Pesquisa IRBEM – o copo meio vazio do mau humor do paulistano.

Em 2015, o paulistano refugiou-se em valores imateriais: amor, religião, família e comunidade. Está mais atento à desigualdade social e nunca desconfiou tanto de seus governantes.IRBEM5Quedas drásticas nas condições de vida de uma população ocorrem em função de causas igualmente drásticas, catástrofes naturais ou guerras, por exemplo. E epidemias, essa, nos países mais pobres. Quando se compara indicadores dos anos de 2014 em relação aos mesmos indicadores de 2015, a percepção que temos é de que alguma dessas coisas aconteceu no Brasil.

Que 2015 foi um ano perdido na economia já sabíamos: “Brasil, feliz ano velho”.

Agora, a pesquisa IRBEM 2016 do IBOPE para a organização Rede Nossa São Paulo, tomando como base a população da cidade de São Paulo, a mais rica do Brasil, mostra que 2015 foi também um ano de ruptura em relação ao moral da população.

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Não que o paulistano seja um entusiasta da sua cidade, ao contrário, guarda com ela uma relação de amor e ódio.

Desde 2009, quando a pesquisa adotou a atual metodologia, um índice de 13% da população sistematicamente considera que a qualidade de vida piorou em relação ao ano anterior. Porém, entre 2014 e 2015, esse índice salta para 36%. Quase triplica de um ano para o outro – na verdade aumenta em 279%.

Hoje, 68% da população deixaria a cidade se pudesse. Historicamente, segundo a pesquisa, esse índice jamais foi baixo – 56% até 2014. Mas, de 2014 para 2015, há um salto de 12 pontos percentuais.

Qual a explicação para isso? Em 2015, a cidade foi varrida por uma tragédia?

Não, não houve uma tragédia.

O índice geral de satisfação do paulistano em 2015 ficou em 5,5 – considerando-se uma escala de 1 a 10. Poderíamos dizer que é a tal história do copo meio cheio e meio vazio.

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Agora, quando se considera o índice de satisfação por região da cidade, a ruptura em 2015 não só se reforça, mas também apresenta dados bastante interessantes.

Para essa comparação vai-se usar o índice médio por região que acaba sendo diferente – menor – do que índice geral.

De modo geral, a satisfação havia aumentado em 2014, atingindo um índice médio por região de 5,2 pontos. Havia sido de 4,9 em 2013.

Interessante, o maior índice de satisfação era na zona oeste – 5,6 em 10, contra 4,6 em 2013. Para quem não é de São Paulo, são os ricos.

E o pior índice na zona sul 2 –  4,7 em 10, contra 5,1 em 2013 –  são os pobres.

Mas as zonas sul 1 e leste 1 também melhoram os seus índices de satisfação em 2014 em relação a 2013 – são os classes-médias.

A vida estava melhorando. Pelos menos para os mais ricos e para a classe-média. O que é paradoxal, já que é comumente atribuída à classe-média a ídeia de não ter percebido melhorias nos governos do PT.

Mas, em 2015, os ricos e classes-médias começaram a bater panelas. E o índice despencou para 4,7. Todos, aliás, passaram a se sentir piores – ricos, pobres e remediados.

Que estamos zangados e desiludidos, já sabíamos. Mas por quê?

Vejamos.

Os aspectos que puxaram a média para cima foram:

  • Relações humanas – relacionamento com a família, amigos, comunidade e amoroso.
  • Religião e espiritualidade – coerência de vida com os princípios religiosos.
  • Tecnologia da informação – acesso à internet.

O índice médio de satisfação com esses aspectos, em 2015, foi de 6,7 em 10. Em 2014 tinha sido de 6,6.

O paulistano, descrito como frio e impessoal, refugia-se nos valores imateriais e corre para o Facebook.

Os aspectos que puxaram a média para baixo foram:

  • Desigualdade social – distribuição de renda e acesso à moradia.
  • Transparência e participação política – a participação propriamente dita, mas principalmente, questões relacionadas à honestidade dos governantes.

O índice médio de satisfação nesses aspectos foi de 2,6 em 10. Em 2014, o índice médio para esses mesmos aspectos era de 3,1. Uma queda de 16%.

No que diz respeito especificamente a aspectos relacionados à honestidade dos governantes, o índice em 2014 era o mais alto da série histórica, tinha atingido uma média de 2,8 pontos em 10. Em 2015, recuou para 2,3 pontos, em uma queda de 18%.

Ou seja, se o paulistano já desconfiava dos seus governantes, agora confia ainda menos.

Não nos enganemos, em 2015, as forças da direita usaram a criminalização da política como arma nas suas ações de insubordinação aos resultados eleitorais e de golpismo, os paulistanos não sairiam ilesos.

Basta ver em quem confiam cada vez mais e em quem não confiam cada vez menos.

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PS1: que o índice de satisfação com Dilma despencaria era já esperado. Ela foi o alvo do golpismo de direita. Interessante é notar que, mesmo blindado, Alckmin acabou com um índice pior que Haddad. Haddad que também apanhou um bocado em 2015.

PS2: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia apoia o Movimento Golpe Nunca Mais.

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Redação

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