Partidos de esquerda se dividem na Câmara, mas votarão juntos contra Bolsonaro

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
[email protected]

Deputados assumiram mandatos nesta sexta-feira. Serão os encarregados de votar agenda de Bolsonaro (LUIS MACEDO/CÂMARA DOS DEPUTADOS)

Câmara

da Rede Brasil Atual

Partidos de esquerda se dividem na Câmara, mas votarão juntos contra Bolsonaro

O campo progressista formou dois blocos partidários. O maior, liderado por PCdoB e PDT, com 105 deputados. O segundo tem 97 parlamentares de PT, PSB, Psol e Rede

por Eduardo Maretti, da RBA

São Paulo – Os partidos de centro-esquerda passaram os últimos dias em tensas reuniões e intensas negociações por entendimento em busca de posições dentro da Câmara dos Deputados e de espaço político na Casa, participação na Mesa Diretora e nas comissões. O campo progressista se  dividiu em dois blocos. O maior dos dois foi formado por 105 deputados, composto por PDT, com 28, Pode (17), Solidariedade (13), PCdoB (10), Patri (9), PPS (8), Pros (8), Avante (7), PV (4) e Democracia Cristã (1).

PT lidera o segundo bloco, mas é formado somente por partidos de oposição programática ao governo Jair Bolsonaro. Com 97 parlamentares, além dos 54 petistas, esse bloco é formado por PSB (32), Psol (10) e Rede (1). Os dois blocos de centro-esquerda somam 202 deputados.

O governo conta com o maior dos três blocos, com 301 deputados. Em suas hostes, o partido do presidente da República, o PSL, que tem 52 deputados, junto com PP (38), PSD (35), MDB (34), PR (33), PRB (30), DEM (29), PSDB (29), PTB (10), PSC (8) e PMN (3).

O PCdoB e o PDT não chegaram a acordo com o PT e os aliados de seu bloco para formar uma força única. Os comunistas apoiam o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), à reeleição. Aliado do PCdoB na eleição à presidência da República, com a chapa Fernando Haddad e Manuela D’Ávila, o PT considera que o apoio do PCdoB a Maia, por tabela, é um apoio ao governo.

“Nossa decisão foi apoiar Rodrigo Maia, e não fazer bloco com o PSL, que está em outro bloco”, diz Orlando Silva (SP), líder do PCdoB na Câmara.

“Só tem um bloco de esquerda, formado pelo PT, Psol PSB e Rede. O outro bloco é formado por partidos do campo popular, mas a maior parte dos partidos apoia o governo Bolsonaro e esses partidos estão aliados com o governo. Portanto, não existem dois blocos da esquerda”, cutuca o líder do PT, Paulo Pimenta (RS). O bloco fechou o apoio a Marcelo Freixo (Psol) à presidência da Câmara.

“A unidade vai se dar na luta, porque a eleição da Mesa é apenas uma disputa para organizar internamente a casa. Nós achamos que é um erro lançar uma candidatura só para marcar posição”, responde Orlando Silva. Segundo ele, o PCdoB não apoia Rodrigo Maia por cargo nem comissão. “O principal compromisso dele conosco é discutir a pauta da Câmara. Nosso campo perdeu a eleição. Não podemos imaginar que quem perde eleição na urna para presidente vai ganhar com manobras no parlamento, que é um ambiente contrário à luta popular.”

Mas a questão que se impõe é: não seria natural que todos os partidos progressistas, que têm uma ação política programática, se unissem num mesmo bloco? “Seria natural se o PT tivesse capacidade de dialogar. Para dar um exemplo, desde o ano passado tentamos uma reunião com o líder do PT. Mas a primeira vez que ele aceitou se reunir comigo foi ontem (31)”, responde Orlando Silva.

“Nós fazemos  parte, junto com o PCdoB e os demais, do bloco da minoria, e achamos que foi uma opção política que o PCdoB fez, uma opção que não vamos comentar. Optamos por um outro caminho, o caminho da unidade do campo popular. E independente, em oposição ao governo Bolsonaro e à administração do Rodrigo Maia”, afirma Pimenta.

Independentemente da disputa política dentro do Congresso Nacional e da formação dos blocos, para o analista Antônio Augusto de Queiroz, o Toninho, do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), o que se pode assegurar é que os partidos do campo popular, à esquerda, vão “marchar juntos” contra a pauta do governo Bolsonaro.

“Sem dúvida nenhuma, o PDT e PCdoB votam em sintonia com o PT, com PSB, com Psol, na matéria temática. Tanto do ponto de vista cultural como fiscal, vão marchar unidos, porque têm uma visão de mundo.” 

