versus golpe em 2018. Plagiando descaradamente Luis Nassif, sem a mínima qualidade do texto do mesmo, vamos a um assunto que provavelmente ele tem em mente, mas como ele tem responsabilidades maiores do que a minha (eu não as tenho), vamos montar um xadrez que seria ou não o cheque mate do golpe. 1º) O fator demográfico. A primeira questão é qual seriam as diferenças do golpe militar em 1964 para um golpe em 2018. A diferença principal está num dos dados mais confiáveis nas ciências sociais, a demografia. Em 1964 tínhamos um país que exatamente na data começava a se tornar um país mais urbano do que rural, por esta época invertia-se a maioria da população do campo para a cidade, e nos dias de hoje o Brasil é dos grandes países o mais urbanizado do mundo. Continuando, em 1964 os migrantes eram recentes e não estavam com a mínima coesão social das comunidades ou bairros populares, eram agricultores sem raízes nas cidades, hoje em dia há já uma terceira geração que se integra em grupos para diversas atividades, como sociais e esportivas. Em 1964 éramos 82 milhões de habitantes sendo que praticamente a metade estava no campo, logo nas cidades habitavam somente 40 milhões de pessoas, no Brasil de 2018, 85% da população é urbana e precarizada, ou seja, 175 milhões de brasileiros se concentram nas cidades. Houve um aumento na população urbana em 4,4 vezes. 2º) O fator forças de segurança. Como descrito acima a população urbana aumentou em 4,4 vezes e as forças de segurança nos estados não seguiram o mesmo aumento, se dobraram é o máximo. Já por outro lado as forças armadas continuam com níveis baixíssimos de efetivos para um país como o Brasil. Como na maior parte dos países do mundo, para incidentes internos são utilizadas forças do tipo Guarda Nacional, os efetivos que estes países têm de forças armadas, muito superiores aos brasileiros são ainda maximizados por esta Guarda Nacional. Logo, para conter tumultos generalizados no Brasil, não se conta com um número suficiente de tropas para isto. Em outros países em que não há uma Guarda Nacional, como no Reino Unido, para uma população de 65 milhões de habitantes as forças armadas são menos numerosas, as Forças Armadas da Coroa constam de um efetivo de 165 mil ativos em que grande parte é constituído de tropas profissionalizadas. No Brasil para seus 207 milhões de habitantes temos um pouco mais de 202 mil de efetivo sendo que a imensa maioria não é de tropas profissionalizadas. 3º) O fator posicionamento da população. Caso houvesse uma intervenção militar há mais de seis meses a população não estaria tão claramente contra o atual governo, que para que um golpe adquirisse alguma credibilidade na população, deveria ser destituído e preso. Ou seja, o fator Temer, que será descrito posteriormente, teria que ser removido para que houvesse alguma credibilidade em um golpe militar como 1964. Em 1964, a base social dos movimentos de esquerda estava centrado basicamente numa CGT que era mais burocratizada que uma CUT dos nossos dias, e não haviam tantos organizações populares de base como há nos dias atuais. Quanto a mobilização de partidos de esquerda revolucionária, estamos praticamente na mesma situação que em 1964, ou seja, inexistentes ou sem uma plataforma que envolva mais movimentos de massa, ou seja, por aí a dificuldade de um golpe militar não será tão grande. 4º) O fator Lula. A nova pedra no sapato de um golpe militar não será um governo eleito e em exercício como o de Jango Goulart, mas sim uma personalidade mais carismática que é Lula. Um golpe militar teria que necessariamente para se firmar, eliminar a figura Lula, porém a eliminação política que foi tentada durante mais de dois anos falhou, e vivo e solto, vivo e preso ou morto a imagem de Lula não poderá ser apagada sem uma imensa repressão popular. 5º) O fator economia. Em 1964 tinha-se um Estados Unidos com um governante que até a sua morte (22/11/1963) dispunha de uma popularidade que ultrapassava as fronteiras do país. E grande parte da conspiração foi pessoalmente levada pelo próprio John F. Kennedy, que na época dispunha uma quantidade de recursos que permitia a ações demagógicas, como a Aliança para o Progresso, que chegava a distribuir leite em pó para a população carente enquanto as empresas norte-americanas tinham recursos para investimentos no Brasil e comprar um pouco mais as riquezas nacionais. Nos dias atuais não há disposição do Imperialismo internacional em fazer concessões a países como o Brasil, logo nem leite em pó receberemos e muito menos dinheiro. 6º) O fator informação. Pode-se dizer que a informação da grande mídia é dominada pelos golpistas e apoiariam com prazer um golpe militar, porém a difusão de informações pela Internet, necessitaria urgentemente de uma censura que somente com a prisão das centenas de proprietários de blogs, vlogs e canais dos mais diversos possíveis, poderia anular a contrainformação. Ou seja, um esquema praticamente impossível de reduzir a próximo de zero a contrainformação. 7º) O fator nordeste. Já em 1964 existiam no Nordeste as famosas ligas camponesas, porém através da prisão de seus líderes (Gregório Bezerra, Francisco Julião e o governador Miguel Arraes) e a censura foi possível enquadra-la e eliminar a sua influência. Nos dias de hoje, Lula no nordeste é mais popular do que os três juntos e isto ocorre tanto no campo como na cidade. 8º) O fator ordem econômica atual. Talvez um dos motivos que trancou até agora um golpe militar, seja a má vontade que os grandes pensadores do hemisfério norte têm com golpes militares em países como o Brasil. Conforme se vê na Turquia como nas Filipinas, onde governos anticomunistas se impuseram, sendo que o das Filipinas é de uma truculência que faz os próprios direitistas do mundo inteiro sentirem nojo, tem a possibilidade de trair seus patrocinadores e passarem para outras esferas, como a influência chinesa. Governos militares podem ser ótimos parceiros ideológicos, porém péssimos parceiros comerciais, e tem o perigo de mudando os generais comandantes mudem os humores do regime. 9º) O fator Temer. Um golpe militar para ser dado no país não deve como de hábito prender a esquerda nacional, mas também prender parte da corja governante para adquirir um mínimo de credibilidade no país e dentro das próprias forças armadas. Porém prisão é como comichão é só começar e ninguém sabe a onde vai parar, e isto contrariaria vários aliados nacionais e internacionais de um golpe militar. Resumo: Um golpe militar aparentemente está sendo pelo menos ventilado pelas forças armadas, mas perderam o tempo de fazer isto, não há mais “comunistas comedores de criancinhas” para por toda a culpa dos erros do atual governo, são os amigos dos amigos que estão errando, e com a confusão que se estabeleceu no país as forças da direita perderam o discurso, estando mais na defensiva do que qualquer outra coisa. Uma ação militar numa situação instável da forma que está o país pode levar a situações bem mais extremas do que um novo governo do PT, e se for feita a prisão de Lula a pergunta que se pode fazer é: Se perdido o controle, quem vai assumí-lo?

Redação

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