PELO CAMINHO BRILHANTE

ENTREVISTA COM RICHARD DAWKINS

de Krishna & Steven Carr

O Channel 4 do Reino Unido fez uma série de entrevistas de meia hora em 1994 chamada The Vision Thing. Várias pessoas com diferentes crenças foram entrevistadas por Sheena McDonald, uma respeitada jornalista de TV. O único ponto de vista Ateísta foi posto por Richard Dawkins em 15 de Agosto de 1994.

(Introdução de McDonald)

Imagine nenhuma religião! Até não-crentes reconhecem o valor chocante da letra de John Lennon. Um universo sem deus ainda é uma idéia chocante na maioria das partes do mundo. Mas um zoólogo Inglês que faz uma cruzada por sua visão de um mundo da verdade, um mundo sem religião, que ele diz ser a inimiga da verdade, um mundo que entende o verdadeiro significado da vida. Ele chama a si mesmo um fanático científico. Em Londres eu me encontrei com Richard Dawkins.

(McDonald)

Richard Dawkins, você tem uma visão do mundo – esse mundo livre de mentiras, não as pequenas mentiras com que nos protegemos, mas o que você vê como a grande mentira, que é que deus ou algum criador onipotente fez e observa o mundo. Agora, muitas pessoas estão procurando um significado no mundo, muitos deles acharam através da fé. Então o que é atrativo no seu mundo sem deus, o que é belo – porque alguém iria querer viver no seu mundo?

(Dawkins)

O mundo e o universo são lugares extremamente belos, e quanto mais nós compreendemos sobre eles mais belos eles parecem. É uma experiência imensamente excitante ter nascido no mundo, nascido no universo, olhar em volta de você e perceber que antes de morrer você têm a oportunidade de compreender uma imensa quantidade de coisas sobre este mundo, sobre este universo, sobre a vida e sobre por que estamos aqui. Nós temos a oportunidade de compreender bem, bem mais do que qualquer um de nossos predecessores jamais tiveram. Está é uma oportunidade excitante, seria uma lástima soprar isso e terminar sua vida não tendo compreendido o que há para compreender.

(McDonald)

Certo, bem, vamos maximizar essa oportunidade. Pinte o mundo, descreva a oportunidade que muitos de nós – você irá provavelmente dizer a maioria de nós – não estamos explorando para apreciar o mundo e para compreender o mundo.

(Dawkins)

Bem, suponha que você olhe para um animal tal como um humano ou um ouriço ou um morcego, e você realmente quer saber como ele funciona. O jeito científico de compreender como ele funciona seria tratar ele como um engenheiro trataria uma máquina. Então se um engenheiro fosse empunhado com essa câmera de televisão esse engenheiro iria pegar uma chave de fenda, dividir a câmera em pedaços, talvez tentar fazer um diagrama de circuitos e tentar descobrir o que essa coisa fazia, para que servia, iria explicar o funcionamento da máquina toda em termos de pedaços, em termos de partes.

Então o engenheiro iria provavelmente querer saber como ela veio parar onde estava, qual a história dela – ela foi montada em uma fábrica? Foi apenas um tipo de repentina montagem espontânea? Agora esses são os tipos de perguntas que um cientista faria sobre um morcego ou um ouriço ou um humano, e nós temos um grande caminho a percorrer, mas uma grande quantidade de progresso foi feita. Nós realmente compreendemos muito sobre como funcionamos nós, ratos e pombos.

Eu falei apenas do mecanismo de uma coisa viva. Há um outro conjunto completo de perguntas sobre a história das coisas vivas, porque cada coisa viva veio ao mundo através de nascimento ou incubação, então você tem que perguntar, de onde essa estrutura veio? Veio imensamente dos seus genes. De onde os genes vieram? Dos pais, dos avós, dos bisavós. Você volta através da história, voltando através de incontáveis gerações da história, através de ancestrais peixes, através de ancestrais parecidos com minhocas, através de ancestrais parecidos com protozoários, até ancestrais parecidos com bactérias.

