Os agentes do FBI que ajudaram a Lava Jato contra Petrobras e Odebrecht

Agentes que hoje não trabalham mais para o governo dos Estados Unidos passaram a se dedicar a escritórios de compliance

Jornal GGN – Com pesquisa e ajuda das mensagens de Telegram vazadas ao Intercept Brasil, a Agência Pública conseguiu levantar o nome de alguns agentes do FBI que ajudaram em investigações da Lava Jato. Mais tarde, gigantes como Petrobras e Odebrecht acabaram processadas nos Estados Unidos por causa dessa parceria com os procuradores brasileiros, e perderam bilhões de reais em multas cobradas pelos norte-americanos.

Segundo a Pública, um dos agentes que vieram ao Brasil interessados na Lava Jato era Leslie Backschies, que hoje comanda o esquadrão de corrupção internacional do FBI.

George “Ren” McEachern, ex-agente do FBI, supervisionou as investigações da Lava Jato em nome do Departamento de Justiça, o DOJ, até 2017.

Em uma conferência em 2019, Ren disse que “por volta de 2014, 2015, o FBI estava buscando maneiras de ser mais proativo nas investigações sobre corrupção internacional”, e começou “a olhar para países que poderiam convidar agentes do FBI até o país para analisar investigações de corrupção que tivessem um nexo com os Estados Unidos, em jurisdições como FCPA e lavagem de dinheiro”.

“Foi assim que o FBI se engajou na Lava Jato”, avaliou a Pública.

Jeff Pfeiffer e Carlos Fernandes também vieram dos Estados Unidos em meados de 2015, interessados nos processos contra a Petrobras.

O FBI enviou para Curitiba dois membros do escritório em Brasília, o adido Steve Moore e o adido-adjunto David F. Williams. Este último aparece nos diálogos da Vaza Jato por ter sido o agente a quem os procuradores pediram ajuda para acessar o sistema de pagamento de propina da Odebrecht antes de fechar um acordo oficial com a empreiteira.

Outra agente que esteve na comitiva que veio ao Brasil em outubro de 2015 é Christina Martinez, a quem os procuradores chamavam de “Chris”. Além do Brasil, ela trabalhou na Cidade do México e em Buenos Aires.

Em outubro de 2015, a força-tarefa de Curitiba também recebeu Mark Schweers, que retornou em julho de 2016 para conduzir interrogatórios em Curitiba e no Rio de Janeiro. Ele interrogou interrogou os ex-diretores da Petrobras Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa e também o doleiro Alberto Youssef. Os nomes dos delatores que foram usados nos processos do Departamento de Justiça norte-americano contra a estatal foram colocados sob sigilo depois.

Além de Mark, participaram dos interrogatórios no Rio uma agente cujo nome está registrado como Becky Nguyen.

“Os documentos entregues ao The Intercept Brasil mencionam ainda dois agentes especiais do FBI que atuaram proximamente com investigadores brasileiros a partir do consulado em São Paulo em 2016: June Drake e Patrick T. Kramer”, diz a Pública.

Segundo as mensagens de Telegram, Williams buscou mais informações com June para discutir a possibilidade do FBI ajudar a “quebrar” os sistemas MyWebDay e Drousys, da Odebrecht.

Os agentes que não estão mais no FBI passaram a se dedicar a escritórios especializados em compliance.

Em janeiro de 2020, o GGN lançou uma série inédita e exclusiva sobre a influência dos Estados Unidos na Lava Jato. A produção mostrou como funciona a FCPA, a lei anticorrupção norte-americana usada para processar Odebrecht e Petrobras. Também mostrou que como os Estados Unidos investem na formação de agentes brasileiros. Abordou a cooperação internacional desde o Banestado até chegar a Lava Jato. Detalhou as ações contra a Petrobras em solo norte-americano e explicou a lógica financeira por trás de grandes operações como a Lava Jato: a indústria do compliance.

Leia também:

https://jornalggn.com.br/politica/ggn-divulgou-em-primeira-mao-serie-documental-sobre-influencia-dos-eua-na-lava-jato/

 

Redação

7 Comentários

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  1. O que eu quero saber é se o oposto seria possivel, autoridades estadunidenses entregando informações a estrangeiros para punir empresas estadunidenses? Se policias podem abrir escritorios e trafegar livremente no territorio estadunidense? Algum douto poderia nos informar se isso seria possivel? Por que, caso contrario, é TRAIÇAO, pura e simplesmente…..

