Plano Chicago – Os efeitos do Yuan

Plano épico do FMI para eliminar dívida e destronar banqueiros

 

 

 

Ter, 30 de Out de 2012 1:21 pm

*por Ambrose Evans-Pritchard
[*]<http://resistir.info/financas/plano_epico_21out12.html#asterisco>
*

Há uma varinha mágica, afinal de contas. Um documento revolucionário
editado pelo Fundo Monetário Internacional afirma que seria possível
eliminar a dívida pública líquida dos EUA de uma penada e, em consequência,
fazer o mesmo à da Grã-Bretanha, Alemanha, Itália ou Japão. O documento do
FMI diz que o truque é substituir o nosso sistema de moeda criada pela
banca privada.

Poder-se-ia cortar dívida privada em 100% do PIB, promover crescimento,
estabilizar preços e destronar banqueiros, tudo ao mesmo tempo. Isto
poderia ser feito de modo limpo e indolor, por ordem legislativa, muito
mais rapidamente do que se poderia imaginar.

O truque é substituir nosso sistema de moda criada pela banca privada –
aproximadamente 97% da oferta monetária – por moeda criada pelo estado.
Retornarmos à norma histórica, antes de Carlos II ter colocado o controle
da oferta monetária em mãos privadas com o English Free Coinage Act de
1666.

Especificamente, isto significa um assalto à “reserva fraccionária da
banca”. Se os prestamistas forem forçados a providenciar 100% de reservas
para dar respaldo a depósitos, eles perdem o privilégio exorbitante de
criar moeda a partir do nada.

O país recupera controle soberano sobre a oferta monetária. Não há mais
corridas bancárias e menos crescimento e queda nos ciclos de crédito. A
prestidigitação contabilística fará o resto. Este pelo menos é o argumento.

Alguns leitores já podem ter visto o estudo do FMI, de Jaromir Benes e
Michael Kumhof, o qual saiu em Agosto e a seguir começou a se tornar um
culto por todo o mundo.

Intitulado “The Chicago Plan Revisited”, ele ressuscita o primeilro esquema
avançado pelos professores Henry Simons e Irving Fisher em 1936 durante a
época de fermento de pensamento criativo na última Depressão.

Irving Fisher pensava que ciclos de crédito levam a uma não saudável
concentração de riqueza. Ele viu-a com os seus próprios no princípio da
década de 1930 quando credores arrestavam agricultores empobrecidos,
tomando a sua terra ou comprando-a por uma ninharia no fundo do ciclo.

Os agricultores acabaram por encontrar um meio de se defenderem. Eles
impuseram à força, em conjunto, “leilões a um dólar”, comprando de volta as
propriedades uns dos outros por quase nada. Qualquer aventureiro
intrometido que tentasse um lance mais alto era sovado até partir os ossos.

Benes e Kumhof argumentam que o trauma do ciclo do crédito – provocado pela
criação privada de moeda – tem raízes profundas na história e repousa nos
jubileus de dívida nas antigas religiões da Mesopotâmia e do Médio Oriente.

Os ciclos de colheitas levaram a incumprimentos sistémicos milhares de anos
atrás, com confisco do colateral e concentração de riqueza nas mãos de
prestamistas. Estes episódios não foram causados apenas pela meteorologia,
como se pensa há muito. Eles foram amplificados pelos efeitos do crédito.

O líder ateniense Sólon implementou o primeiro Plano Chicago/New Deal
conhecido em 599 AC para aliviar agricultores enganchados junto a oligarcas
que desfrutavam o privilégio da cunhagem. Ele cancelou dívidas, restituiu
terras tomadas pelos credores, estabeleceu preços mínimos para commodities
(tal como Franklin Roosevelt) e conscientemente inundou a oferta monetária
com cunhagem “livre de dívida” emitida pelo estado.

Os romanos enviaram uma delegação para estudar as reformas de Sólon 150
depois e copiaram as ideias, estabelecendo o seu próprio sistema de moeda
fiduciária sob a Lex Aternia em 454 AC.

É um mito – inocentemente propagado pelo grande Adam Smith – que a moeda se
tenha desenvolvido como um meio de troca baseado na mercadoria ou ligado ao
ouro. O ouro foi sempre valioso, mas isso é outra história. Os amantes do
metal frequentemente fundem as duas questões.

Estudos antropológicos mostram que divisas fiduciárias sociais começaram
com a aurora dos tempos. Os espartanos proibiram moedas de ouro,
substituindo-as com discos de ferro de pouco valor intrínseco. Os antigos
romanos utilizaram pastilhas de bronze. O seu valor era totalmente
determinado por lei – uma doutrina que Aristóteles fez explícita na sua *
Ética *– como o dólar, o euro ou a linha esterlina de hoje.

Alguns argumentam que Roma começou a perder o seu espírito de solidariedade
quando permitiu a uma oligarquia desenvolver uma cunhagem privada com base
na prata durante as Guerras Púnicas. A moeda deslizou para fora do controle
do Senado. Poder-se-ia considerar isto como o sistema bancário sombra de
Roma. A evidência sugere que o mesmo tornou-se uma máquina para a
acumulação de riqueza da elite.

A soberania incontestada ou o controle papel sobre divisas persistiram
através da Idade Média até que a Inglaterra rompeu o padrão em 1666. Benes
e Kumhof dizem que isto foi o começo da era dos ciclos de ascensão e queda.

Alguém pode igualmente dizer que isto abriu o caminho para a revolução
agrícola da Inglaterra no princípio do século XVIII, a revolução industrial
posteriormente e o maior salto económico e tecnológico alguma vez já visto.
Mas deixemo-nos de palavreado.

