Para não atrapalhar impeachment, Lava Jato escondeu delação contra Temer

Jornal GGN – A Lava Jato em Curitiba influenciou os colegas do Rio de Janeiro e Brasília – com anuência, inclusive, do então procurador-geral da República Rodrigo Janot – a abafar uma delação da Engevix que entregava pagamento de R$ 1 milhão em propina ao coronel João Baptista Lima, amigo pessoal de Michel Temer há décadas.

O timing político dos procuradores não poderia ser mais afiado: a delação que comprometeria Temer foi engavetada pela Lava Jato em abril de 2016, às vésperas de Dilma Rousseff ser afastada pela Câmara dos Deputados, por causa do processo de impeachment.

Com isso, a imagem de Temer permaneceu inabalada durante as articulações para derrubar o governo petista.

Segundo relevações da Vaza Jato, a delação foi rejeitada no mesmo dia, aliás, em que o advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, estava na Câmara defendendo a então presidente das acusações de crime de responsabilidade com as pedaladas fiscais.

Pesquisa feita pela Folha de S. Paulo já mostrou que o impeachment de Dilma teve apelo popular não por causa do alegado crime fiscal – que fora praticado, aliás, por outros presidentes, sem que nenhum tivesse sofrido sanções – mas por causa dos escândalos de corrupção – alimentados diariamente pela Lava Jato em parceria com os jornais.

Segundo mensagens trocadas no Telegram, os procuradores de Curitiba sustentaram que a delação do ex-sócio da Engevix (Antunes) não tinha “interesse público” e tampouco vinha acompanhada de provas de corroboração.

O problema é que, 3 anos depois, em março de 2019, essa mesma delação ajudou a Lava Jato no Rio de Janeiro a prender Temer.

Segundo a delação de José Antunes Sobrinho, sócio da construtora Engevix, ele pessoalmente fez um pagamento de 1 milhão de reais para “atender a interesses de Temer, como compensação por um contrato na usina nuclear Angra 3, da estatal de energia Eletronuclear”. O intermediário teria sido o coronel Lima.

“O dinheiro não saiu direto dos cofres da Engevix para Temer, mas de uma companhia prestadora de serviço do Aeroporto de Brasília, que era controlado pela Engevix. A empresa em questão era a Alúmi. O relato não convenceu os procuradores”, reportou o El País nesta sexta (18).

Em 2018, porém, a delação foi resgatada na esteira do acordo de colaboração da JBS. Parte da denúncia dos irmãos Batista envolvia pagamento de propina por meio do coronel Lima, por assuntos relacionados ao decreto dos Portos, assinado por Temer em 2017. Foi aí que a colaboração da Engevix, que implicava o ex-militar, foi retomada.

A ação penal contra Temer acabou nas mãos do juiz do Rio, Marcelo Bretas, depois que ex-presidente terminou o mandato. Daí também nasceu o pedido de prisão preventiva.

Quando Temer foi preso, “já tinham vindo à tona os comprovantes bancários e e-mails envolvendo o pagamento delatado por Antunes – e os procuradores, então, foram atrás e conseguiram o depoimento espontâneo do empresário Marcelo Castanho, diretor da Alúmi, que fez o repasse de 1 milhão de reais para o coronel Lima.”

Estavam aí as provas que os procuradores de Curitiba alegavam não ter visto antes.

Procurada, a equipe de Deltan Dallagnol disse ao El País que tem o direito de rejeitar delações quando não há interesse ou verossimilhança nos relatos.

Já o ex-PGR Rodrigo Janot jogou a culpa por não ter levado a investigação contra Temer adiante no colo do Supremo Tribunal Federal.

“Você acha que o Supremo ia me autorizar a investigar o vice-presidente da República com algo que não era consistente?”, respondeu.

Redação

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