    1. não só as americanas…
      departamento de justiça americano dedicou o máximo de cuidado para não causar o colapso de confiança com relação a praticamente todas as empresas internacionais que também estavam sendo investigadas, excluindo-se, é claro as nossas

      Estudem e confirmem que nenhuma outra empresa internacional sofreu tanto como as nossas nem perdeu a confiança do mercado, dos acionistas e dos banqueiros. Todas poupadas. Todas sem um serviço de informações local, como o que montaram por aqui. Todas sem filhos e filhas do januário

      See Means open your mind

  2. Coitado do Deltan Dellagnol. Ele foi um agente muito útil nas mãos dos vagabundos do FBI, Departamento de Justiça dos EUA e Embaixada dos EUA no Brasil. Agora que virou um problema (dangerous international liability, na pomposa linguagem diplomática), Deltan será descartado como Noriega, Saddam Hussein ou Bin Laden.

  3. Muito triste viu : e como tem gente sem noção q confia no Moro,,,e agora temos FHC liderando a destruição do que ainda resta

    Nassif depois vc reúne tudo num e book : vc eh o maior do jornalismo

  4. 17 de maio de 2016 – Os agentes do FBI (que não escondem mais seu papel de liderança no sistema judiciário e policial brasileiro) organizam um briefing em larga escala em São Paulo para o MPF brasileiro sobre como caçar “troféus estrangeiros”. Formalmente, isso é formalizado como uma palestra de agentes dos EUA sobre corrupção no exterior, mas, na verdade, é permissão para o MPF espalhar a repressão fora da jurisdição do Brasil e demonstrar intenções. Os Estados Unidos estão fazendo todo o possível para promover isso (liderado pelo FBI).
    http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/sci/noticias/noticias-1-1/agentes-do-fbi-levam-a-pr-sp-palestra-sobre-combate-a-corrupcao-internacional
    22 de junho de 2016 – O governador do estado do Amazonas se reúne com representantes da Rosneft e, para interromper os acordos russo-brasileiros, a Polícia Federal de Manaus inicia prisões arbitrárias em massa de turistas russos. A operação se torna a apreensão mais maciça de reféns russos no exterior e o maior ato de terrorismo de Estado contra turistas da Rússia.
    http://cstcommand.com/index.php/countries/yuzhnaya-amerika/braziliya/item/34-14-let-za-pasport-rf-kak-rossiyane-v-brazilii-slomali-mashinu-gosudarstvennogo-terrorizma
    23 de junho de 2016 – O FBI dos EUA publica um vídeo no Facebook, onde o chefe da Divisão de Operações Internacionais do FBI fala sobre como eles percebem seus interesses na América Latina e que, com seu próprio povo e parceiros, a ausência de jurisdição dos EUA não é um obstáculo para eles.
    https://www.latest.facebook.com/watch/?v=10154293626206212
    Esta foi uma republicação de um vídeo com David Brassanini, originalmente publicado no canal do FBI no YouTube em novembro de 2015 (ao mesmo tempo que os ataques de O GLOBO à Rússia), mas o FBI não apresentou nada mais convincente para justificar seu envolvimento na repressão. Atualmente, Brassanini é o adido do FBI no Brasil, organizando visitas semanais de agentes do FBI ao Brasil para prender brasileiros e estrangeiros (a versão oficial é participar da luta contra a lavagem de dinheiro e combater a corrupção).

  5. Seria interessante confirmar com um especialista internacional, onde, como e quando exatamente, o serviço de informação local (Brasil) descartou a necessidade de se preservar ao máximo as empresas

    tá parecendo coisa combinada só por aqui e que não foi usada contra as demais empresas internacionais que estavam sob investigação

    Estudem também o quanto a China pretendia investir no Brasil na época da quebradeira de nossas empresas. Estima-se que quase 30% (em trilhões) de todo o seu investimento global

  6. Não nos esqueçamos de que o Brasil era o elo mais fraco e mais próximo dos BRICS.
    A ofensiva americana começou tomando sopa pelas beiradas.

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