Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Por que generais, Moro, Globo et caterva negam o golpe no Brasil?, por Armando Coelho Neto

Por que generais, Moro, Globo et caterva negam o golpe no Brasil?

por Armando Rodrigues Coelho Neto

Não sei quantos áudios ouvi sobre a greve dos caminhoneiros, nem quantos pitacos recebi. Reservei-me ao silêncio por não entender o que estava acontecendo. Liguei o desconfiômetro ao ver de volta aqueles que ajudaram a derrubar a presidenta Dilma Rousseff. Para mim era greve de patrões, mas depois parecia não ser bem isso. Era e é como se houvesse algo mais indefinido. No final, se é que findou, fechou como se fosse. No que parecia ser o fim, a classe média que não foi pra Disney, mas potencializou a crise artificial criada pela geopolítica internacional, que gritou “qualquer coisa menos Dilma”, precisou entrar na fila para comprar gasolina até três vezes mais cara do que pré-golpe.

Como entender aquela gente de volta, pedindo intervenção militar e só falando em diesel? Diante do caos criado, por instantes pensei que dali pudesse surgir um herói candidato a presidente da República… Não. O herói não vem de lá, continua liderando pesquisas presidenciais e está preso. A ordem constitucional foi rompida, os generais se acovardaram e Sejumoro entra em decadência moral – em que pese o silêncio da dita grande mídia. Apesar do golpe com o supremo e “tudo” – o tudo entre aspas é porque até hoje ninguém explicou quem mais está por trás desse “tudo”. As instituições nacionais se acovardaram frente à geopolítica internacional e sequer lampejos nacionalistas brotam.

Nesse contexto, fiquei sem entender bem essa história de “caminhoneiros” e o papel deles na cena macabra de um golpe inacabado. Eis que de repente me passou pela cabeça que aquela história de “O Brasil virar uma Venezuela”. Não, leitor, aquilo não era uma ameaça nem uma profecia. Era uma promessa vinda do lado contrário, como parte integrante da cronologia do golpe. É como se o Brasil precisasse viver um pouco de Venezuela, ter uma lição real, sentir na pele a grande ameaça que o PT representa. De repente, não mais que de repente, recebi uma insólita mensagem de um tucano:

“Você está jogando Venezuela Life em modo ‘demo’. Ative o modo ‘full’ apertando 13 de novo nas próximas eleições”.

Curiosamente, o remetente da mensagem foi o mesmo que no final de 2016 me disse com todas as letras: “Lula para nós não é problema. Lula a gente tira de cena na hora que a gente quiser. Lula é página virada, é carta fora do baralho. Nossa preocupação é o Bolsonaro e os evangélicos”. Ele parece saber das coisas, pois no fundo é um mutante: foi de esquerda na Faculdade de Direito, flertou com Leonel Brizola e hoje surfa/flerta/patina com o tucanato.

Se não consigo entender uma (não tão) simples greve, como entender o golpe, que a própria caterva se recusa a chamar de golpe? Mas, o golpe está aí e dinheiro do petróleo que iria para a saúde no governo Dilma (Fora Temer!) ganhou caminho inverso. Depois da “greve”, o dinheiro da saúde vai financiar o petróleo.

Não sei se o idiota que expôs a filha com a placa “Fora Dilma, quero viajar para a Disney de novo” conseguiu seu intento. Mas e daí? Nem o pai sabia o que estava fazendo e provavelmente não sabe por que dólar sobe e desce, o que é golpe de estado. É tão alienado quanto os delegados Macabéa da PF.

Caos criado, para generais, Moro e Globo nada disso não vem ao caso. O importante é que Dilma saiu e Lula está preso. Os generais batem continência para um governo ladrão, Moro pede para o governo ladrão apoiar o combate à corrupção e recebe medalhas da sonegadora Globo. Esta, por sua vez, capitaneia suas afiliadas e seguidoras – aqui incluso o séquito escatológico (coprológico mesmo!) -, faz de contas que nada tem a ver com isso, pois tudo é culpa da Dilma/Lula/PT.

Com esse pano de fundo, é linguagem corrente entre os patos amarelos que, com toda sua “educação”, dizem que o problema do Brasil é educação. Mas, quem educa o brasileiro? A escola cujo professor assiste a Globo e tenta ensinar o abc às crianças que assistem Globo? Será que educação é aprender a formar palavras, ouvir histórias mal contadas sobre reis e impérios? Será que educar é decorar afluentes das margens esquerda e direita do rio Amazonas?

