Aldo Fornazieri
Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.
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Paradoxos da candidatura Lula: conciliação e radicalização, por Aldo Fornazieri

Paradoxos da candidatura Lula: conciliação e radicalização

por Aldo Fornazieri

O impasse político-jurídico que faz de Lula um candidato e não-candidato, só será equacionado pela correlação de forças que o desdobramento da atual crise e novos eventos produzirem. Depois da indignação inicial pela condenação do ex-presidente, as forças políticas progressistas voltaram ao seu estado de letargia. Delegaram a Lula e à sua defesa a tarefa de tentar reverter a condenação. Lula, viajando pelo país e, sua defesa, trabalhando nos tribunais. A decisão do Congresso do PT de defender Diretas Já, mesma bandeira assumida pelos demais partidos de esquerda e por movimentos sociais, não se transformou em movimento de ruas. O “Fora Temer”, mesmo que o presidente ilegítimo tenha apenas 5% de apoio, está circunscrito ao Congresso e às redes sociais.

Há um risco enorme em tudo isso, pois os tribunais e os juízes não estão julgando a partir da Constituição e das leis, mas a partir de suas vontades interpretativas. Com a opinião pública apática, desanimada e desmobilizada, a possibilidade da inviabilização da candidatura Lula pode se constituir em tendência dominante.

Mas, admita-se, para efeito de projeção de cenários, que a candidatura Lula possa existir legalmente. Se esta legalidade existir, a imposição das circunstâncias fará de Lula o candidato e adiará a pretensão de renovar o PT com um candidato que expresse uma nova página na história do partido. Estabelecer-se-á, então, um paradoxo muito singular, que é o paradoxo da conciliação e da radicalização.

Pelo que se dispõe de biografias do líder sindical e de estudos acerca do que foi o governo Lula em seus oito anos, não há como negar que, tanto na sua atuação sindical quanto na presidência da República, ele imprimiu a marca da conciliação em suas ações. Dizer isso, não significa emitir um juízo de valor e nem dizer que Lula não tinha um lado. É evidente que tinha e tem um lado. Entendeu, no entanto, que a melhor forma para alcançar determinados objetivos para aqueles que pretendeu representar, a política de conciliação era o caminho mais factível. Claro que se podem emitir juízos de valor sobre essas escolhas, mas não é o objetivo aqui.

Convém lembrar que Lula se tornou presidente nas eleições de 2000 a partir de dois movimentos táticos conciliadores: a Carta ao Povo Brasileiro e a marca “Lulinha Paz e Amor”, que apagaram qualquer sombra de radicalismo que pudesse se projetar sobre ele. A síntese da política governamental do petista foi o jogo do “ganha-ganha”, como bem demonstraram os estudos de André Singer. A política de conciliação, o amplo leque de apoio que construiu em sua base congressual e os resultados alcançados pelas políticas econômica, salarial e social se traduziram em anos de significativa paz social e de amortecimento dos conflitos sociais e trabalhistas.

Olhadas as coisas por este ângulo de mirada, as elites deveria agradecer aos céus pela existência de um líder como Lula, expressão de um enorme lastro popular, de uma inegável força carismática e, ao mesmo tempo, vocacionado para a construção de um caminho de concórdia, de entendimento e de paz. Assim, Lula não é apenas um conciliador, mas o grande mediador nacional, o pacificador, o líder quase que imprescindível para reunificar o país num memento de tensões, de radicalizações e de descaminhos. Se as elites pensassem racionalmente, deveriam fazer apelos, movimentos de resgate, para tornar Lula candidato.

A potência da radicalização

Quiseram, no entanto, os caprichos da Deusa Fortuna e os desatinos dos humanos turbar o jogo político e transformar o símbolo da conciliação em símbolo da radicalização. Setores das elites não se cansam de estigmatizar, demonizar e perseguir este símbolo, que é o Lula. Claro, se a candidatura Lula se confirmar, ela terá que proclamar a paz e a concórdia entre os brasileiros se pretender ser exitosa. Mas ocorre que a candidatura Lula não pertencerá nem a Lula e nem ao PT. Se do ponto de vista da campanha oficial ela terá um rosto afável, do ponto de vista das ruas e do debate social, ela deverá assumir a dimensão de uma batalha campal.

