PELA HONRA DOS “MARAGNOTOS”, POR JEANDERSON MAFRA.

 
A baronesa e romancista George Sand (pseudônimo de Aurore Dupin), disse certa vez que “a calúnia e a injúria são as armas prediletas dos ignorantes” e não é difícil notar que estas atitudes mesquinhas, realmente, condizem com um espírito igualmente vil e medíocre.  É o relato a seguir.
Há poucos dias soube que um servidor público de alta patente no Maranhão, cometeu a injúria, dentre outros adjetivos ofensivos, de chamar os maranhenses de “porcos” além de nos considerar uma sub-raça. O indivíduo é gaúcho e conseguiu um emprego público no Estado sem concurso à época (ou seja: “entrou pela janela”). A sua ojeriza ao povo maranhense (e, creio, deve se estender a todo povo nordestino) nada tem a ver com a falta de higiene ou comportamento de nossa gente. Evidente, que tem a ver com o preconceito e racismo enraizado na sua má educação e na afetação de superioridade deste sobre os demais compatrícios. 
Segundo o relato fidedigno que ouvi, – e pelo conhecimento que tenho do tal indivíduo – o racismo e a discriminação são peculiares e fazem parte da personalidade arrogante do sujeito. É uma herança perversa advinda da retórica nazista que ainda hoje permeia o entendimento de “não poucos” imigrantes europeus estabelecidos na região sul e sudeste do país, principalmente daqueles de origem alemã, como é o caso. 
Minha indignação e repulsa foram imediatas. Ademais, não podemos aceitar que ofendam nossa gente e ainda por cima em nosso território. O discurso que este indivíduo carrega não é diferente da que o atual presidente estadunidense Trump propaga em palavras e atitudes. Este também se refere ao povo sul-americano com desrespeito, “os porcos latinos”, referiu-se a nós uma vez. No campo das atitudes, construiu um extenso muro na fronteira com o México – “o muro da vergonha” – que, não somente, separa aquele país do México, mas o separa de toda a América Central e do Sul. Um desprezo e ofensa materializados e que tornam surreais qualquer simpatia gratuita de brasileiros e latinos à casa do Tio Sam.
O que também deve ser deixado claro e que muito indigna, é ver que compatriotas e conterrâneos justifiquem estes ataques à nossa identidade local com “Ah, tem muitos maranhenses que não gostam de sê-lo e também falam mal do Maranhão” ou “Há negros que também não gostam de sê-lo e maldizem sua cor”. Frases enunciadas por pessoas inconscientes de sua grandeza e origem que nunca servirão de motivo e nem deveriam ser levantados na discussão, usados como desculpas para a inércia, para o engolimento de sapo representado pela afronta estrangeira, fazendo com que nos rendamos à violência simbólica como derrotados que aceitam levar desaforo pra casa e o pior de tudo: dentro da própria casa e por um indivíduo vivendo às custas do erário do povo que ele mesmo ultraja e não serve com respeito. 
Ora, Isso é inaceitável! 
O povo maranhense tem uma história gloriosa ainda que pouco conhecida pela maioria pobre, privada que foi por governos saqueadores do bem público e que nunca se preocuparam com a educação de nossa gente e o fortalecimento de nossa identidade tão altaneira e singular. Porém a História é testemunha do que somos. Nossa raíz negra e indígena marcada pela luta em prol da Liberdade e direitos; nossa história de resistência e revoluções, desde a Revolta de Beckman à Balaiada, este clima tropical sempre nos forjou para o conflito, todo este temperamento tempestivo contra a tirania e exceção formaram homens e mulheres honrados que construíram a identidade do Brasil em todos os aspectos. Foi um maranhense, Raimundo Teixeira Mendes, autor da bandeira republicana e do eu lema positivista, além de ser um daqueles que mais contribuíram para formação filosófica, política e social do nosso país. A primeira romancista e literata brasileira, Maria Firmina dos Reis, também é maranhense. Mulher, neta de escravos e mestiça (como todos nós), foi a primeira a fazer uma crítica à escravidão por meio da humanização dos personagens escravizados, em seu romance “Úrsula” (1859), antes mesmo de Castro Alves e Bernardo Guimarães. Maria Firmina dos Reis ainda formou a primeira Escola Mista do Brasil e em meio aos debates abolicionistas publicou um conto ainda mais crítico, “A escrava” (1887), que conta a história de uma mulher de classe alta ‘sem nome’ que tenta salvar uma mulher escravizada. A crítica à escravidão chega a ser mais visceral quando, em uma passagem, a protagonista diz que o regime “é e sempre será um grande mal”.
Os grandes literatos e poetas brasileiros eram, em sua maioria, maranhenses: Arthur Azevedo, Graça Aranha, Gonçalves Dias e tantos nomes que nem caberiam neste preâmbulo. Não por caso, fomos intitulados de Atenas Brasileira e não para por aqui. Somos um Estado rico e podemos muito bem ser autossuficientes. Visto por baixo: estamos em uma posição privilegiada e estratégica e que – se fosse mais compreendida no período da Revolta de Beckman – seria ainda mais um motivo para a possível declaração de Independência dos “maranhotos” (nosso antigo gentílico). Pois, naqueles dias, estávamos à beira de uma “separação” do Brasil e, por conseguinte, da coroa portuguesa. Contávamos com apoio da Grã-Bretanha e, é preciso lembrar que, nosso território compreendia toda a extensão que vinha do Amazonas, Amapá, Pará até o Piauí e partes do Ceará. Era o “Estado do Grão Pará e Maranhão” com sede do governo em São Luís. 
Então, é necessário esclarecer que o Maranhão tem Identidade e História e que seus filhos e filhas ajudaram a construir a do Brasil. Se há algum brasileiro que se jacta de suas origens europeias e se identifica mais com estas que com seu verdadeiro país, o Brasil, que se decida por deixa-lo e vá viver sua ilusão. 
Jamais aceitaremos o vitupério e os insultos dos que, vivendo e gozando das benesses do Maranhão, preferem arrotar “Deutschland, Deutschland uber alles…” em vez de entoarem “Maranhão, Maranhão berço de heróis! Por divisa tens a Glória…!”
Há muito a se dizer! No mais, aguardemos o retorno de Dom Sebastião e a aurora de nosso Quinto Império. E que a grande Serpente dilacere as vísceras dos covardes inimigos de nossa terra no dia do Levante!
Contenho-me e encerro com este Repúdio à insolência deste “forasteiro” que desrespeita o Maranhão e o povo da terra que o acolhe!
 
 
_Maranhotos, marchem!
Redação

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