Do alto ou do baixo de minhas precariedades, educação (sem preciosismos pedagógicos) é, ainda que singularmente, todo um processo de apreensão intelectual de toda uma conjuntura exterior, nela incluindo o imaginário. Desse modo, qual o papel dos meios de comunicação nisso tudo? O que fazer frente a isso, quando um ministro da dita Corte Suprema diz que precisa julgar segundo os anseios sociais? O que fazer quando os meios de comunicação de massa são nocivos e fabricam anseios de sua conveniência? O que fazer se os Sejumoros da vida alimentam os tais meios de comunicação e juízes julgam conforme anseio social que eles mesmos fabricam em conluio com a grande mídia? Rasgar a Constituição, proferir sentenças casuísticas, colher depoimentos sob tortura, fazer prisões ilegais e derrubar uma presidente sem crime nada disso vem ao caso…

Eis o caos criado para realinhar o Brasil à geopolítica internacional, sobretudo voltado para os interesses dos que controlam 99% da riqueza do mundo. Ainda que isso custe o abrir mão da soberania, dilapidar o patrimônio nacional, cuspir na bandeira que acoberta a infâmia e a covardia (Castro Alves).

Foi nesse contexto de anomalia social brasileira, que assisti trecho de um programa do canal de TV alemão ZDF. O episódio “Die Anstalt” (A Instituição) é uma sátira com fortes críticas ao neoliberalismo, seus efeitos nocivos para o mundo. Os atores ironizam o fato dos teóricos do neoliberalismo, patrocinadores da miséria no mundo, terem sido agraciados com Prêmio Nobel. O tal prêmio funcionou como selo de garantia para a miséria no mundo se alastrar. Perplexos com a cara de pau dos protagonistas que defendem a “privatização, redução de impostos e destruição do Estado de Bem-estar Social”, os interlocutores perguntam aos “donos do mundo”:

– Por que razão vocês revelam com tanta clareza (cara de pau) tais atrocidades?. – – “Por que ninguém vai acreditar em vocês”, responde uma das personagens.

A pergunta, em tese, serve para generais, Moro, Globo et caterva. Por que vocês tentam negar o golpe? “Por que ninguém vai acreditar em vocês”.

Armando Rodrigues Coelho Neto – jornalista e advogado, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

 

Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

11 Comentários

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  1. seleção

    Os patos amarelos com a camisa da seleção evoluiram. Agora são reses coloridas. Desde sempre, tangidos pela globo, engrossam o estouro da manada. Alguns intuem o abismo à frente mas imediatamente tratam de sufocar esse sentimento PeTrálico bolivariano. Afinal despenderam tanto tempo e esforço para acelerar até aqui e se sentem tão confortáveis no meio da boiada que nem se permitem pensar diferente.

    Uma única certeza todos tem: A (qualquer) culpa é do Lula.

    A globo é seu pastor, só o “semancol” lhes faltará.

     

  2. José de Abreu no twitter:O

    José de Abreu no twitter:O golpe acabou com o Brasil, vai ser difícil recuperar
    Roberto Requião no twitter Na verdade não queriam acabar com a corrupção. Queriam acabar com o Brasil e estão fazendo isto!

  3. Será que FHC e Serra são

    Será que FHC e Serra são membros da rede Mont Pèlerin? Será que o PSDB é filial da rede? E a Globo, é membro junto com a mpidia pig? O Itaú e Bradesco, com certeza, são.

  4. Negam porque no Brasil so existe o que a imprensa diz existir

    So se dah tiro no pé por duas razões: engano ou para desviar a atenção. No caso do Brasil a população deu tiro no pé por falta de conhecimento de tudo um pouco e, em parte, pela propria ganância.

    Mas e a quem interessa manter a massa ignorante? Quando leio no You Tube comentarios sobre “comunistas” cruéis e que desejam aniquilar a familia com a propriedade, com tudo; é obvio que ha os que manipulam e ha o gado que vai trotando com a massa sem saber para onde esta indo. 

    Sergio Moro também em certo sentido não deixa de ser gado, apesar de pensar que faz parte de uma certa elite…. 

  5. Para quem defende a volta dos

    Para quem defende a volta dos minitares(é minitares mesmo): Entrou um General na Presidência da República depois do golpe de 1964. A política econômica por ele implantada fez água. Aí ele disse: “O Brasil caminha para um abismo”. Seu sucessor, também general, também política econômica fracasssada. Quando saiu da Presidência, falou: “O Brasil está à beira de um abismo”. Entra um novo General na Presidência, política econômica fracassada também. Aí o General Presidente falou: “Ninguém segura esse País!”