(McDonald)

Mas o ponto final desse processo seria simplesmente uma compreensão do mundo físico.

(Dawkins)

O que mais há?

(McDonald)

Mas para aceitar a sua visão, tem-se que rejeitar o que muitas pessoas suportam com muito carinho e proximidade, que é a fé. Agora, por que a fé, por que a fé religiosa é incompatível com a sua visão?

(Dawkins)

Bem, fé como eu compreendo – você não se importaria em usar a palavra fé a não ser que ela estivesse em contraste com outros meios de saber algo. Então fé para mim significa saber algo apenas porque você sabe que é verdade, ao invés de porque você viu alguma evidência que isso é verdade.

(McDonald)

Mas se eu disser que eu acredito em deus, você não pode provar a não existência de deus.

(Dawkins)

Não, e a virtude de usar evidência é precisamente que nós podemos chegar a um consenso sobre isso. Mas se você escuta duas pessoas que estão argumentando sobre algo, e cada uma delas têm uma fé passional que elas estão certas, mas elas acreditam em coisas diferentes – elas pertencem à religiões diferentes, fés diferentes, não há nada que elas possam fazer para acabar com sua discordância antes de uma atirar na outra, e é realmente o que elas fazem muito freqüentemente.

(McDonald)

Se a religião é um obstáculo para a compreensão do que você está dizendo, porque ela está errando?

(Dawkins)

Um criador que criou o universo ou estabeleceu as leis da física e então a vida teria evoluído ou quem realmente supervisou a evolução da vida, ou algo parecido com isso, teria tido que ser algum tipo de superinteligência, algum tipo de megamente. Essa megamente teria que estar presente bem no começo do universo. Toda mensagem da evolução é que complexidade e inteligência e todas as coisas que viriam com ser uma força criativa vem depois, elas vem como uma conseqüência de milhões de anos de seleção natural. Não havia inteligência cedo no universo. A inteligência surgiu, ela surgiu aqui, talvez ela tenha surgido em muitos outros lugares nesse universo. Talvez em algum lugar em alguma outra galáxia haja uma superinteligência tão colossal que do nosso ponto de vista ela iria parecer ser um deus. Mas ela não pode ser o tipo de deus que nós precisamos para explicar a origem do universo, porque ela não pode ter estado ali tão cedo.

(McDonald)

Então a religião está vendendo uma mentira fundamental.

(Dawkins)

Bem, eu penso que é sim.

(McDonald)

E não há possibilidade de haver algo além do nosso conhecimento, além da sua habilidade como um cientista, zoólogo, para […]

(Dawkins)

Não, isso é bem diferente. Eu penso que existem todas as possibilidades que haja algo além do nosso conhecimento. Tudo o que eu disse é que eu não penso que haja alguma inteligência ou alguma criatividade ou algum propósito antes dos primeiros cem milhões de anos de existência do universo. Então eu não penso que seja útil equiparar o que não compreendemos com deus em qualquer sentido que já é compreendido nas religiões existentes.

Os deuses que já são compreendidos nas religiões existentes estão todos minuciosamente documentados. Eles fazem coisas como perdoar pecados ou engravidar virgens, e eles fazem todo tipo de coisas humanas, bem ordinárias e mundanas. Isso não tem nada a ver com as profundas dificuldades que a ciência deve ainda encarar na compreensão dos profundos problemas do universo.

(McDonald)

Agora muitas pessoas encontram um grande conforto da religião. Nem todo mundo é como você é – bem favorecido, bonito, rico, com um bom trabalho, vida familiar feliz. Quero dizer, sua vida é boa – nem todo mundo têm uma vida boa, e a religião os trás conforto.

(Dawkins)

Existem vários tipos de coisas que seriam confortantes. Eu suponho que uma injeção de morfina seria confortante – ela pode ser mais confortante, pelo que sei. Mas dizer que algo é confortante não é dizer que é algo verdadeiro.