Os setores conservadores e de direita, em suas diferentes expressões, buscarão meios de tentar interditar a todo custo uma vitória eleitoral de Lula. Ciro Gomes afirmou que “Lula racha o país em bases odientas, rancorosas e violentas”. É verdade, mas não é Lula e a sua vontade que produziram tal racha e sim a dinâmica que os golpistas imprimiram ao país e à opinião pública que levou a este cenário de confrontação.

A possível candidatura Lula provocará uma polarização intensa e o eleitorado conservador terá que definir o seu antípoda, o anti-Lula. Dória e Bolsonaro se pré-definiram e se investiram com os anti-Lula. Seja quem for o anti-Lula – um desses dois ou um terceiro – terá uma tropa de choque raivosa que precisará ser confrontada pelas forças políticas e sociais que se constituírem em apoio ao petista. A campanha polarizada tenderá a estreitar tanto o espaço à esquerda de Lula, quanto o de centro-esquerda.

A pergunta que cabe fazer é a seguinte: a polarização será positiva ou negativa para o Brasil? A resposta deve ser a de que a polarização será positiva. A polarização desnudará a grande mentira, a grande farsa da política brasileira: a farsa da sociedade pacífica, harmoniosa; a farsa que encobre as tragédias do país, as profundas desigualdades, as injustiças e o assalto que as elites promovem aos recursos públicos.

O Brasil precisa encontrar a sua verdade e a verdade do Brasil está no conflito e na sua explicitação. A polarização exigirá que os políticos se posicionem, sem truques de marketing, acerca de qual país querem e como pretendem destinar os recursos públicos, provindos, em sua maioria, do suor do povo trabalhador. Os políticos terão que dizer se querem que continue a incultura do povo, a precariedade da educação e saúde, a falta de empregos e de direitos, a insegurança e a angústia das favelas ou se querem um país justo, igual, desenvolvido e um povo culto e educado. Os políticos terão que dizer se querem que bebês continuem sendo baleados no ventre das mães, se querem os 60 mil mortos por ano pela violência, se  querem a continuidade das espantosas estatísticas das tragédias no trânsito ou se se tornarão competentes, responsáveis e comprometidos para superar tudo isto.

A polarização terá que exigir que os políticos se definam, escolham lados, assumam compromissos. O Brasil não pode seguir caminhando sob a égide da farsa, da mentira e da hipocrisia – marcas degradantes de sua história. O desânimo do povo terá que se transformar em cobrança e em exigência de compromissos e responsabilidades.

O povo terá que dizer que não aceita que deputados e senadores o traiam depois de eleitos. Terá que dizer aos governadores e ao presidente que quer eficiência, transparência e honestidade, pois uma dessas variáveis não existe sem as outras. Se a candidatura Lula se viabilizar, terá que ser popularizada, desprivatizada do controle do PT e dos marqueteiros. Terá que pertencer ao povo, as suas demandas, às suas angústias e as suas esperanças. Só assim poderá ter um sentido histórico positivo e transcendente em relação a este momento degradante da história do país.

Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).

 

 
Aldo Fornazieri

Cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política.

25 Comentários

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  1. DireitaXEsquerdaXEsquerdaXEsquerda
    Lula candidato ou não,a eleição passa por ele é o dono da bola,escolhe quem quer pois é imensa sua capacidade de transferir votos.A radicalização direita X esquerda vai se acirrar com tambem na esquerda.O PSOL virou vitrine principalmente depois de ser criticado por Lula,e olha que não foi para tanto para a reação do PSOL,que mostra definitivamente uma imaturidade juvenil associada ao odio de alguns membros como Luciana Genro que ja passou da linha do ridículo em suas declarações.Então não so havera o desnudamento da direita,de seus adptos e eleitores como havera tambem na esquerda.Ciro,PSOL,PCO,PSTU,PT,PCdoB ninguem vai virar a face ou relevar.Nas redes ja é visivel que a militancia petista esta com a faca nos dentes,e esta critica do Lula foi um especie de sinal e o que ja vinha subindo de tom agora é critica pesada.Sera uma guerra,a eleição apenas uma batalha.A direita escolheu assim,ou tudo ou nada,alguns setores da esquerda serão abatidos,e ou saem do cenario politico ou tentam em outras bases,novos conceitos.O PT tem que renovar-se,principalmente se ganhar as eleições,pous sera muito mais cobrado.Não ha mais espaço pata Mercadantes,Cardoso,Falcão.O episodio Miriam Leitão expos a pouca complacencia da militancia e simpatizantes com o “republicanismo inocente” e que ha pouca margem para comtemporizações.Claro que tambem que ha o fator importantissimo de como ficara o congresso.Tera uma maioria de centro-esquerda ? E estes serão tão complacentes como os antecessores?.Qual esquerda saira das eleições ?

