Plantio direto ajuda a fixar carbono em solo

Pesquisa de manejo de solo, conduzida durante 20 anos pela Embrapa Soja e Universidade Federal Fluminense, confirma eficácia do plantio direto na conservação do carbono.

O plantio convencional acumula cerca de duas vezes menos carbono orgânico no solo devido as suas características de manejo: preparo do solo feito com arados para revolver a terra, e logo em seguida utilização de niveladoras para recomposição do terreno. Enquanto que, no plantio direto, a semeadura é feita sem revolvimento do solo, assim, os restos culturais da lavoura anterior permanecem no terreno, ajudando a enriquecer a área.

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Julio Franchini, o potencial de seqüestro no sistema direto equivale a 500 quilos de carbono por hectare ao ano, considerando aplicação do plantio direto de qualidade (rotação de culturas, boa produção de resíduos vegetais), e sob as condições do solo paranaense – onde as medições foram feitas.

Cerca de 80% do solo daquele estado é composto de argila – o chamado latossolo vermelho. Essa condição facilita o processo de fixação de carbono. O cientista destaca que em outras condições de solo e temperatura o resultado das medições seria diferente. As regiões Norte e Nordeste, por exemplo, além de terem menos argila na composição da terra, possuem temperaturas médias mais elevadas. O calor acelera o metabolismo dos microorganismos favorecendo a decomposição, logo, o desprendimento de carbono para o meio ambiente.

Resultados

A pesquisa foi feita a partir da relação entre a emissão do solo de gás carbônico e a presença de carbono acumulado pela matéria orgânica em ‘agregados’, estruturas primárias formadas basicamente de argila, silte e areia. “A formação de agregados protege o material orgânico do solo”, explica Franchini. Isso porque dificulta o acesso dos microorganismos decompositores ao material orgânico no interior dos agregados.

“Verificamos nesse estudo que em plantações feitas no sistema direto existe aumento da agregação inclusive de tamanho, ou seja, dos macroagregados, como chamamos”, resume.

Foram coletadas amostras do solo, em pontos específicos de culturas com plantio direto e plantio convencional, no campo da Embrapa Soja, localizado em Londrina, Paraná. A área foi analisada durante duas décadas, onde houve sucessão de soja no verão e trigo no inverno. Nos últimos 12 anos, também foi realizada rotação de cultivo de milho no verão e tremoço e aveia preta no inverno.

O plantio direto contínuo evitou a emissão de 79,4 quilos de carbono hectare/hora. Já sob plantio convencional o desempenho foi 63,3% menor. Logo, o balanço do acúmulo de carbono pela matéria orgânica no solo – proporcionado no plantio direto – resultou num saldo positivo de 875,1 quilos de carbono hectare/hora.

As medições feitas em solo de floresta serviram como referencia à pesquisa e o sistema direto é o que mais se assemelhou ao ambiente natural da Mata Atlântica. Entretanto, Franchini ressalta que a fixação agrícola nunca chegará perto da fixação em áreas florestadas. “O sistema agrícola é mais favorável à decomposição, dadas as suas características de uso de fertilizantes, e ciclos de manejo para o plantio. A soja, por exemplo, é uma cultura com ciclo anual, e o milho e o trigo têm ciclos mais curtos”, analisa.

Histórico

Até a década de 1970 o sistema de plantio que predominava no país era o convencional. Com o advento de máquinas de semeadura, inicialmente importadas para o Brasil, deixou-se de ser necessário revolver a terra – a máquina passa pelo terreno deixando como rastro buracos onde as sementes, ou mudas, são plantadas diretamente.

Outro fator importante, foi o desenvolvimento de herbicidas ‘de contato’, em substituição dos químicos que antes deveriam ser aplicados diretamente para serem incorporados ao solo antes de plantio, obrigando também o uso de grandes niveladoras e revolvimento da terra.

“O plantio direto começou a ser desenvolvido no estado do Paraná. Depois, na década de 1990 houve expansão para todo o país e em grandes propriedades”, completa Franchini. O processo trouxe vantagens de economia e tempo à agricultura, pois leva-se menos horas no processo de plantio e necessidade de menos combustível, que fornecia energia aos caminhões que aravam e nivelavam o solo.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador