Os motivos por trás da auto expiação de Janot, por Luis Nassif

Janot parece dominado por um sentimento ao qual o grupo de Curitiba se mostrou infenso: o remorso, os ataques de consciência, a preocupação sobre que imagem ficaria para a história. E, aí, recorreu a essa auto expiação algo desajeitada.

Há muitas explicações para a franqueza quase suicida de Janot no livro. Tenho por mim, que é uma auto expiação. No decorrer da Lava Jato, Janot foi literalmente desprezado por três figuras referenciais do MPF, que ele apresenta no livro como seus amigos e gurus: Cláudio Fontelles, Wagner Gonçalves e Álvaro Augusto Ribeiro Costa

Nos momentos decisivos, era a seus conselhos que recorria, três referências morais do Ministério Público, não Brindeiro, Fernando de Souza e Gurgel. Sem contar seu melhor amigo, e padrinho da sua indicação, Eugênio Aragão, que traçou um perfil destruidor de suas fraquezas, assim que Janot se revelou.

Esses episódios não são relatados no livro. Janot não ousa, nem teria talento literário para tal, expor o peso do olhar de condenação de seus mestres, seus dramas de consciência – e suas fraquezas – enquanto tantos colegas medíocres se regozijavam com as manifestações de um populacho babando sangue.

É por isso que o livro se preocupa em responder às críticas mais ostensivas contra o seu caráter: a acusação de ter traído José Genoíno, a quem tratava como amigo pessoal; o cartaz auto-laudatório “Janot, você é a esperança do Brasil”; na blindagem a Aécio Neves na primeira leva de denúncias.

Um interlocutor de Janot, advogado de São Paulo, me contou certa vez que a delação da JBS foi uma maneira de Janot expiar a culpa pelo impeachment, que colocou no poder o grupo mais barra-pesada da política nacional, antes do advento da geração Bolsonaro.

Enfim, Janot parece dominado por um sentimento ao qual o grupo de Curitiba se mostrou infenso: o remorso, os ataques de consciência, a preocupação sobre que imagem ficaria para a história. E, aí, recorreu a essa auto expiação algo desajeitada.

De outros procuradores inquisidores, a história registrará apenas o processo gradativo de desumanização, de transformação de cidadãos aparentemente normais em monstros de insensibilidade, capazes de celebrar até dramas pessoais dos alvos, transformados em “inimigos” a serem destruídos, como as mortes do irmão, da esposa e do neto de Lula, o suicídio do reitor e, no plano político, terem sido responsáveis pela destruição da economia e das instituições brasileiras e do advento da lei da selva no país. A história será cruel e não destacará nem o contexto da época, que os caracterizaria apenas como provincianos deslumbrados, instrumentalizados por um sistema de poder implacável.

A aposentadoria fez Janot perceber a dureza do julgamento da história. O grupo de Curitiba só irá se dar conta mais adiante, quando seus nomes estiverem definitivamente incrustados na história e eles forem apontados, por estudiosos, como os procuradores que ajudaram a jogar fora todas as conquistas proporcionadas pela Constituição de 1988 e transformaram o MPF no “caveirão” do futuro.

 

Luis Nassif

25 Comentários

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  1. O Brasil está virando um grande orates chamem o Dr. Bacamarte. Está difícil encontrar nestas conchas humanas uma pérola de razão. Como a lava jato entrará para a história? Como mãos limpas? Já elegemos nosso Berlusconi. Os fascinoras da desrepublica já organizam seu cordão carnavalesco com a fantasia da nossa velha e conhecida impunidade.

  2. Eles vão virar é nome de rua e de praça Brasil adentro, isso sim.

    Até hoje o golpe de 64, por exemplo, derrubou um Presidente Constitucional “pra salvar a democracia”, suspendeu o habeas corpus “pra garantir a liberdade”, achatou o salario “pro bem do trabalhador”…

    E ainda aparecem novas! Agora as capitanias hereditárias são o supra sumo do “empreendedoriiismo” da brava gente brasileira…

    “Chique” demais! No último ponto!

  3. Essa figura de um “Janot ébrio” que, tomado de remorsos por suas ações enquanto “homem sóbrio”, sai a gritar aos quatro ventos as maquinações e injustiças dos bastidores do poder, aos meus olhos, guarda algo de Sr Puntila, personagem principal da peça “O Sr Puntila e seu criado Matti”, de Bertold Brecht.