Apoio a Bolsonaro

Segundo análise do Diap, a composição de apoio ao governo Bolsonaro na Câmara é a seguinte: o presidente teria 255 votos de apoio consistente e 117 condicionados, contra 140 da oposição. Queiroz explica que, politicamente, esses números são muito mais próximos da realidade do que a soma dos parlamentares dos dois blocos supostamente de oposição, que chega a 202 deputados.

Para ele, há grande possibilidade de o Congresso aprovar a reforma da Previdência “mais ou menos” como o governo quer, mesmo com a exigência, nesse caso, de maioria qualificada de 308 votos. “Tirando os partidos nos quais se pode apostar que serão contra as reformas como a da Previdência, PT, Psol, PCdoB, PDT e PSB, os outros não têm compromisso ideológico contra o modelo de Estado defendido por Bolsonaro.”

O analista discorda de opiniões segundo as quais as denúncias contra Flávio Bolsonaro vão minar a capacidade parlamentar do governo. Em sua opinião, o governo vai trabalhar na “desconstitucionalização” de matérias que exigem mudança na Constituição, como no caso da Previdência. “Ou seja, ele deve remeter para a lei ordinária grandes questões, deixando alguns princípios na Constituição. A lei precisa de menos votos.”

Para Queiroz, a equipe econômica está blindada e a grande imprensa “está apoiando 100%” a reforma da Previdência. “Para o governo, é o melhor dos mundos: ele tem um aliado que é a imprensa e pode apresentá-la como inimigo, já que ataca o governo nas questões morais e culturais.  Isso dá legitimidade, porque ele pode dizer que ‘até os inimigos reconhecem essa necessidade’. A lógica é essa”, conclui o analista.

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Ecos do “domingo sangrento”, por Ricardo Capelli
      

    Ricardo Cappelli

    32 min ·  

    ECOS DO “DOMINGO SANGRENTO”

    Ricardo Cappelli

    Domingo, 5 de agosto de 2018. No último dia para registro de candidaturas à presidência da República, Lula faz valer sua força e impõe de forma legítima a sua vontade.

    O PSB é arrastado para a neutralidade. O PCdoB declara apoio ao PT. O PDT termina isolado. Ciro esbraveja. O socialista Márcio França divulga carta atacando a direção de seu partido. Os comunistas tomam a decisão perto da meia noite depois de um debate interno duro.

    Não há fotos da esquerda unida e sorridente se abraçando. Quem ganhou deu um sorriso amarelo. Os perdedores, indignados, recolheram as armas para o próximo embate.

    Não há mocinhos nem bandidos. Certos ou errados. Política é correlação de forças. Se a resultante fosse uma vitória tudo acabaria se arrumando. Infelizmente, o desfecho foi outro.

    A eleição para a presidência da Câmara foi parte deste acerto de contas e das divergências que permeiam o campo popular e democrático. Maia, Freixo, Arthur Lira e JHC, os candidatos defendidos por setores da esquerda ao longo do processo, foram expressões das diferenças.

    Discurso ideológico inflamado é jogo de cena para a platéia. A história recente está cheia de exemplos de acertos entre PT e PSDB, PMDB e PT, e apoio do DEM ao PCdoB nas eleições para as casas legislativas. A leitura da correlação de forças e a estratégia de cada partido é o que define os arranjos finais.

    Rodrigo Maia construiu um bloco que ameaçava isolar o PT e o PSL. O Planalto, percebendo o risco, aderiu ao favorito. Chamar Maia de bolsonarista é forçar a mão. O Democrata é um liberal. Virou candidato praticamente único por respeitar os partidos, os ritos e a democracia na Casa.

    Considerando a questão democrática a mais importante, e coerentes com a defesa da Frente Ampla, PCdoB e PDT decidiram apoiar o candidato do DEM. Os comunistas conseguiram com isso ampliar a defesa de sua sobrevivência partidária. Os Trabalhistas viram no movimento uma forma de tentar tomar do PT a liderança da oposição.

    O PSB – que trabalhava a construção de um bloco com PDT e PCdoB – fez um movimento contraditório de difícil compreensão. Rompeu com o bloco fazendo um discurso à esquerda e lançou à presidência da Câmara o jovem JHC, militante da campanha de Bolsonaro em seu estado. Os socialistas parecem ainda se ressentir da falta do saudoso Eduardo Campos.

    O PT adotou uma tática em sintonia com a estratégia traçada desde as eleições. O partido luta para manter cativo seu lugar de líder da oposição. A “guinada à esquerda” dada por sua direção cumpre este objetivo. Fechar qualquer flanco que permita o surgimento de forças alternativas nos 20% do eleitorado progressista brasileiro.

