Tá enrolado. E quando assim é, evita-se tocar no assunto. Estivesse numa semana de mais preguiça, falaria de soja, mesmo milho, previsões que são uma baba, e não opinaria sobre o setor sucroenergético.
Quando sai dos canaviais, passa pelos açúcares, e chega aos vários alcoóis – um deles muito saboroso – generaliza-se como etanol. E por onde passa tem encontrado perrengues. Encontrões que lembram lutas de sumô, tal o peso dos contendores.
Clima adverso, mudanças operacionais da mecanização, leis ambientais, milho norte-americano, a Índia e, como sempre, desencontros com o governo.
O fato não é inédito. Voltar ao passado poderá entediá-los, mas, vá lá, só um pouquinho.
Embora o uso do álcool, como aditivo à gasolina, date de 1931, somente tomou dimensão, a partir de 1975, no governo Geisel, com o Programa Nacional do Álcool (PROALCOOL), idealizado por cabeças privilegiadas que nos viam ferrados sem enfrentar a escassez de petróleo e seus preços.
Na baita crise, o plano nos ajudou e teve um viço de dez anos. A produção de álcool saiu de 600 milhões de litros, no biênio 1975/76, para 12,3 bilhões, em 1986/87. 35% ao ano, sô! As montadoras produziram milhões de uns carrinhos que de manhã custavam a pegar.
Commodity terrível, a partir daí, a cotação do barril de petróleo começou a cair e chegou a 30 dólares, em 1996. O governo começou a coçar a cabeça e, três anos depois, parou de subsidiar o etanol. Fernando Henrique Cardoso, presidente, havia se convencido de um mundo neoliberal que fazia tudo sozinho. Inclusive, nos quebrar.
As montadoras voltaram a produzir veículos movidos à gasolina, e a engenhosa construção começou a ruir.
Vigorando, manteve-se apenas a inclusão da mistura do álcool anidro à gasolina.
A partir de 2003, as montadoras começaram a produzir veículos flex, que serviam a dois reis combustíveis.
Chamado, um professor de aritmética ensinou continha básica: dê preferência ao etanol sempre que ele custar no posto até 70% do preço da gasolina.
Reis ficaram os consumidores, a maioria com flex nas rodas. Com isso a demanda por etanol, em 2008, equiparou-se à de gasolina, e sua produção saltou de 12,6 BB de litros, em 2002, para 28,2 em 2010.
Mudou a matriz energética brasileira. Bagaço de cana em bioeletricidade. Nível de rendimento de seis a oito vezes melhor que o milho de Ohio.
No período, muito se investiu na produção primária: “o estado de São Paulo transformou-se num imenso canavial” (…) “o Brasil volta ao tempo de colônia, um país monocultor de cana”, apavoravam-nos as folhas e telas cotidianas, aquelas que gostam, não gostam, ou não sabem, mas falam.
Bem, o estado de São Paulo, segundo levantamento do IBGE, continua a produzir com expressão mais de 30 culturas agrícolas, nem nasceu Gilberto Freyre algum que escrevesse obra-prima como ‘Casa Grande e Senzala’.
Muitas usinas foram construídas. As projeções justificavam 300 novas para atender a demanda. Gigantes do setor se internacionalizaram. Competitivos, lutamos pela queda na sobretaxa norte-americana que, limitados pela produção de milho, veio em 2011.
Tudo e todos na maior animação.
De repente, não mais do que de repente, à breca. Um nome surgiu na tela dos suculentos representantes do setor sucroenergético: Petrobras.
O fato de a estatal administrar o preço da gasolina fez a relação pender para o combustível fóssil e cair a produção nacional de etanol.
Esse, pelo menos, o motivo dado por dez entre dez executivos do setor, ajudados pelo fato de o Brasil, hoje, importar etanol.
Penso que a política energética de uma nação precisa do dedo do governo. Não, porém, para estragar.
Penso que as empresas do setor erraram a mão algumas vezes, como logo após a crise de 2008, quando os preços do açúcar se tornaram muito mais compensadores.
Também, quando interromperam investimentos, preferindo a concentração industrial e a compra de terras, um óbvio em franca evolução nas últimas décadas.
Mas, verificar que enquanto, em dez anos, o preço do barril do petróleo evoluiu mais de quatro vezes, e o preço da gasolina nos postos subiu apenas 32%, é querer muito perfilho da energética gramínea, não?
Otimista, informo que logo tudo vai melhorar. Aliás, pra já. Todos estão se mexendo.
(Publicado no site de CartaCapital)
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