  6. Caro Armando, entender a

    Caro Armando, entender a paralização dos caminhoneiros não é tão difícil. Imagine cada pessoa das que foram às ruas em Junho de 2013 dirigindo um caminhão. Lembra da hostilidade com que foram tratadas as pessoas que, naquela manifestação, levavam bandeiras de partidos como o PT, o PCdoB, PCB e até os iniciadores da mobilização, os que recusavam o aumento de R$ 0,20 nas passagens de ònibus. As pessoas que hostilizavam diziam-se apartidários, os “sem-partido” da “Escola Sem Partido”, os paneleiros sem partido, patos-de-fiesp que escurraçaram Alckmin e Aécio nas passeatas na Paulista. Tudo isso estimulado pelas firmas privadas de comunicação às massas como a “Globo”, o “OESP”, a Folha”, a “BAND” et cetera. Ou melhor, como você coloca, et caterva.

    Aumento de R$ 0,20 nas passagens de ônibus, aumento do preço do diesel… coincidência, né?

    Foi baseando-se nessa história de sem-partido, sem-política, sem-estado que Alckmin se reelegeu para o estado de São Paulo e Dória elegeu-se para a capital. “O pessoal, se ficar de saco-cheio de política, vota em não-políticos”. Político não-político, estado democrático que negligencia o povo…

    Paradoxal. É honesto a “direita” levantar a bandeira de “Sem-partido, sem-política, sem-estado”. A intenção dessa turma é mesmo a não-política, o sucateamento do estado como indutor de políticas democráticas (e indutor da plutocracia), o estado apenas como financiador de donos e acionistas de empresas, seja para comprarem aviões a jato particulares ou até para aumentarem suas empresas sem terem que parar de desviar lucros para paraísos fiscais. E é a percepção dessa honestidade que leva eleitores a votar neles. O fato de que não há nenhuma evidência de que em as empresas crescendo o povo ficará mais próspero (pelo contrário, o crescimento de empresas é historicamente relacionado com concentração de poder político e econômico e não com sua distribuição) é mascarado pela disseminação da mentira que diz que “você também pode ser um dos nossos”, mas não completa “desde que se conforme e aceite a posição que nós determinamos a você. E esteja certo de que tudo faremos para ‘ganharmos’ de você ou pelo menos para fazer você ‘perder’. Habitualmente usaremos essas duas opções.”

    É mentira demais, né não? Não é à toa que a turma tá ficando louca, demente, esquizofrêncica. É isso que acontece quando você se aliena de si mesmo, quando finge não ser quem é e não pertencer à classe social que realmente pertence: fica com menos de você em você mesmo. Daí vem a propaganda comercial dizendo que, se você comprar determinado produto, ficará com “mais de você em você mesmo”. Também ajuda a alienar-se a participação em clubes de elite como maçonaria, por exemplo, ou outros clubes do bolinha que-tais. Segmentar, dividir para governar… Qualquer coisa que lhe dê a impressão de que você é um dos deles e não um do povo.

    (Existe mentira honesta?)

    1. Fiquei pensando aqui… me

      Fiquei pensando aqui… me parece, caro Armando, que absolutamente tudo que vier com rótulo de sem-partido, tudo que for “contra tudo o que está aí”, “contra a robalheira geral”, enfim, tudo que vier de forma difusa, generalizada será sempre a favor do privatismo, de partidos políticos como o PSDB, o DEM, MBL, “Mamãe Falei”, “Escola Sem Partido”, essa gente.

      Dória e Alckmin, por exemplo, ou Aloysio Nunes e Aécio Neves são políticos não-políticos, ou seja, políticos que crêem que o estado não deve ser estatal, deve ser privatizado. Claro que dirão sempre que são quase socialistas, que favorecerão o povo através do fortalecimento das empresas privadas. Mas uma empresa privada concentra (e não distribui) poder e riqueza. Se não fizer assim, quebra.

      Fernando Holiday é tão político quanto Miriam Leitão é jornalista: pessoas incumbidas de corromper e desvirtuar as instituições das quais fazem parte.

  7. Caras lisas…

    Os ricos e os muuitos ricos não são somente ilustres, mas lustrados. A cara lisa, brilhosa, lustrada, parece um espelho! Vamos mudar o nome do prêmio de Nobel para prêmio Nopau com direito a uma caixa de óleo de peroba. :))
    Uns anos atrás um certo presidente, nem havia esquentado o assento do gabinete e, recebeu o prêmio Nobel da Paz. Correram para homenageá-lo. Não demorou a virar o recordista em lançar bombas nas cabeças de civis mundo afora.
    O vídeo é bem didático, demonstra como o mundo anda por aí. Agora imaginem por aqui?

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