“Por que ninguém está falando na tentativa de hackeamento do sistema eleitoral ou do apagão no CNE”, diz jornalista brasileira na Venezuela

Dolores Guerra
Dolores Guerra é formada em Letras pela USP, foi professora de idiomas e tradutora-intérprete entre Brasil e México por 10 anos, e atualmente transita de carreira, estudando Jornalismo em São Paulo. Colabora com veículos especializados em geopolítica, e é estagiária do Jornal GGN desde março de 2014.
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A vitória de Nicolás Maduro gera crise política e geopolítica, com denúncias de fraude e repercussões internacionais.
Ronald Pena R.

Com a declaração da vitória de Nicolás Maduro nas eleições presidenciais realizadas no último fim de semana, a oposição denuncia suposta fraude e, ao menos sete países do continente americano questionam o resultado, desatando uma crise previamente anunciada.

O jornalista Luis Nassif conversou com a também jornalista Vanessa Martina-Silva, diretamente da Venezuela, e com o cientista político Pedro Costa Jr., sobre os desdobramentos locais e geopolíticos da jornada eleitoral na Venezuela. 

Segundo Vanessa, as eleições deste ano foram convocadas a fim de pacificar o país e tranquilizar a comunidade internacional após o processo eleitoral conturbado de 2018. No entanto, ela alerta para uma “campanha orquestrada desde o exterior”, muito antes do processo de contestação da legitimidade dos resultados que indicam vitória de Maduro com 51% dos votos válidos. A crise é agravada pelos ânimos dos populares que ocupam as ruas em protestos que já deixaram mortos e feridos.

“Os venezuelanos não estão em segurança”, afirma a jornalista brasileira ao descrever sua experiência ao se deparar com uma manifestação violenta da oposição próxima ao seu hotel.

A jornalista contou ao GGN que, de acordo com fiscais vinculados à frente eleitoral da oposição, as eleições teriam corrido normalmente, mas que assim que a derrota fosse anunciada, esperariam “as ordens de Corina”, em menção à Maria Corina Machado, líder da oposição que teve sua candidatura impugnada, sendo substituída por Edmundo Gonzalez. 

“A direita global funciona por sinais”, assim Pedro Costa Jr. descreve o cenário geopolítico em relação ao processo eleitoral venezuelano. Segundo o analista político, a extrema-direita mundial já tinha conhecimento de que perderiam no México para a sucessora de AMLO, Claudia Sheinbaum, assim como perderam na Colômbia para Petro. Nesse sentido, a direita venezuelana estaria acostumada a questionar os resultados eleitorais sempre e quando não os vencem, iniciando a prática em 2013, quando seu candidato perde para Nicolás Maduro. 

“É impossível olhar para a Venezuela sem olhar para o petróleo”, adverte Pedro ao mencionar a própria flexibilização da relação dos Estados Unidos com o país sul-americano após a guerra na Ucrânia, gerando a necessidade de novos fornecedores.

O cientista político ainda comenta o entreguismo da oposição venezuela ao tentar legitimar uma presidência fictícia de Juan Guaidó, com o objetivo de assinar que as reservas de ouro pudessem ser capturadas pela União Europeia.

“Guaidó tem a mesma legitimidade de ser presidente da Venezuela como eu tenho de ser presidente do Cruzeiro”, ironiza Pedro. Ou seja, para ele, a grande plataforma política da oposição seria privatizar a PDVESA, como se poderia observar com a tentativa de entregar a região de Esequibo para as petroleiras estrangeiras. 

Vanessa reforça esse raciocínio ao enfatizar que o governo venezuelano é soberano e mantém o controle dos recursos naturais do país e há uma força muito grande para recuperar essas riquezas. 

“O ponto não é a democracia liberal, não é do que se trata; é uma questão geopolítica. Quem legitimou na primeira hora foram a China e a Rússia”, completa Pedro Costa, que destacou o papel decisivo que as mais de 900 sanções à Venezuela causam na realidade do país.

Para Costa, os agentes internacionais “não punem Israel, fizeram guerra na Líbia e desrespeitaram o Conselho de segurança em 2003”, mas não se levantam contra tais sanções letais à economia venezuelana.  “As sanções durarão tanto quanto durará a revolução bolivariana, porque é isso que a gente vê em Cuba”, conclui Vanessa. 

Para a jornalista, a posição brasileira de esperar a entrega das atas para legitimar o resultado eleitoral do fim de semana é vergonhosa, temerária e irresponsável, pois o Itamaraty estaria “totalmente alinhado com essa postura do golpismo do Edmundo Gonzalez”.

“Por que ninguém está falando na tentativa de hackeamento do sistema eleitoral ou do apagão do site do CNE [Conselho Nacional Eleitoral], que saiu do ar?”, questiona ao explicar que a narrativa do governo faz sentido. 

Vanessa afirma que Maria Corina Machado é “um Bolsonaro muito pior”, porque “ela apertou o gatilho” ao orientar sua militância a práticas violentas como tática política. Portanto, o Brasil deveria “emitir sinais de pacificação para acalmar os ânimos”. 

Conferência Nacional

No segundo bloco do programa desta segunda-feira, Nassif conversou com o secretário adjunto da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, Anderson Gomes, cuja última edição foi há 14 anos.

Para Gomes, a Conferência iniciada hoje em Brasília “não só resgata, mas tem um olhar para os próximos 10 anos. O resultado dessa conferência vai ser um documento que vai servir de base para a estratégia nacional de ciência, tecnologia e inovação para os próximos 10 anos”

Após 200 conferências prévias com temas diversos e gerando documentos, que, inclusive, precisaram do uso da inteligência artificial, os 230 participantes presenciais irão elaborar recomendações para que o país use a tecnologia a seu favor. Tais alinhamentos serão condensados em um documento, pelos próximos dois meses, e será enviado ao ministério correspondente para ser transformado em planos de governo. 

A participação online ainda é possível através do cadastro no site https://5cncti.org.br/ 

Assista ao programa completo:

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