(McDonald)

Você rejeitou a religião, e você escreveu sobre ela e colocou suas próprias respostas sobre as questões fundamentais da vida, que são – bem toscamente, que nós e os ouriços e os morcegos e as árvores e os calangos somos guiados por replicadores genéticos e não-genéticos. Agora instantaneamente eu quero saber, o que isso significa?

(Dawkins)

Replicadores são coisas que têm cópias feitas de si mesmos. É uma coisa muito, muito poderosa – é difícil perceber que coisa poderosa foi quando a primeira entidade auto-replicante apareceu no mundo. Hoje em dia as mais importantes entidades auto-replicantes que conhecemos são as moléculas de DNA, as originais provavelmente não eram moléculas de DNA, mas elas fizeram algo similar. Uma vez que você têm entidades auto-replicantes – coisas que fazem cópias de si mesmas – você têm uma população delas.

(McDonald)

Nessa descrição crua do que nos faz – o que nos faz sermos nós? Nós somos nada mais que coleções de genes herdados cada um lutando para fazer seu caminho pela sobrevivência do mais adaptado.

(Dawkins)

Sim, se você me pedir para dizer como um poeta, como eu reajo à idéia de ser um veículo para o DNA? Não soa muito romântico, não é? Não soa como o tipo de visão da vida que um poeta iria ter; e eu estou bem feliz, pronto para admitir que quando eu não estou pensando sobre ciência eu estou pensando de uma forma bem diferente.

É uma idéia muito útil dizer que nós somos veículos para o nosso DNA, nós somos hospedeiros para os parasitas DNA que são nossos genes. Essas são boas idéias que nos ajudam a compreender um aspecto da vida. Mas é emotivo dizer, isso é tudo o que há, nós podemos muito bem desistir de ir ver peças de Shakespeare e desistir de ouvir música e coisas, porque isso não têm nada a ver com isso. Esse é um assunto completamente diferente.

(McDonald)

Vamos falar sobre escutar música e ver peças de Shakespeare. Agora, você cunhou uma palavra para descrever todas essas atividades variadas que não são geneticamente guiadas, e essa palavra é ‘meme’ e novamente isso é um processo replicante.

(Dawkins)

Sim, essas são entidades culturais que replicam meio que do mesmo jeito que o DNA faz. A disseminação do hábito de usar um boné de baseball virado para trás é algo que se espalhou pelo mundo Ocidental como uma epidemia. É como uma epidemia de varíola. Você poderia realmente fazer epidemiologia no boné para trás. Ela sobe até um pico, platôs e eu sinceramente espero que ela morra logo.

(McDonald)

E sobre votação de Trabalho?

(Dawkins)

Bem, você pode fazer – uma pessoa pode levar mais coisas a sério como isso. De certa forma, eu prefiro não entrar nisso, porque eu penso que existem melhores razões para votar Trabalho do que apenas a imitação escravizante do que outras pessoas fazem. Usar um boné de baseball para trás – até onde sei, não há nenhuma boa razão para isso.

Uma pessoa faz isso porque vê um amigo fazê-lo, e ela pensa que parece legal, e é só isso. Então isso realmente é como uma epidemia de sarampo, isso realmente se espalha de cérebro para cérebro como um vírus.

(McDonald)

Então intenções de voto você não poria nessa classe. E sobre as práticas religiosas?

(Dawkins)

Bem, esse é um exemplo melhor. Ela não se espalha, no todo, de um jeito horizontal, como uma epidemia de sarampo. Ela se espalha de um jeito vertical gerações a baixo. Mas esse tipo de coisa, eu penso, se espalha gerações a baixo porque as crianças de uma certa idade são muito vulneráveis à sugestão.

Elas tendem a acreditar no que dizem a elas, e existem razões muito boas para isso. É fácil ver em uma explicação Darwiniana porque as crianças devem estar equipadas com cérebros que acreditam no que os adultos dizem à elas. Apesar de tudo, elas têm que aprender uma linguagem, e aprender muito mais dos adultos. Porque elas não iriam acreditar se dizem à elas que elas devem rezar de um certo jeito? Mas em particular – vamos refrasear isso – se dizem à elas para não apenas fazer elas têm que se comportar de um certo jeito, mas quanto elas crescem é dever delas passar a mesma mensagem para as suas crianças.