    O cálculo é simples. Qualquer ampliação pode diluir a imagem e a liderança do partido. Marcar posição é a palavra de ordem. A lógica é repetir a tática do “colégio eleitoral”, quando o partido denunciou e se recusou a participar da eleição indireta que elegeu Tancredo. Esperam com esta política, quando um dia a conjuntura virar, serem os beneficiários diretos e naturais.

    O PT começou defendendo a candidatura de Arthur Lira à presidência da Câmara. O deputado do PP se lançou num movimento de reação de parte do Centrão à adesão do PSL à Maia. Estava claro desde o início que a candidatura era somente um instrumento de barganha.

    Mas a defesa pelo PT do apoio à Lira serviu ao discurso do partido de apoiar uma “frente ampla não bolsonarista”, demarcando um campo. Com a desistência do deputado do PP, o PT ficou diante de uma situação difícil: lançar candidato próprio ou apoiar o PSOL.

    A candidatura própria seria morder a isca da acusação de que o partido é hegemonista. Uma das regras básicas na política é nunca deixar transparecer suas reais intenções. O apoio ao candidato psolista também embutia riscos. Sinalizava a opção pelo isolamento sectário. Dificilmente o PT seguiria unido neste caminho. Todos sabiam disso.

    Quando ficou claro o caminho do PT e o movimento do PCdoB de fazer de seu bloco com o PDT o segundo maior da Câmara atraindo partidos menores, setores do PT, temendo a perda de espaços, passaram a negociar com Maia nos bastidores. Prometeram 20 votos. Acabaram dando entre 16 e 18 votos ao presidente eleito. Tudo legítimo e compreensível.

    O ponto fora da curva foi o ataque dos setores sectários do PT, usando o PSOL, ao PCdoB. Questionar a fusão do PCdoB com o PPL, forma de superação da cláusula de barreira, foi um erro que teve o efeito inverso. Inflamou a unidade comunista. Um recibo desnecessário da inconformidade com a posição adotada pelos Comunistas.

    O desfecho plantou mais intrigas e desconfianças. Não há o que comemorar. A esquerda sai deste episódio ainda mais dividida. Não há unidade, nem mesmo dentro dos partidos. Uma reorganização partidária ampla no campo não seria novidade.

    Por mais que os bombeiros tentem jogar água, as conseqüências seguem sendo inevitáveis. Os ecos do “domingo sangrento” foram ouvidos com força na Câmara. As gotas de sangue devem continuar pingando por um longo tempo, até que alguma visão se torne novamente hegemônica ou que um novo maestro surja e seja capaz de reorganizar a orquestra.

     

    1. Adendo ao texto do Capelli

      Em 2022, o PT (leia-se Lula) vai, enfim, realizar um sonho há muito acalentado pela militância, uma chapa puro sangue. Não por opção, mas dramaticamente por falta de opção. Não vai encontrar um único partido que queira coligar. 

  2. Recebi via WhatsApp: temos como opções o espeto e a brasa…
    BOLSONARO CAIRÁ

    Bolsonaro cairá. Não pelas ostensivas ligações de sua família com as milícias no Rio de Janeiro, mas cairá. Aos donos do poder pouco importa terem um miliciano como presidente, desde que faça as reformas que requerem. Mas Bolsonaro é o cara errado, é incapaz, um ser completamente imbecilizado, e já escrevi sobre isso. Ele foi e será o idiota útil até quando interessar ao sistema. O ministro Marco Aurélio rejeitou o foro privilegiado de Flávio Bolsonaro, e é óbvio que as conexões com as milícias brotarão ainda mais. Já há evidências de crime de peculato e outras surgirão.

    A semiótica é uma ciência fascinante, e basta percepção e análise simples, rasas, para se enxergar a construção da figura do presidente “ideal”: Hamilton Mourão. Desde Davos, as imagens que publicam de Bolsonaro o “desqualificam”: um homem com semblante assustado, medroso, um homem desalinhado, a ausência revelada na foto da entrevista que não aconteceu, um homem submisso e subserviente, a pessoa errada no lugar errado. Além disso, usam as falas equivocadas, os erros de português, as mentiras, que o transformam numa figura idiotizada. E ele o é. Basta uma réstia de senso crítico para enxergar isso.