    1. Conciliar, nunca mais !

      Otaviani

      Na minha percepção (não é grande coisa, mas é a única que tenho) não é somente a militância petista que está com a faca nos dentes.  Esta crise tem um aspecto excepcional: ela é didática – desnudou o caráter escravocrata e colonialista de nossa elite econômica.

      Minha posição pessoal é a seguinte: informar, mobilizar e organizar todos os setores democráticos da sociedade para derrotar definitivamente os donos do golpe ( Globo, Itaú, Fiesp etc.) e seus serviçais. Não importa quanto tempo demore: 1 ano ou 10 anos.

      Ou construímos uma República Democrática ou nada merece nosso esforço e dedicação.

  2. Se o Lula for eleito em 2018 é capaz de manter o Henrique Meirel

    Se o Lula for eleito em 2018 é capaz de manter o Henrique Meireles no Banco Central…

    1. Henrique Meirelles não age por conta própria

      Henrique Meirelles não age por conta própria, ele é obediente, ele é experiência no mercado, mais pasme, no governo Lula ele foi exitoso por 8 anos por que como disse apesar da sua experiência estava sobre a rédia do Lula, agora ele esta sobre a rédia de um satanista que age como um barco governado p destruir o país e levar o Brasil a bater em rochas e icebergs e levar a nossa alto estima a andar como a água de chuva: RASTEJANTE

  3. Deixa eu ver se entendi

    Quer dizer que a candidatura Lula inspira a polarização, mas a figura política de Lula conspira essencialmente contra ela?…

    Se isso for verdade, teremos reeditada a mesma encenação da Dilma na campanha de 2014.

    E o resultado pode ser outra crise de igual ou maior tamanho, porque o que o PT não sabe e não parece querer saber é que as castas senhoriais não estão nem um pouco dispostas a apoiar qualquer laivo de populismo condescendente. Elas são boçais e soberanas na sua boçalidade.

    O resultado vai ser outra crise porque a conciliação, na prática, é uma estratégia ociosa, e tudo que ela carrega como tática (nclusão pelo consumo, maquiagem do conflito, neodesenvolvimentismo predatório…) é apenas uma perversidade que adia a cobrança da conta, joga água no moinho da direita e pode ser completamente desmantelado em curtíssimo espaço de tempo (que é o que está ocorrendo agora, e que eu resumi alhures na fórmula: “É a bolha da fantasia petista que está sendo desinflada, e não a sociedade que está sendo desconstruída“).

    Esse paradoxo do Fornazieri, se sustentado por inércia (como querem os petistas) significa apenas empurar com a barriga,e para o nada, qualquer possibilidade de um projeto de sociedade.

  4. Então é o seguinte: se

    Então é o seguinte: se preparem para ir para o pau!!

     

    Quero saber se o PT vai continuar com a campanha burra para o congresso, não dando importancia para o voto de legenda, ou vai tentar se fortalecer no legislativo tambem??…..

     

  5. Bom dia debatedores,
    agora

    Bom dia debatedores,

    agora sim, concordando com o renomado autor do texto acima.

    Só gostaria de sugerir alguns ajustes. Vejamos.

    Povo. Ora, que povo?  Essa palavra acaba aglutinando todo mundo no mesmo saco, o que vai de encontro ao texto. 

    Tudo indica que no Brasil temos vários povos.  Abaixo alguns sugestões.

    Povo 1 – elite que está pouco se lixando para  ( ou vinge que “aceita” , ou  aceita desde que lhe preste serviços a “preço de mercado, que ela mesma, a elite, define)   demais “povos”: povo 2, 3, 4, 5… 

    Povo 2 – classe média  do tipo  “imagem da elite”, aquela que faz o “serviço sujo-  que tá pouco se lixando para demais povos : povo 3, 4…

    Povo 3 – classe média do tipo zumbi , que não sabe onde está, para que veio ao mundo, etc. 