Agora, uma vez que você têm essa pequena receita, isso realmente é uma receita para passar adiante gerações abaixo. Não importa quão boba é a instrução original, se você dissé-la com convicção suficiente para crianças jovens e crédulas o suficiente de modo que quando elas cresçam elas irão passá-la para as crianças delas, então ela irá passar e irá se espalhar e isso pode ser a explicação suficiente.

(McDonald)

Mas a religião é um meme muito bem sucedido. Quero dizer, na sua própria estrutura os genes que sobrevivem – os com os genes mais egoístas e bem sucedidos presumivelmente têm algum mérito. Agora se a religião é um meme que sobreviveu por milhares e milhares de anos, é possível que haja algum mérito intrínseco nela?

(Dawkins)

Sim, há um mérito nela. Se você fizer a pergunta, porque qualquer entidade replicante sobrevive através dos anos e das gerações, é porque ela têm mérito. Mas mérito para um replicador apenas significa que ele é bom em se replicar.

O vírus da raiva têm um considerável mérito, e o vírus da AIDS tem um mérito enorme. Essas coisas se espalham com muito sucesso, e a seleção natural pôs neles métodos extremamente efetivos de se espalhar. No caso do vírus da raiva ele causa espumação na boca de suas vítimas, e o vírus é espalhado na saliva. Ele as faz morderem e se tornarem extremamente agressivas, então elas tendem a morder outros animais, e a saliva entra nelas e ele passa adiante. Esse é um vírus muito, muito bem sucedido. Ele tem um mérito muito considerável.

De certa forma toda a mensagem do meme e do gene é que o mérito é definido como em bom ser espalhado afora, bom em auto-replicação. Isso é claro muito diferente do mérito como nós humanos podemos julgar.

(McDonald)

Você escolheu uma analogia para a religião que muitos iriam achar um tanto dolorosa – que é como um vírus da AIDS, como um vírus da raiva.

(Dawkins)

Eu penso que é uma analogia muito boa. Sinto muito se é dolorosa. Eu estou tentando explicar porque essas coisas se espalham; e eu acho que é como uma carta-corrente. É o mesmo tipo de pau e cenoura. Não é, provavelmente, deliberadamente intencional.

Eu poderia escrever num pedaço de papel “Faça duas cópias desse papel e passe-as a amigos”. Eu poderia dar à você. Você iria lê-lo e fazer duas cópias e passá-las, e eles fariam 2 cópias e se tornariam 4 cópias, 8, 16 cópias. Logo logo o mundo inteiro estaria atolado em papel. Mas é claro que tem de haver algum tipo de estimulo, então eu iria ter que adicionar algo como isso “Se você não fizer 2 cópias desse pedaço de papel e passá-las, você irá ter azar, ou você irá para o inferno, ou alguma terrível desgraça irá cair sobre você”.

Eu penso que se nós começarmos com uma carta corrente e então digamos, bem, o princípio da carta-corrente é muito simples em si mesmo, mas se nós tipo que construirmos sobre o princípio da carta corrente e olharmos sobre mais e mais estímulos sofisticados para passar a mensagem, nós deveremos ter uma explicação bem sucedida.

(McDonald)

Mas isso é tudo que isso pode ser, quero dizer, estímulos sofisticados ou ameaças. Eu estava apenas incomodada que um meme bem sucedido pode invocar algo que ainda não foi encontrado no seu universo pelos seus métodos.

(Dawkins)

Os estímulos sofisticados podem incluir a Massa B Menor e a Paixão de São Matias. Quero dizer, elas são coisas muito boas. Elas são muito sofisticadas e muito, muito belas – janelas com vitrais, Catedral Chartres, elas funcionam e não há surpresa que funcionem. Quero dizer elas são muito bem feitas, muito bem fabricadas.