    Em contrapartida, constrói-se uma imagem inversa de Mourão, o vice que aparece mais que o presidente. Desde a posse, Mourão aparece alinhado, em ternos de bom corte. Seu discurso em nada lembra o general autoritário e tresloucado da campanha eleitoral, que chamou indígenas de indolentes e negros de malandros, que preconizou o fim do 13˚ salário, que falou sobre refazer a Constituição Federal com um colegiado de especialistas. Agora, por algumas vezes, desautorizou ou contradisse o presidente, demonstrando bom senso. Rejeitou a intervenção brasileira na Venezuela, negou a mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, colocou-se contra a privatização dos Correios, colocou-se favorável à descriminalização do aborto, entre outras posturas que, em princípio, poderiam soar como posições progressistas. Constroem a imagem de um presidente muito mais capaz e digno ao cargo.

    Mourão é o nome ideal da Rede Globo e de outras empresas e instituições que exercem o poder de fato no país. A idiotia de Bolsonaro não os serve. A ligação estreita com a bancada evangélica, e suas alucinações de poder, não interessam aos poderosos, e nem a nós, claro. Portanto, Bolsonaro cairá.

    No entanto, Mourão não é o gentleman que tem fingido bem ser. Ao contrário, é autoritário e sectário, como o tresloucado da campanha, mas é infinitamente mais inteligente que Bolsonaro, e encera muito bem e pacientemente o chão para puxar o tapete do presidente. E assim o fará.

    Os fãs-eleitores de Bolsonaro, que em sua maioria são os mesmos que eram fãs-eleitores de Aécio, estão assustados, perdidos, ainda não sabem como se posicionar. As posturas do vice são uma surpresa negativa. Já há os insanos que o chamam de comunista. São os que ainda defendem o presidente e suas posturas fascistas. Ao cair Bolsotão.naro, a quem chamaram de Mito, dirão que nunca tiveram político de estimação, e passarão a adorar Mourão. Talvez um ou outro alucinado ande sem rumo pelas ruas gritando “a nossa bandeira jamais será vermelha”…

    A nós, progressistas, não há motivos para comemoração. Quer dizer, a queda de Bolsonaro e sua matilha, será motivo de comemoração sempre. O clã miliciano precisa ser punido. Além do que a onda de idiotia que assola o país talvez se amenize um pouquinho. No entanto, em termos políticos, pouca coisa mudará. E haverá um presidente militar, autoritário e retrógrado, sustentado no poder pelos meios de comunicação hegemônicos. Infelizmente, a construção das narrativas continua a ser deles, ou dos que patrocinam posts no WhatsApp. De toda forma, está sob a égide do Capital. Enquanto isso o país continuará mergulhado na indigência intelectual profunda e no messianismo político. Mourão será o Mitão.

    Aliás, os que dizem não terem político de estimação, sempre os tiveram, de Maluf a Bolsonaro, pois a maior parte dos que votaram em um votavam no outro.

    * Atentem-se na semiótica. Lembrem-se da desconstrução da imagem da Dilma por parte da mídia. Muita coisa se repete.

    Texto de Cadu de Castro

  3. Progressista
    Quem pode se considerar como progressista com 62 milhões de cpfs negativados? Quase 12 milhões de desempregados? 60 mil assassinatos por ano? 1 milhão de adolescentes em idade escolar fora da escola? 30 milhões de analfabetos funcionais? 7 milhões sem moradia própria e mais 22 milhões sem moradia digna? Onde está o progresso cara pálida? Esse é o Alzheimer do PT!

  4. O grande problema agora é o Senado

    Que poderá ter um judeu sionista truculento na presidência, o tal Davi Alcocumbre.

    Mais um para fomentar essa aliança espúria com o Estado fascista de Israel.

    Se isso ocorrer, será mais uma derrota das forças progressistas.

      1. A perguntinha de costume de um fascista

        Vladimir Jabotinsky, do Irgun, era um fascista e sionista. Como ele há vários.

        Esse equívoco já foi por terra há tempos.

        Por que “anti-semita”? Os árabes também são semitas, e não se fala dessa forma quando se refere a eles.

        Por essa definição, os sionistas também são anti-semitas, pois massacram os palestinos.

  5. Os fascistas sempre foram e continuarão sendo antisemitas sr. Wednes. Quem aderiu aos fascistas daqui e da grande nação foi o governo de extrema-direita de Israel. Também no passado essa corrente aderiu a Hitler. Quem tinha muito dinheiro fugiu para os EEUU. Quem não tinha morreu nos campos de concentração. A história é cruel mas é verdadeira. Não engana. Também aqui os fascistas esconderam muito bem suas intenções durante os últimos 30 anos e a esquerda mal preparada e mal informada sequer percebeu que eles continuavam por aí firmes e fortes se preparando para o quadro atual. O problema é que o estudo de História por aqui é muito precário e de política, então, zero.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador