Os Cavaleiros do Apocalipse e sua estranha descoberta na Amazônia, por Sebastião Nunes

Com o rabo entre as pernas, o cavaleiro-Moro, sentindo-se uma verdadeira anta, foi avisar ao bando de antas que ocupava o avião presidencial que o pequeno elefante lá embaixo era apenas mais uma anta

O cavaleiro Messias apontou o binóculo para uma clareira no meio da mata e anunciou aos berros, enquanto o avião fazia uma curva fechada:

            – Pessoal, acho que descobri um elefante lá embaixo!

            – Cadê? – Entusiasmou-se o escudeiro-Moro, debruçando-se sobre o pescoço do cavaleiro Messias. – Me empresta o binóculo, chefe?

            – Não estou vendo nada – reclamou o cavaleiro Flávio, o senador.

            – Nem eu – resmungou o cavaleiro Eduardo, o deputado.

            – Eu também não – lamentou-se o cavaleiro Carlos, o vereador.

            – Vocês me acham com cara de mentiroso? Toma o binóculo, escudeiro-Moro. Dá uma espiada e me diga o que vê.

            Mais que depressa o escudeiro-Moro espiou.

            – Puxa, chefe! – exclamou ele. – Não é que é verdade? Só que é um elefantinho de nada. Uma merdinha de elefante. E tem uma tromba tão curta…

            – Deixa de ser besta, escudeiro-Moro! – azedou-se o cavaleiro Messias. – Não tá vendo que é só um filhote? Dá uma espiada, cavaleiro Flávio, você que é senador e tem mais cultura que esse jurista de araque.

            O cavaleiro Flávio pegou o binóculo.

            – Claro que é um filhote de elefante! Deve ter perdido a mãe. E todo mundo sabe que filhote de elefante tem tromba curta. E orelha pequena também.

 

UM ELEFANTE INCOMODA MUITA GENTE

            – Não, senhor – discordou o cavaleiro Carlos, o vereador. – O famoso Dumbo, por exemplo, um elefante que todo mundo conhece, já nasceu com orelhas enormes. Só não nasceu sabendo voar. Isso ele só aprendeu muuuuiiiitoo depois.

            – Não seja burro, cavaleiro Carlos – agastou-se o cavaleiro Eduardo, o deputado. – Dumbo só fingia não saber voar, senão o filme perdia metade da graça. E o pessoal da Disney não é bobo. Bilheteria é com eles mesmo.

            – Ah, essa não – ripostou o cavaleiro Flávio, o senador. – Dumbo sabia voar desde o berço, mas precisou que os meninos mostrassem uma pena pra ele…

            – Vamos parar com essa conversa fiada? – interrompeu o cavaleiro Messias. – O importante agora é descobrir a quadrilha do elefantinho lá embaixo.

            – Desculpe, chefe – interrompeu o escudeiro-Moro. – Mas o coletivo de elefante não será rebanho? Como rebanho de vaca, por exemplo? Quadrilha é de bandido.

            – Ora, ora, ora, escudeiro-Mora, desculpe, Moro – contemporizou o cavaleiro Messias. – Eu pensava que quadrilha servia pra onça, peixe, gente, elefante, vaca, índio, nordestino… Mas de vaca vamos falar depois, na hora de derrubar a floresta com o apoio do cumpadre Trump. O assunto agora é elefante. Isto é, aquele filhote de elefante lá embaixo. Será que dá pra descer naquela clareira?

 

CINCO ELEFANTES INCOMODAM MUITO MAIS

            – Vou perguntar ao piloto – prontificou-se o puxa-saco do escudeiro-Moro. – Mas acho que dessa altura não dá pra descer de repente.

            – Pergunta, porra! – comandou o cavaleiro Messias. – Você não entende nada de avião, vai ver que nem de lei você entende.

            – É pra já, chefe – safou-se rapidinho o cavaleiro-Moro, entrando na cabine do piloto e se assustando com a suruba que rolava lá dentro.

            – Que é que tá estranhando, escudeiro-Moro? – ponderou o piloto, fazendo cara de paisagem e ajeitando o uniforme, enquanto as quatro comissárias, os oito seguranças, o copiloto e o engenheiro de voo tentavam botar as roupas em ordem. – O avião tava no piloto automático.

            – Nada, não tô estranhando nada – fez cara de sonso o cavaleiro-Moro. – Só vim perguntar se este avião pode descer naquela clareira lá embaixo.

            O piloto olhou e, uns 500 metros abaixo, pois o avião voava em velocidade de turismo, viu a pequena clareira sugerida como campo de pouso.

            – Tá de brincadeira comigo? – respondeu fechando a cara o piloto. – Ali só desce helicóptero, teco-teco e urubu.

            O escudeiro-Moro sentiu-se ofendido e tentou parecer durão.

            – Quem mandou perguntar foi o chefe. Se não dá, vou avisar pra ele.

            – Mas que porra! – exclamou intrigado o piloto. – Pra que descer na clareira?

            – É que a gente queria procurar a mãe daquele elefantinho lá embaixo.

            – Elefante? Mas que elefante? Não existe elefante no Brasil, a não ser preso em zoológico. E esse bicho lá embaixo só pode ser uma anta, sua anta!

            Com o rabo entre as pernas, o cavaleiro-Moro, sentindo-se uma verdadeira anta, foi avisar ao bando de antas que ocupava o avião presidencial que o pequeno elefante lá embaixo era apenas mais uma anta.

Sebastiao Nunes

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