Os autores originais do Plano de Chicago estavam a responder à Grande
Depressão. Eles acreditavam que era possível impedir o caos social
provocado por oscilações violentas de ascensão e queda e fazer isso sem
comprometer o dinamismo económico.

O efeito colateral benigno das suas propostas seria uma comutação da dívida
nacional para o excedente nacional, como que por magia. “Porque sob o Plano
Chicago os bancos têm de tomar reservas emprestadas do tesouro para escorar
plenamente os passivos, o governo adquire um trunfo muito grande em relação
aos bancos. A nossa análise descobre que o governo fica um fardo de dívida
líquida muito mais baixo, de facto negativo”.

O documento do FMI afirma que o total de passivos do sistema financeiro dos
EUA – incluindo a banca sombra – é de 200% do PIB. A nova regra de reservas
criaria uma bonança. Esta seria utilizada por uma “potencialmente muito
grande recompra de dívida privada”, talvez de 100% do PIB.

Enquanto Washington emitisse muito mais moeda fiduciária, esta não seria
resgatável. Seria uma acção *(equity) *da comunidade, não uma dívida.

A chave do Plano Chicago era separar as “funções monetárias e do crédito”
do sistema bancário. “A quantidade de moeda e a quantidade de crédito
tornar-se-iam completamente independente uma da outra”.

Prestamistas privados já não poderiam mais criar novos depósitos “ex
nihilo”. O novo crédito bancário teria de ser financiado pelos ganhos
retidos.

“O controle do crescimento do crédito tornar-se-ia muito mais directo
porque os bancos já não poderiam mais, como fazem hoje, gerar o seu próprio
financiamento, depósitos, no acto de emprestar, um privilégio
extraordinário que não é desfrutado por qualquer outro tipo de negócio”,
afirma o documento do FMI.

“Ao invés disso, os bancos tornar-se-ia aquilo que muitos acreditam que
sejam hoje, puros intermediários que dependem da obtenção de financiamento
de fora antes de poderem emprestar”.

A Reserva Federal dos EUA ganharia controle real sobre a oferta monetária
pela primeira vez, tornando mais fácil administrar a inflação. Foi
precisamente por esta razão que Milton Friedman apelou a 100% de reservas
de suporte em 1967. Mesmo o grande adepto do mercado livre implicitamente
favoreceu a imposição de restrições sobre o dinheiro privado.

A mudança engendraria um impulso de 10% do produto económico. “Nenhum
destes benefícios vem à expensas de redução do núcleo de funções úteis de
um sistema financeiro privado”.

Simons e Fishcer estavam em voo cego na década de 1930. Faltavam-lhes os
modernos instrumentos necessários para processar os números, de modo que a
equipe do FMI fez isso para eles – utilizando o modelo estocástico “DSGE”
agora de rigor na alta teorização económica, amado e odiado em igual
medida.

A descoberta é estupenda. Simons e Fischer são modestos nas suas
afirmações. Talvez seja possível confrontar a direcção da plutocracia da
banca sem por a economia em perigo.

Benes e Kumhof fazem grandes afirmações. Eles deixaram-me desconcertado,
para ser honesto. Os leitores que quiserem os pormenores técnicos podem
fazer o seu próprio juízo estudando o texto
*aqui*<http://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2012/wp12202.pdf>
.

A dupla do FMI tem apoiantes. O professor Richard Werner da Southampton
University – que cunhou a expressão quantitative easing (QE) na década de
1990 – testemunhou perante a Vickers Commission da Grã-Bretanha que uma
comutação para dinheiro estatal provocaria grandes ganhos em bem-estar. Ele
foi apoiado pelo grupo de campanha Positive Money e pela New Economics
Foundation.

A teoria também tem críticos fortes. Tim Congdon do International Monetary
Research diz que em certo sentido os bancos já estão a ser forçados a
aumentar reservas pelas regras da UE, regras Basileia III e variantes
folheadas a ouro no Reino Unido. O efeito tem sido sufocar o empréstimo ao
sector privado.

Ele argumenta que esta é a principal razão porque a economia mundial
permanece encravada próximo da recessão e porque os bancos centrais estão a
ter de amortecer o choque com a QE.

“Se você aprovar este plano, ele devastaria lucros da banca e provocaria um
desastre deflacionário maciço. Teria de haver QE ao quadrado para compensar
isso”, disse ele.

O resultado seria uma enorme mudança no balanço dos bancos do empréstimo
privado para títulos do governo. Isto aconteceu durante a Segunda Guerra
Mundial, mas aquilo foi o custo anómalo de derrotar o fascismo.

Fazer isto numa base permanente em tempo de paz seria mudar a natureza do
capitalismo ocidental. “O povo não poderia obter dinheiro dos bancos.
Haveria enorme dano à eficiência da economia”, disse ele.

Poder-se-ia argumentar que asfixiaria a liberdade e entronizaria um estado
Leviatã. Pode ser ainda mais irritante no longo prazo do que o domínio
pelos banqueiros.

Pessoalmente, estou longe de chegar a uma conclusão neste debate
extraordinário. Vamos deixá-lo correr e torcer para que o combate nos
revele os argumentos.

Uma coisa é certa. A City de Londres terá grande dificuldade em ganhar a
vida se qualquer variante do Plano Chicago chegar a ter apoio amplo.
*[*] Jornalista.

O original encontra-se em
www.telegraph.co.uk/<http://www.telegraph.co.uk/finance/comment/9623863/IMFs-epic-plan-to-conjure-away-debt-and-dethrone-bankers.html>

Redação

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