Mas eu penso que o que você está perguntando é, o sucesso de uma religião séculos afora implica que deve haver alguma verdade em suas afirmações? Eu não penso que isso é necessário, porque eu penso que existem muitas outras boas explicações que fazem um serviço melhor.

(McDonald)

Você se irrita que pessoas achem mais prazer e inspiração em Chartres ou Beethoven ou de fato grandes mesquitas do que elas acham na anatomia de um lagarto?

(Dawkins)

Não, nem tanto. Quero dizer, eu penso que são grandes experiências artísticas – eu não quero diminuí-las de forma alguma. Eu penso que elas são experiências muito, muito grandes, e a compreensão científica está a par com elas.

(McDonald)

E mesmo assim, esses grandes realizações artísticas foram impelidas por mentiras.

(Dawkins)

Apenas pense quão maior elas seriam se tivessem sido impelidas pela verdade.

(McDonald)

Mas a anatomia de um lagarto pode provocar uma grande sinfonia de coral?

(Dawkins)

Ao chamar isso de a anatomia de um lagarto, você, como aconteceu, brinca para conseguir gargalhadas. Mas se você pôr isso de um outro jeito – digamos, o tempo geológico ou a evolução da vida na terra, poderiam ser a inspiração para uma grande sinfonia? Bem, claro, poderiam. É difícil imaginar uma inspiração mais colossal para uma grande peça musical ou poética do que 2 bilhões de anos de mudança evolucionária lenta e gradual.

(McDonald)

Mas no fundo, não há sentido além da celebração pessoal de cada vida, tão quanto você é capaz. Nós esperamos não nascer em uma fila faminta na África central. Mas isso não é suficiente para as pessoas. Elas querem […]

(Dawkins)

Olhe, pode não ser […]

(McDonald)

Mas obstinado, você diz […]

(Dawkins)

Obstinado, sim. Eu não quero parecer insensível. Quero dizer, mesmo se eu não tivesse nada a oferecer, isso não importa, porque isso não quer dizer que o que qualquer outro tem a oferecer portanto tem de ser verdadeiro.

(McDonald)

De fato, mas você se importa sobre isso.

(Dawkins)

Sim, eu quero oferecer algo. Eu apenas quis dar um preâmbulo ao ponto que pode haver um vácuo que é deixado. Se a religião se vai, pode muito bem haver um vácuo em meios importantes na psicologia das pessoas, na felicidade das pessoas, e eu não afirmo ser capaz de preencher esse vácuo, e que não é o que eu quero afirmar ser capaz de fazer. Eu quero descobrir o que é verdade.

Agora, quanto ao que eu posso ter a oferecer, eu tentei exprimir a excitação, o estímulo de ter uma figura tão completa quanto possível do mundo e do universo no qual você vive. Você tem o poder de fazer um modelo muito bom do universo no qual você vive. Será temporário, você vai morrer, mas seria o melhor jeito que você poderia gastar seu tempo no universo, entender porque você está aqui e pôr um modelo tão preciso quanto possível do universo dentro da sua cabeça. Isso é o que eu gostaria de encorajar as pessoas a tentar fazer. Eu penso que isso é uma coisa imensamente satisfatória a fazer.

(McDonald)

E esse será um mundo melhor?

(Dawkins)

Isso será certamente um mundo mais verdadeiro. Quero dizer, as pessoas teriam uma visão mais verdadeira do mundo. Eu penso que provavelmente seria um mundo melhor. Eu penso que as pessoas estariam menos prontas para lutar umas com as outras porque muitas das motivações para lutar teriam sido removidas. Eu penso que seria um mundo melhor. Seria um mundo melhor no sentido que as pessoas estariam mais satisfeitas em ter uma compreensão apropriada do mundo ao invés de uma compreensão supersticiosa.

