Popeye vai ser papai?

Sei lá por que cargas d’água me veio Popeye hoje à memória – o elo mais forte que encontrei foi rever um amigo cuja última vez o vira no chá de bebê de um amigo em comum. Popeye sequer era dos meus desenhos favoritos. Mas veio, e justo na hora do banho, quando parece que minha mente trabalha em ritmo alucinado fazendo conexões aleatórias e tendo insights fenomenais – muitos dos quais irão pelo ralo assim que eu desligar o chuveiro.
A escolha de uma marinheiro para personagem de desenho infantil não deixa de ser curioso: ainda que utilizado (como vi na Wikipedia) para propaganda de guerra durante os anos 1940, trata-se de um marinheiro civil e não militar, ou seja, a escória da sociedade: pessoas não-família (pela própria natureza do trabalho), pouco instruídas – brutas -, “pederastas” (como n’O Bom Crioulo), tatuadas – vale lembrar que até meio século atrás, além de marinheiros, apenas presidiários, mafiosos da Yakusa e povos primitivos se tatuavam. Ademais, vinha um marinheiro ensinar não apenas virilidade, mas da importância de se comer vegetais – apesar que seu espinafre soava mais um anabolizante de efeito imediato para bater nos fortões (winners?) da vida que uma salada (vi que há uma versão atual, com apito no lugar do pito e espinafre orgânico). A própria Olívia Palito, era o contrário do padrão de beleza da época (sua forma palito tornou hypster-up-to-date apenas no último quarto de século).
A lembrança que trouxe Popeye à baila, contudo, foi da música tema. Mais especificamente, da letra que, na minha infância, cantávamos a partir desse tema: “Olívia vai ter neném, Popeye vai ser papai, o Brutus vai ser titio, ô lê lê, e viva o marinheiro Popeye!” (pesquisando achei uma tenebrosa versão atribuída à Eliana que mais parece que alguém fez para queimar a imagem da apresentadora infantil, mas parece que é de verdade a versão). O que fiquei matutando no banho foi: por que diabos o viva tem que ser pro Popeye? Que ele fez demais para merecer as vivas e não a mãe, que está ali, com suas finas pernas, sustentando outro ser.
Ainda que no meu círculo de amigos os pais sejam ponta firme, dos que cuidam de verdade, trocam fralda, põe a criança para dormir, dão bronca, banho e brincam, me consta que sejam exceções à regra, predominando, entre os pais “presentes” (numa acepção bem lata), os “pais de selfie”, que ficam só com a parte do brincar e mostrar pros amigos (e, não raro, xingar a mãe pro filho), isso quando não são pais-fantasmas. Ainda que esses meus amigos mereçam elogios, não me parece que mereçam vivas – tentar ser bom pai deveria ser obrigação, como tentar ser boa mãe, dentro das possibilidades e erros da paternidade e maternidade. O filho de Popeye e Olívia sequer nasceu para darmos vivas pelos bons préstimos do marinheiro de cara torta no cuidado e educação do filho. Seria, talvez, porque Popeye tinha disfunção erétil (efeitos colaterais do fumo), e mesmo sem Viagra conseguiu fecundar Olívia, é por isso o viva?
Ao fim e ao cabo, ao escrever esta crônica e saber que Popeye está politicamente correto, me questiono se além disso está prafrentex també: pacifista, defendendo causas ecológicas (como a pesca responsável), assumindo o poliamor (latente desde sempre nas suas histórias) e ajudando a cuidar do filho parido pela Olívia – independente do resultado do teste de DNA -, afinal, pai é quem cuida e ajuda a criar.

PS: ainda estou indignado em pensar que passei minha infância cantando “e viva o marinheiro Popeye” porque ele engravidou Olívia Palito…

23 de dezembro de 2018

Redação

1 Comentário

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  1. Má rapá!

    Sempre assisti Popeye e nunca soube disso.

    Nem da musiquinha da Eliana, nem da versão nacional  e nem da gravidez da infiel Olivia Palito.

    Ele ainda aparece nuns horários incertos no canal 10 e no 57-1 -Rede Brasil em meio ao velho Zorro, e McGyver.

    Qual Popeye v. anda vendo.

    ET- se há uma coisa que o Popeye não aparenta ser é “pederasta”

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