    Povo 4 – classe: Olha aí, olha aí, é o meu guri, e ele chega, sistema paralelo.

    Poro 5 – classe “não lugar”, transeunte, formiga, todos com a ajuda de algum “Deus” que lhe promete vida boa no reino dos céus.

    Poro 6 – classe : etc.

    E por aí vai. 

  6. Espero…

    …que nestes estes últimos tempos em que os predadores perderam toda sua discreção, façam de Lula menos Neville Chamberlain e mais Roosevelt (Franklin ou Theodore).

  7. LULA saiu com 85% de

    LULA saiu com 85% de aprovação  ..PROVANDO que Ciro Gomes esta, denovo, errado no que fala

    O sucesso da candidatura LULA dependerá do quanto os JOVENS estarão minimamente informados sobre seu maravilho governo  ..e daqui, vou insisitr em dar a minha contribuição diária  ..até que a maioria dos eleitores assimilem e não se furtem em divulgar a VERDADE em prol do BRASIL e em detrimento dos GORILAS GOLPISTAS

    ..Com LULA.. O BRASIL conheceu o BOLSA FAMÍLIA ..o MINHA CASA minha Vida , o PAC, e o salário mínimo saltar de US$ 70 pra chegar em US$ 300/mês   ..viu um FIES, PROUNI, Ciência SEM fronteira, 18 universidades e 400 escolas técnicas nascerem.. É do seu tempo o SAMU, a Farmácia Popular seguida depois do MAIS MÉDICOS (1) O Empréstimo Consignado, seguido da distribuição de HUM milhão de Cisternas (1) , do LUZ para TODOS, e da explosão da INCLUSÃO bancária e do crédito dado ao pobre e a classe média Do SUPERSIMPLES, do M.E.I.(1), da desoneração da industria e da INTERNACIONALIZAÇÃO dos Campeões Nacionais COM LULA o país era um BRIC  ..PAGOU, depois de quase 30 anos escravizado, pagou o FMI ..acumulou US$ 400 bi em reservas  ..aumentou em 50% a  SAFRA AGRÍCOLA em grãos ..em 50% VEJAM bem  ..TRIPLICOU  ..TRIPLICOU as exportações em dólares (de US$ 60 bi em 2002 para US$ 201 bi em 2010)  ..reformou milhares de km da malha asfáltica, portos e aeroportos Com Dr Luiz Inácio a PF e o MPF ganharam voz e independência ..as Instituições eram respeitadas e o povo valorizado LULA deu CONDIÇÕES pra se desenvolver com celeridade o NOVO projeto para industria Naval, satélites, pras forças armadas, pro submarino, caças, pra PRÉ SAL, pra construção da 3a e 4a MAIORES usinas hidrelétricas do mundo, e pra que 8 % da matriz energética passasse a ser fornecida por turbinas eólicas  NA ERA LULA o Brasil viu a MAIOR GERAÇÃO DE EMPREGOS, o menor índice de desemprego (1) e de inflação (1) da sua HISTORIA  É da ERA LULA que o BRASIL viu a Política de Conteúdo Nacional frutificar, e a sua fronteira marítima saltar 712 MIL KM 2 pela pré sal, além das 200 milhas náuticas originais LULA realizou a secularmente esperada TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO !!! e deixou o país com o MELHOR índice de distribuição de renda e mortalidade infantil ..enfim Claro que este trabalho todo, e outras lembranças que agora me escapam, deveriam ter sido motivo de comemoração e registro nos livros, pra que cada geração futura saiba reconhecer um dia que, HOJE, entre nós, vive o maior MITO, o MAIOR personagem que até agora este país foi capaz de ofertar ao MUNDO 