(McDonald)

Então aqui estamos nós, no seu mundo mais verdadeiro – exceto que não estamos, porque pelas razões da credulidade juvenil você sugeriu que o meme da religião irá continuar se replicando pelo mundo. Para sempre, ou nós iremos algum dia vir ao seu mundo?

(Dawkins)

Eu suspeito que por um tempo muito longo. Eu não sei se “para sempre”, seja lá o que o “para sempre” for. Quero dizer, eu penso que a religião tem um tempo terrivelmente longo para ir ainda, certamente em algumas partes do mundo. Eu acho que isso é uma prospectiva um tanto quanto depressiva, mas é provavelmente verdade.

(McDonald)

Não seria porque de certo modo, você mesmo disse, o que você tem a dizer pode não preencher o vácuo que seria deixado se a religião fosse descartada?

(Dawkins)

Eu não sinto nenhum vácuo. Quero dizer, eu me sinto muito feliz, muito satisfeito. Eu amo a minha vida e eu amo todos os tipos de aspectos dela que não têm nada a ver com a minha ciência. Então eu não tenho um vácuo. Eu não me sinto frio e desolado. Eu não penso que o mundo é um lugar frio e desolado. Eu penso que o mundo é um lugar amável e amigável e eu gosto de estar nele.

(McDonald)

Você pensa sobre a morte?

(Dawkins)

Sim. Quero dizer, é algo que vai acontecer com todos nós e […]

(McDonald)

Como você se prepara para a morte em um mundo onde não há um deus?

(Dawkins)

Você se prepara para isso ao encarar a verdade, que é que a vida é o que nós temos e então é melhor nós vivermos nossa vida ao máximo enquanto nós a temos, porque não há nada após ela. Nós somos acidentes muito sortudos ou pelo menos cada um de nós é – se nós não estivéssemos aqui, alguma outra pessoa estaria. Eu pego tudo isso para reforçar a minha visão que eu sou fantasticamente sortudo em estar aqui e você também, e nós devemos usar nosso tempo breve na luz do sol ao efeito máximo tentando entender as coisas e ter uma visão tão cheia do mundo e da vida quanto nossos cérebros nos permitem ter, que é bem cheia.

(McDonald)

E esse é o primeiro dever, direito, responsabilidade, prazer de homem e mulher. Os cristãos iriam dizer “ame deus, ame seu vizinho”. Você iria dizer “tente compreender”.

(Dawkins)

Bem, eu não desejaria diminuir o ame seu vizinho. Seria um tanto quanto triste se nós não fizermos isso. Mas, tendo concordado que nós devemos amar nosso vizinho e todas as outras coisas que estão adotadas por essa pequenina frase, eu penso que, sim, compreender, compreender é um mandamento muito bom.

(Fim da Entrevista)

Sheena McDonald se vira para a câmera: Richard Dawkins celebra a vida antes da morte com um entusiasmo contagiante. Ele rejeita a vida após a morte com – para muitos – um entusiasmo desconfortável. Ao fazer isso ele mostra a coragem de um verdadeiro entusiasta zeloso, ao pregar na face da resistência contínua de um universo sem deuses. Falta ser visto aonde o meme Dawkins, sua visão de verdade, irá se replicar com o sucesso que os profetas, padres, papas e gurus têm desfrutado.

Comentários

Fabiano Antunes – [email protected]Paraná Paraná, enviou em 16/07/2001

Segundo Lehninger a vida comporta-se totalmente de acordo com as leis da física. Inclui-se aí a tal da tendência a desorganização – entropia. A meu ver a “teoria da evolução” defendida por Dawkins, diz que coisas organizadas e complexas surgem expontaneamente de coisas menos organizadas o que para qualquer físico é sem pé nem cabeça.

  • O ensaio base original está disponível em www.geocities.com/ResearchTriangle/Facility/4118/misc/dawkins.html
  • Traduzido por: Leo Vines
  • As partes em itálico não devem estar corretamente traduzidas.
  • Traduções para espanhol e sugestões para correções na tradução e na gramática são bem-vindas.
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    Redação

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