Ondas de Choque da Nanotecnologia

NYTimes

“Eu louvo a elétrica do corpo”, Walt Whitman escreveu em 1855, inspirado pelas novidades das vantagens da eletricidade, as quais ele viveria para ver  com as ruas iluminadas, telefones, locomotivas e dínamos. Em “Leaves of Grass”, seu notável poema épico da vida americana, ele descreve a si mesmo como um fio vivo, uma estação de retransmissão para todas as vozes da terra, natural ou inventada, humana ou mineral. “Eu tenho condutores momentâneos em mim”, escreveu ele. “Eles captam qualquer objeto e o conduz através do meu corpo sem causar danos… a minha carne e meu sangue solta cargas como relâmpagos para atacar o que é diferente comigo”.

A eletricidade equipou Whitman e outros poetas, com uma cintilação de metáforas. Assim a inspiração era o relâmpago. Como a visão profética, ela iluminava a escuridão. Como o sexo, ela fazia vibrar a carne. Como a vida, ela energizava a matéria-prima. Whitman não sabia que as nossas células, realmente geram eletricidade, que o marca-passo do coração depende de tais sinais e que bilhões de axônios no cérebro criam sua própria carga elétrica (equivalente aproximado a uma lâmpada de 60 watts). Uma força da sua própria natureza, o fazia admirar o alcance e o poder bruto da eletricidade.

Pela força com que acreditava na afirmação “Eu louvo a elétrica do corpo” – uma frase própria para se tornar uma marca famosa – eu suspeito que um dos avanços recentes da nanotecnologia teria lhe chocado. Uma equipe da Universidade de Exeter, na Inglaterra, inventou o material mais leve, mais flexível, mais transparente já feito para conduzir eletricidade, um sonho de tecido chamado GraphExeter, que pode revolucionar a eletrônica, caso vire moda para o uso do seu computador, MP3 e celular. Com apenas um átomo de espessura, é um tecido ideal para roupas de uso diário e linhas de costura. Você poderia inicializar seu laptop conectando-o em seu jeans, recarregar seu celular ligando-o na sua camiseta. Então, não somente tuas células agitariam com eletricidade, mas também tua roupa.

Eu não sei se um terno totalmente elétrico perturbaria os aviônicos, os marca-passos, os monitores de segurança dos aeroportos ou os sinais elétricos das células do cérebro. Poderia teus cabelos se levantar, se você usar um casaco elétrico em uma tempestade com raios e relâmpagos? Você atrairia raio? Quanto tempo levará até que um humorista reproduza o som de palmas usando uma luva? Será que as pessoas conectadas aos pontos de recarga assombrarão as salas de espera do aeroporto? Será considerado moderno o uso de anúncios de neon piscando, frases e desenhos ou mesmo um nome em uma tatuagem luminosa?

Outra maravilha da nanotecnologia que promete alterar a vida diária, também, mas esta, apesar de seu futuro promissor, parece-me perversamente perigosa, embora inevitável, será sua capacidade de gerar leis labirínticas, confusão nas patentes e deflagrar debates bioéticos.

Os nano-engenheiros desenvolveram uma forma de revestimento tanto para superfícies rígidas (como trilhos da cama de hospital, maçanetas e móveis) como para superfícies macias (lençóis, pijamas e cortinas) com microscópicas nano partículas de prata, um elemento conhecido por matar micróbios. Você pensaria que o novo nano revestimento iria oferecer uma bala de prata, realizar milagres para os pacientes acometidos com septicemia e pneumonia adquiridas em hospitais e aos médicos que lutam contra o pesadelo da resistência aos antibióticos pelos micro-organismos que matam dezenas de milhares de pessoas por ano.

E é isso mesmo na realidade. Esse é o problema. Essa tecnologia é muito eficaz. A grande maioria dos micro-organismos é inofensiva, muitos desses são benéficos, mas alguns são absolutamente essenciais para o ambiente e para a vida humana. As bactérias foram as primeiras formas de vida do nosso planeta, e devemos tudo a elas. Nossa bioquímica está entrelaçada com a delas. Enxames de bactérias cobrem-nos do lado de fora, outros enxames colonizam o nosso interior. Mate todas as bactérias do intestino, essenciais para quebrar moléculas grandes, e teremos retardo na digestão.

As bactérias amigas auxiliam o sistema imunológico. Elas liberam biotina, ácido fólico e vitamina K; auxiliam na eliminação dos metais pesados do corpo; acalma a inflamação e previne câncer. Durante o parto, o bebê recebe bactérias benéficas no canal do parto. Bactérias fixadoras de nitrogênio garantem plantas saudáveis e ecossistemas. Nós usamos as bactérias para descontaminar esgotos e também para criar alimentos ricos em proteínas como kefir e iogurte.

É muito tentador para as empresas de nanotecnologia tirar proveito dos nossos medos e fetiches, criando soberbamente eficazes exterminadores de micróbios, como desodorantes e desinfetantes de nanoprata para casa e indústria.

E FOI POR ISSO que Kathleen Eggleson, uma cientista da Universidade de Notre Dame, fundou a Comunidade Intelectual do Nano Impacto, cujas reuniões mensais atraem pesquisadores de campus, líderes comunitários, professores visitantes e autores para discutirem a ética e o impacto dos novos desenvolvimentos em nanotecnologia. De um relatório recente do Centro de Nano Ciência e Tecnologia, ela destaca o risco de produtos não regulamentados destruírem a biodiversidade microbiana.

“Exatamente em dezembro passado”, ela aponta, um revestimento pesticida para produtos têxteis “foi o primeiro material da escala nano aprovado como pesticida pela EPA (Agência de Proteção Ambiental Americana)“. Seja em um traje a rigor para baile ou numa cadeira de hospital revestida de pesticida, coisa boa não virá segundo a escrita (porém você vai precisar de um microscópio para ler).

E quando se trata do delicado equilíbrio das formas de vida na Terra, podemos estar falando de um mundo muito pequeno, pequeno mesmo.

Nanotechnology Shock Waves Aqui

 

Redação

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