  8. Há um princípio norteador,

    Há um princípio norteador, uma ideologia a ser seguida pela direita que é a teoria da dependência do “príncipe” fhc. Países em desenvolvimento fornecem materiais, energia e trabalho aos desenvolvidos que devolvem chocalhos de alta tecnologia. Seus oito anos de governo que se caracterizou pela ausência quase completa de ações afirmativas, progressistas, desenvolvimentistas tinham o objetivo mal escondido mas bem orientado, de reduzir o país a exportador de comodites e mão de obra barata e bem comportada para as empresas multinacionais. Os doze anos de governo Lula/Dilma inverteram esta equação. O tal “ódio” das direitas precisa ser entendido nâo como uma irracionalidade, como algo semelhante a lavagem cerebral pelos políticos e pela mídia. Não, as direitas têm perfeita noção do mecanismo do ódio como maquinação, como ferramenta inteligente (vejam o caso da Venezuela; a violência lá é extratégia inteligente para causar convulsão social) para retornar ao poder e devolver os destinos do país à ideologia da teoria da dependência. Após 2015, a volta aos interesse da direita, em tudo semelhante ao período de governo do psdb, tem agora uma característica singular que é a destruição daquilo que foi construído no período de governo do pt para entregar o país à economia de terceiro mundo, papel reservado ao Brasil no concerto das nações. Erro crásso é imaginar que a turba raivosa das camisetas da CBF nos domingões da paulista não sabiam o que estavam fazendo. Seu silêncio hoje não é vergonha, mas conveniência, satifação pelas ações de sucesso que empreenderam. Na sociedade brasileira não há a menor possibilidade de conciliação, por isso: “delenda” Lula.

  9. O Brasil não pode seguir

    O Brasil não pode seguir caminhando sob a égide da farsa, da mentira e da hipocrisia – marcas degradantes de sua história. O desânimo do povo terá que se transformar em cobrança e em exigência de compromissos e responsabilidades.

    O povo terá que dizer que não aceita que deputados e senadores o traiam depois de eleitos. 

    Expressar “O Brasil não pode…”, “O povo terá que…” é puro exercício de futilidade intelectual. O Brasil do atraso e da desigualdade que está ai desde sempre se mantém e se manterá assim porque não existe nenhuma força contrária superior que possa quebrar essa lógica da nossa sociedade.

    E para quebrar não serão pessoas mesmo que extraordinárias. Pode estudar, rupturas acontecem após haver uma crise [econômica] interna muito profunda, típico de pós-guerras. Ou seja, se Lula ganhar em 2018 ou mesmo Ciro Gomes, tudo vai continuar como está… Uma elite com complexo de estrangeiro deserdado e um povo mantido na ignorância para ser feliz com sua fração.

     

  10. O populismo falastrão de Lula induz, sim, à polarização

    A polarização é induzida de duas maneiras pelo populismo falador de Lula/militância (e, aliás, qualquer populismo abre a porteira para polarizações emocionais, avessas à razão e à argumentação racional): 1) Toda e qualquer crítica são rechaçadas por argumentos simplificadores e emocionais. Toda crítica aos governos petistas sempre foi respondida à base de argumentos contra o interlocutor, seguindo variantes das seguintes fórmulas básicas: “não gosta de pobre”, “direitista”, “golpista”, “elitista” “alienado pela mídia”, etc. Essa forma de argumentação não é recente, quem acompanha as redes sociais desde os tempos do Orkut sabe que ela se organiza assim desde o primeiro mandato do PT na presidência. O conteúdo da crítica é invariavelmente ignorado e parte-se para o ad hominem contra o crítico, por mais que ele não seja nada do que se o acusa. Além de essa ser uma “argumentação” altamente enervante contra críticos bem intencionados, com o tempo a discussão racional é deixada de lado, visto o debate ter sido deslocado para frases feitas emocionais e simplórias por parte de Lula/militância. 2) O apelo emocional não admite contra-argumentos racionais, de onde a direita partiu para o mesmo campo de atuação em que nossa esquerda já estava. A “pós-verdade” na construção constante de “narrativas” para os fatos, inaugurada em terras tupiniquins pela nossa esquerda para justificar tudo, desde o mensalão até o “Sarney homem incomum”, em uma das frases mais vergonhosas já pronunciadas publicamente por Lula, teve por reação uma construção de narrativas igualmente emocionais e descaradamente falsas pela nossa direita. O campo comum para debates de ideias foi deixado de lado, restando apenas o apelo emocional de um lado e de outro. Hoje não temos qualquer resquício de lideranças políticas que não sejam populistas: Lula é o populista das esquerdas, Bolsonaro o populista dos conservadores e Dória o populista dos liberais. Mas não podemos nos esquecer que a pioneira nas últimas décadas em trazer o eixo a política nacional para o campo emocional, simplista e irracionalista foi a nossa esquerda. Hoje ela prova do próprio veneno, mas nem assim entendeu nada dos seus erros.