    Quando sóbrio, Puntila, um latifundiário decadente, é arrogante, egocêntrico e mesquinho, mas quando ébrio se apresenta fraterno, bondoso e bem-humorado, embora assumindo também um comportamento auto-destrutivo. Oscilando entre os dois extremos, confunde tudo e a todos, causando perplexidade nas pessoas ao seu redor, de amigos e parentes, até seus subordinados (como Matti) e mesmo desconhecidos.

    No “Prólogo” da peça, recitado pela personagem da Ordenhadora, diz-se assim:

    “Respeitável público, nossa época é triste.
    Sábio é quem se atormenta, tolo é quem vive em paz.
    Mas como não adianta deixar de rir,
    escrevemos esta comédia para vos divertir.
    As piadas que ouvireis nesta representação
    não foram pesadas em balanças de precisão.
    Não somos usurários
    que buscam e rebuscam medidas exatas,
    damos é em sacos e toneladas como batatas.
    Senhoras e senhores, apresentamos hoje
    um animal pré-histórico – o latifundiário.
    Em linguagem mais simples: um proprietário agrário.
    Conheceis bem o cidadão:
    um animal pau-d’água e comilão.
    Onde ele se instala, é certo,
    instala-se um deserto.
    Desta vez, porém, ele vem vindo,
    no meio de matas magníficas,
    belos rios, lagos lindos.
    Mas, no cenário, nada disso pintamos.
    Prestai mais atenção no que falamos.
    Vereis latas de leite tilintando nos bosques da Finlândia,
    aldeias avermelhadas por um verão sem noite,
    galos sempre acordados,
    rios que correm tépidos,
    fumaça azul subindo dos telhados.
    Sentados aí,
    da primeira à última fila,
    isso tudo vereis, espero,
    na comédia do Sr. Puntila”.

    Aguardemos, então, as cenas dos próximos atos.

  4. Vale a teoria Nassif, mas pela sucessão de pgrs desmiolados que você cita vemos que esta criação constitucional está merecendo alguma correção.

  5. Fico estarrecida com o contexto atual,
    sempre achei que o pano de fundo seria o pré_sal e não o combate real a corrupçãoObservava assustada advogados defendendo as práticas abusivas da Lava Jato e a inércia dos poderes diante destruição da economia.Esperava, sem nenhuma paixão politica que com as eleições o país caminhasse . Mas na verdade não se rompe o sistema político sem consequências desastrosas. Se é remorso o que ele sente, resta lembrar que omissão é tão letal como ação. e isso não irá restabelecer o equilíbrio social ao Brasil.

    1. Janot é um daqueles brasileiros que tem certeza absoluta de que foi instrumento dos EUA. USAdo, descartado e desprezado porque mostrou-se vil (o traidor é sempre desprezado por todos).
      É até possível que ele esteja vivendo um drama de consciência. Mas a maioria dos seus comparsas estão acreditando na completa impunidade. Afinal, devem pensar: “por que somente ‘eu’ ? Sempre foi assim…”

    2. Li boa parte em PDF. E tem várias coisas em aberto no livro:
      1) Janot reconhece o interesse geopolítico dos EUA na Lava Jato, mas se defende minimizando. Só que fala apenas no interesse dos gringos em pegar obras da Odebrecht no Brasil. Não fala nada sobre a Petrobras, mudanças no Pre-Sal e sobre eleger governos de direita pro-EUA na América Latina.
      2) Janot cita ter feito amizade com o general Villas Bôas, mas ficou só na cachaça. Nada diz sobre o que conversou com gente das FFAA.
      3) Mossack & Fonseca: Janot cita o caso do Panamá Pappers apenas como pano de fundo da relação com a PGR do Panamá no caso Odebrecht, mas nada diz sobre a investigação no escritório brasileiro que envolve uma mansão em Parati.
      4) Janot revela que criou linha direta com João Roberto Marinho, a partir da delação da JBS.
      5) Janot cita que Bozo foi um dos poucos do PP a não ser delatado. Mas nada diz sobre ter engavetado a representação para investigar a compra de duas mansões por Bolsonaro por preços muito abaixo de mercado, pois era indício forte de que caixa-2 que chegou ao PP poderia ter sido usado na compra.

  6. A pergunta que me faço é se e quando teremos acesso a essa história contada no final. Pois a história no Brasil é contada em meio a fraudes, enganos, ocultações e distorções. Não sei se um dia teremos revisões serias, de uma história passada a limpo e de conhecer da maioria no Brasil. Nem mídia, nem instituições ajudam. Talvez muitos, até grande parte de gerações ainda os veja como heróis!!

