Pimentel: os resultados positivos da política de desoneração da folha

Do Valor Econômico

O balanço de Pimentel

Por Sergio Leo

A valorização do dólar, que deve se estabilizar no patamar entre R$ 2,30 e R$ 2,40, ainda levará alguns meses para mostrar seu efeito na economia e na competitividade da indústria, acredita o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. Arrumando gavetas para deixar o posto nos próximos dias e entrar na campanha para o governo de Minas Gerais, o ministro, em balanço de sua passagem pelo ministério, rejeita a avaliação de que foi um erro a política seletiva de redução de impostos para empresas.

“A desoneração (redução de impostos sobre a folha de pagamento) atinge 42 setores e 66% dos produtos manufaturados do país”, contabiliza o ministro. “Permitiu que chegássemos ao fim de 2013 com a menor taxa de desemprego da história; serviu para que as empresas recompusessem margens de lucro espremidas pela valorização do câmbio”, argumenta ele.

Para Pimentel, as medidas de corte no imposto e no custo da energia elétrica, entre outras ações para reduzir os custos das empresas, impediram o recuo das atividades na indústria. “Sem isso, estaríamos numa recessão”. A ação tomada pelo Banco Central, permitindo uma valorização controlada do dólar para evitar oscilações extremas, terá, em alguns meses, maior impacto na produção e nas decisões de investimento, afirma.

Há “mau humor” com o Brasil pelas perdas na bolsa

Ele reconhece as críticas à forma adotada para reduzir o custo da energia para a indústria, que empresários beneficiados dizem ter criado incertezas no mercado; mas insiste que “a discussão limitou-se à forma, não ao conteúdo”. Pimentel, como boa parte do governo, atribui as maiores dificuldades na indústria e no comércio exterior à crise internacional, com a desaceleração da economia na China, as incertezas na Europa e o anúncio do fim da política monetária expansionista nos Estados Unidos. Nem o México, atual queridinho dos investidores, apresenta resultados lá muito invejáveis, repete ele.

Ao lado de Pimentel, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges, seu braço direito, folheia páginas de gráficos e tabelas. O crescimento do México em 2013 deve ficar em torno de 1,9%, bem abaixo dos 2,3% previstos pelo FMI para o Brasil; a formação bruta de capital fixo, indicador de investimentos em capacidade de produção, está em torno de 20% do PIB, próxima aos quase 19% estimados para o Brasil em 2013, argumenta ele. Para o ministro, o que há é “mau humor” com o Brasil, devido às perdas nos mercados de valores e de títulos.

“A conjuntura internacional não é favorável: veja a Turquia, que era a queridinha até pouco tempo atrás”, diz ele. “Analistas falam do Brasil como se a crise não existisse, como se devêssemos ter desempenho de atleta olímpico em meio a Amazônia”.

Pimentel se diz otimista em relação às perspectivas de crescimento e investimento, mas é conservador em suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB), que não crê ser capaz de superar “muito mais” o percentual de 2013.

Ele lista os investimentos programados na indústria automobilística (apesar das incertezas no setor, com a retração de crédito e crise em seu maior comprador externo, a Argentina), no setor fornecedor para a cadeia produtiva naval e de petróleo e gás e em setores como o farmacêutico, para prever uma “curva ascendente” de retomada na indústria neste ano. “Se esses analistas olharem mais friamente, sem pensar no impacto nos bolsos com as perdas no mercado de capitais, verão que o Brasil não tem nada de frágil”, diz.

Mas e o déficit em alta nas contas externas brasileiras? Pimentel argumenta que as exportações seguem crescendo, e devem melhorar com a desvalorização dos custos em reais. O mau desempenho da balança comercial se deveu, em grande parte, a um item que não se repetirá, a queda na produção de petróleo da Petrobras, que reduziu vendas externas e aumentou importação, puxando o resultado do comércio exterior, em 2013, em mais de US$ 8 bilhões, lembra.

Ele defende que as importações também terão um papel na melhoria da competitividade do país, porque os bens industriais de baixa e média-baixa tecnologia, como alimentos, calçados e têxteis até reduziram ligeiramente (0,3 pontos percentuais) sua participação no total de compras do Brasil. Quase 60% das importações foram em produtos de alta tecnologia como equipamentos de rádio TV e comunicação, farmacêuticos e instrumentos de ótica e precisão.

Um problema é que, nas exportações, há muitos bens de baixa tecnologia, como o minério de ferro, e pequena participação dos bens de alta tecnologia. “Com essa nova taxa de câmbio, nossas vendas de produtos industrializados vão melhorar”, acredita o ministro. Ele argumenta que os gargalos de infraestrutura serão enfrentados com as concessões de serviços públicos, mas admite que o país tem de agir contra outros obstáculos à competitividade, como a extrema burocracia.

Sobre o cenário econômico pouco alentador em dois dos principais clientes do Brasil no exterior, Argentina e Venezuela, diz que qualquer manifestação do governo brasileiro pode prejudicar os esforços dos governos para sair das crises. No caso argentino, confirma que, na visita dos fabricantes de automóveis, na semana passada, lhe comunicaram a intenção do governo argentino de dificultar o recebimento de créditos e pagamento pelas exportações. Sua possível saída do governo ainda nesta semana não lhe deixa muitas opções, mas comenta que deve discutir com o setor privado a estratégia para evitar prejuízos aos produtores nacionais.

“A situação agravou-se, mas apostamos ser possível sair do impasse”, minimiza o ministro, na esperança de melhoria da situação argentina com a entrada da safra de soja. “Ninguém compra brigas com seu melhor cliente”, desconversa. Na semana que vem, uma visão dos empresários.

Sergio Leo é jornalista e especialista em relações internacionais pela UnB. Escreve às segundas-feiras

http://www.valor.com.br/brasil/3424318/o-balanco-de-pimentel#ixzz2svRU3XJK

Luis Nassif

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