    1. A esquerda sempre foi populista?

      Raciocínio raso.

      Felipe, você escreve bem, mas usa mal o seu intelecto se comportando com um rastaquera.

      Lula populista?

      Um cara que veio do nordeste, retirante, virou líder sindical numa época em que um cargo desse dava projeção nacional e internacional. Fundou o maior partido de “esquerda” que essa país já viu e se tornou presidente com a maior aprovação no final do seu segundo mandato, coisa que nenhum ex presidente conseguiu.

      Tentar dristribuir renda e outros programas sociais, você considera populismo?

      Se você o considera populista, ele chegou ao poder disputando votos da população, após vários reveses por conta das elites empresariais, grande mídia, e uma classe média idiota.

      Lula não usou nenhum artifício ilícito para chegar a presidência, ao contrário de Saney, Collor e FHC, só para ficar nesse último periodo de arremedo de democracia.

      Lula não precisou do auxílio da Globo, muito pelo contrário, como Sarney, Collor e FHC com a compra da reeleição.

      E o Lula que é o populista?

      Ele é popular porque conseguiu se elger legitimamente, contra tudo e todos e por conta disso você diz que ele é populista?

      A suas eleições foram as mais legítimas das quais nenhum ex presidente pode se vangloriar.

      A polarização se originou no seio do PT?

      Esse seu argumento é típico da classe da qual você pertence.

      Quem inventou os termos petralha, molusco, analfabeto, bêbado, e o último, uma pérola do neofascismo: nine.

      Quem atirou a primeira pedra?

      Quem vivia afirmando que a Friboi era do Lula, que ele era proprietário de várias fazendas e dezenas de milhares de cabeças de gado, que ele tinha uma mansão no Uruguai, que ele era milionário com contas em bancos estrangeiros?

      E qual a conclusão que Moro chegou?

      Quem foi o político mais investigado nesse país, a não ser o Lula?

      Se outros políticos fossem investigados como Lula está sendo, Aécio, Serra, Alckmin, só para ficar nos presidenciáveis do passado recente, não sobraria nenhum. Estariam todos presos.

      E segundo o seu raciocínio rastaquera foi o Lula, PT/militância que abriu a porteira para polarizações emocionais, avessas à razão e à argumentação racional.

      Não vem não que aqui não tem para você.

      1. Quem falou que programas sociais são populismo?

        Em momento algum eu disse que programas sociais são populismo. No entanto, inúmeros outros aspectos caracterizam Lula e o PT como populistas. Não vou repetir os que já citei acima, mas se não bastaram, seguem mais alguns. O primeiro é a demonização eleitoreira da centro-esquerda, enquanto a direita reacionária e coronelista era fortalecida e ovacionada em público pelo próprio presidente Lula. O PT deveria ter feito uma aliança estratégica, talvez mesmo tácita, com o PSDB, para prosseguir na modernização do país e reduzir a influência do PMDB no governo. Dessa maneira, poderia ter tocado as reformas COM CONSCIÊNCIA SOCIAL, ao contrário das reformas que estão sendo feitas agora. Apesar de eu já mencionar essa aliança estratégica há mais de 10 anos e criticar o PT pelo oportunismo eleitoreiro, que percebeu mais pontos em comum entre ele e o PMDB que com o PSDB, não há nada de absurdo em tal aliança (que agora perdeu completamente o sentido, claro). O próprio Haddad reconheceu esse erro em entrevista recente, e não é à toa que ele é das poucas vozes sensatas no partido. O segundo é a negação em fazer qualquer reforma. Quando se pensa nos absurdos tributários sobre os mais pobres (tributação do consumo ao invés da renda), nos privilégios do alto funcionalismo público, na transferência de renda que nossa previdência “social” faz dos mais pobres para um funcionalismo que recebe muito mais que os trabalhadores da iniciativa privada, na multidão de cargos comissionados que impera no país, etc, etc, etc, soa ridícula a negação do partido e do ex-presidente em haver qualquer necessidade de reforma. Com isso abriram mão de legislar e deixaram para que a direita mais tosca fizesse as reformas, à maneira dela. Foi mais uma atitude populista, cujo preço estamos pagando agora. Por fim, a eleição de Dilma, sem nenhuma habilidade política e com ideias econômicas completamente equivocadas, criando maquiagens para disfarçar a inflação (como Haddad já mencionou também) e os desequilíbrios fiscais que estavam sendo criados, foi a cereja do bolo. Claro que mesmo Lula se surpreendeu com a teimosia dela, mas a pretensão dele era não criar nenhuma nova liderança que pudesse competir com ele (mais um tiro no pé da esquerda, porque hoje carecemos de lideranças que não dependam dele). Essa tentativa de criar um fantoche nada mais é que populismo e oportunismo eleitoreiro, que acabou jogando o país nesse buraco sem fundo. No mais, veja que te respondi sem utilizar nem um ad hominem, tente fazer isso também, já que sabe-se lá por qual tipo de telepatia está adivinhando minha classe social….