  7. O tema do post tem um roteiro claro que é o de mostrar mais uma fotografia do processo político e jurídico que envolveu o país no período desde a posse de Lula. Uma personagem da foto que supostamente foi editada nesta galeria, é uma analogia ao apagão da imagem do Trótsky. No caso em questão o que está sendo “apagado” é a figura sinistra da corrupção.Aparentemente ela nunca existiu e muito muito menos foi um dos protagonistas da conturbada operação policial “revolucionária”

  8. O Golpe perfeito…
    Siga o dinheiro!
    Assim são identificados os autores de vários crimes…
    Estamos assistindo como o tal “sistema financeiro e a elite egoísta” estão saindo da cena do crime!
    Em seu lugar começam a surgir seus operários!
    Janot, Moro, Dallagnol, Bolsonaro e outros são as formigas do golpe!
    Enquanto os “donos do golpe” encheram a burra de dinheiro, o judiciário e as forças armadas
    vão ficar com a brocha na mão!
    Se o livro do janot serve quando é contra ministros do STF, por que não serve para reverter o golpe?
    O judiciário não aprende…
    Continua seletivo…

  9. “Sem contar seu melhor amigo, e padrinho da sua indicação, Eugênio Aragão, que traçou um perfil destruidor de suas fraquezas, assim que Janot se revelou.”
    Aragão conhecia o cabra e o indicou. Não seria o caso dele explicar porque fez isso?

  10. Tem que se ouvir a entrevista do presidente do trf 4, na rádio gaúcha entre 9:00 e 10:00 horas. Este sujeito, Victor Luiz dos Santos Laus, foi um dos 3 elementos que confirmaram e agravaram a pena c do moro contra o Presidente Lula..
    Hoje este indivíduo é presidente do trf4. Na entrevista o sujeito faz militância pura, faz julgamento de valores a todo o momento. O sujeito não têm a mínima isenção par ser presidente de tribunal que julga outros cidadãos.
    Despreza o pessoal do Intercpet, provavelmente se precavendo de uma possível referência de seu nome em algum diálogo que o Intercp venha a públicar futuramente.

    1. Vale a pena ouvir esses caras só pra ter noção do tipo de gente que é: baixa, covarde, desqualificada, preconceituosa, ignorante, racista, egoísta, ególatra…. Em suma: inumanos.
      Eles seriam perfeitos como Kapos ou guardas SS num campo de extermínio nazista.
      Se bem que na real são coisa muito pior do que o mais bárbaro dos nazistas: são dignos egressos da classe média brasileira…..

  11. Raramente Nassif se equivoca mas….

    Janot foi picado pela mosca-azul, por que virou das celebridades da classe média na sua ofensiva antiPT… Porém, após sair da PGR ninguém mas o reconhece nos restaurantes nem nos aeroportos… Daí a hiperexposicao visceral para não cair no ostracismo…sem contar a rendinha extra com o livro.

  12. Considero todos os responsáveis pela Lava Jato mais burros do que a mais burra das cavalgaduras. Com base nisso, não estão agindo por conta da preocupação com o julgamento da História, pois claro está que a desconhecem por completo. São primários demais, toscos demais, simplórios demais……Asnos demais…
    Creio que o que os move é a Vaza Jato: tem medo que seus nomes apareçam ao lado de Globo, CIA, DoJ, etc. Tanto que, apavorados pela possibilidade de serem desmascarados por completo, agem como os covardes e canalhas que sempre foram, jogando a culpa uns sobre os outros.

  13. O Brasil está literalmente OCUPADO por forças ocultas.
    Sempre esteve, na vdd.
    A simples distribuição de renda de Lula aterrorizou a Banca.
    Janot e Dallagnol são a mediocridade encarnada.
    O sistema jurídico no Brasil sempre foi colonial, parasita e obediente à Sede do Império.

  14. Desculpe, Nassif, mas duvido muito.

    Acredito que a motivação de Janot foi atrair publicidade e se mostrar como a pessoa bem intencionada que não é; se mais esperto do que parece, acrescento que pode ter sentido a próxima mudança dos ventos e tratou de mostrar seu “arrependimento”.

    Não caio nessa de sentimentos tão nobres vindo de gente tão mesquinha.

  15. janot pretende purificar-se de uma sujeira, de uma mancha
    impossível de se apagar.
    a solidão depois de tanta falsa bajulação dos
    golpistas deve ter batido fortemente e o cara
    nem consegue dormir pelas barbaridades, traições cometidas….
    vergonha e remorso….
    chega a dar pena, cara!.

  16. Errado Nassif. O Econômico sempre ou quase sempre é quem dita as regras . Quem entende deste negócio de monetizar as ações , como o Ricardo Barros , deputado do PP e ex-ministro do Vampirão já apontiu que tudo isso é pra vender mais livro.

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