         

        1. Pelo fim

          Começando pelo fim.

          Não é telepatia não.

          Você deixou as digitais no seu comentário.

          Lula e o PT demonizando a centro esquerda?

          Onde e quando?

          Fazer aliança com o PSDB para governar?

          Você enlouqueceu?

          Por acaso FHC teve a mesma ideia de se aliar ao PT, quando governou, para fazer as reformas COM CONSCIÊNCIA SOCIAL de maneira estratégica ou talvez tácita?

          O que você não quer aceitar é que o mercado e as elites nunca aceitaram Lula/Dilma e aceitou FHC, e por isso não ” precisou” do PT para se aliar para governar, porque ele sempre foi dissimulado e quando chegou ao governo fez as reformas que as elites sempre quiseram. FHC sempre foi velhaco.

          Faça uma pequena retrospectiva, e me responda: se não houvesse os governos Lula/Dilma, o país estaria nesse bucaro?

          Esperando a sua resposta, eu tenho a minha.

          A chegada do PT ao poder, levou sim o país nessa encruzilhada.

          Não foram nem de londe pelos erros do Lula/Dilma, mas sim pelos acertos. E olha que não foram aqueles acertos. Eu diria que foram apenas o feijão com arroz.

          Isso deixou claro que a elite desse país não aceita qualquer espécie de mudança que atenda o social, e queira um país independente e soberano.

          O que ficou latente no pós redemocratização com as tentativas frustradas de Sarney e Collor, a elite se esbaldaram nos governos FHC (com quem você proporia aliança estratégica).

          Sabe de uma coisa, para mim Lula foi eleito quase que exclusivamente pelo fracasso monumental dos governos FHC e em termos populares foi um desastre ferroviário.

          Imagina você se houvesse um apagão no governo Lula.

          Não houve um motivo de tal envergadura, mas houve o mensalão (do qual não sei a sua opinião), que não o derrubou porque além de ser um hábil político ele usufruiu do seu “populismo” para não ser engolido.

          Não queira dourar a pílula com essa ideia de união nacional com tucanalhas e petralhas, porque são correntes de pensamentos imiscíveis.

          Vou ser curto e grosso para finalizar.

          Está claro há muito tempo, e só não enxerga quem não quer.

          Os brasileiros terão que fazer uma escolha, se quiser ser soberano e independente terá que fazer a luta com derramamento de sangue nas sargetas, mas o sangue dos inimigos do país, porque o sangue já jorra nas sagetas há muito tempo com a complacência daqueles que um dia terão que se definir: se rebelarem, ou se subjugarem para sempre.

          1. Francisco, veja só

            1) Deixa eu adivinhar a sua classe social: você é classe média, assim como eu, assim como a esmagadora maioria dos progressistas. O “povo” não é a coisinha idílica fantasiada pela esquerda: o “povo”, em grande parte, é evangélico, conservador, reacionário, preconceituoso, etc, etc. Isso mostra como é ridículo o cacoete de nossa esquerda vir querer mencionar a classe social do interlocutor em todas as discussões. O mesmo esquerdista que questiona isso é, ele mesmo, de classe média. E veja o paradoxo da hipocrisia de nossa esquerda: caso queiramos tornar esse país justo, teremos tornado a classe média a maioria nele. Ou seja, além de hipócrita, é contraditória a agressão à classe média. Lula foi eleito com votos da classe média, e governou com o PT falando mal dela. Político que fala mal do seu próprio eleitorado é suicida. E depois reclamam ter perdido apoio entre essa mesma classe social….. 2) O PT tem uma linha antagonista para com o PSDB, mas não com o PMDB??? Agora sim está explicado como chegamos onde chegamos!!!!! 3) FHC buscar diálogo enquanto o PT pedia seu impeachment (na época, isso não era chamado de golpismo) desde o primeiro dia de mandato, realmente não parece factível. Mas o PSDB nos primeiros anos de governo Lula só com muita boa vontade poderia ser chamado de “oposição”, dada a pouca atividade do partido nesse sentido. Já o PT continuou como se fosse um partido oposicionista, fazendo inúmeras falsificações históricas e atuando como se o PSDB ainda estivesse no poder. A escolha do PSDB como inimigo, e não o coronelismo do PMDB, foi uma escolha eleitoreira e populista de Lula e do partido. Resultado: o PMDB voltou ao poder, e a centro-esquerda está mais enfraquecida que nunca. Parabéns pela miopia!

  11. “Com a opinião pública

    “Com a opinião pública apática, desanimada e desmobilizada”;

    quem retornou a (uma aparente apatia) foram as frações progressistas da classes médias;

    o povo sempre esteve apático, desanimado e desmobilizado – e são eles que devem tomar o controle do país.

    Não adianta a classe média ir pra rua pra servir de isca pra uma ditadura violenta que a massacrará – isto é comportamento de adolescente impulsivo. 

    O Brasil só alcançará sua maioridade como nação quando o povo tomar o controle da sociedade – cabe a nós, membros das classes médias, ter humildade e aceitar que são eles que devem nos liderar em uma eventual revolução (e não o oposto).  

  12. Excelente texto

     Ciro Gomes diz que Lula racha o pais, mas ele sem ter sido nada ultimamente também racha, já explicitei que se Lula nao concorrer voto em Ciro e houve rejeição dos meus ouvintes de direita, então meu querido Ciro o pais esta rachado em direita e esquerda e não direita e Lula, qualquer candidato de esquerda racha o pais, Bolsonaro vai vir forte pois é simbolo de militarismo e a população quer isto, mas trabalhador consciente vota em trabalhador.

  13. Toda essa tragédia – creio

    Toda essa tragédia – creio que a palavra não é exagerada pro quadro atual – me mostrou uma coisa = não adianta um candidato que tenha o mínimo de sensibilidade social chegar ao poder e fazer pactos com os reacionários e achar que eles ficarão quietinhos, não vão dar o bote. Como o escorpião sobre as costas do sapo no meio da lagoa, o escorpião irá ferrar o sapo, pois está é a sua natureza. Os dois presidentes civis que fizeram esse pacto e terminaram o mandato – JK e Lula – depois foram vítimas daqueles mesmos que eles ajudaram a ganhar muito muito dinheiro. E é por isso que a Globo não vai deixar de jeito nenhum o Lula ser candidato, pois ela sabe que o Lula vai ter a obrigação moral para com os que votaram nele de, no primeiro dia, fazer um decreto tirando toda a verba estatal da mídia golpista. Até porque se Lula não fizer isso, ele será um traidor dos que nunca o abandonaram, mesmo nesse período de trevas. 

  14. O golpe de 2016 enterrou

    O golpe de 2016 enterrou qualquer possibilidade de conciliação. Apenas um partido de estúpidos e desonestos pode acreditar ainda em conciliação. Mas qual redicalização um governo de esquerda deve adotar ? Para consolidar um governo e um projeto de país, a radicalização fundamental deve recair sobre a educação: um choque cultural-midiático que transforme a apatia popular em consciência social e política.   

    1. Tem toda a razão.

      Já que o Moro deixou de ser juiz há muito tempo, se é que um dia o foi, sendo ele político, pode dizer com conhecimento de causa que a magistratura contaminada pela ambição de fazer carreira na política não tem o menor interesse e nem possibilidade de combater a corrupção. Porque a corrupção é a mágica geradora do poder político do judiciário partidário. É surfando sobre esse tema, em associação, no modelo de Formação de Quadrilha, com empresários criiminosos, como os donos da rede sonegadora de televisão, que eles construíram o poder político que lhes permite ganharm mais que todo mundo, acima dos tetos legais, ter benefícios abusivos em cima desses já escandalosos privilégios e ainda posar de heróis enquanto apoiam a retirada de direitos daqueles que já não têm nem o que comer.

      Nesse caso, o Moro está com a razão. 

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