Por que Putin é aprovado pela maioria dos russos?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Ameaçado pelas sanções de guerra, o desempenho econômico de Putin é um dos fatores que explicam sua popularidade nos últimos 20 anos

Vladimir Putin em uma caricatura com a bandeira da Rússia ao fundo
Foto: Pixabay

Um artigo publicado no site estrangeiro The Conversation – cujo lema é “rigor acadêmico, talento jornalístico” – tenta explicar as razões pelas quais o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ainda ostenta um grau elevado de popularidade entre os russos, apesar de ser um líder autoritário e mal visto no Ocidente.

O artigo, escrito em primeira pessoa por Noah Buckley, pesquisador e professor de Ciência Polícia da Universidade de Dublin, na Irlanda, mostra que a alta popularidade de Putin intriga tanto o Ocidente que um estudo independente foi realizado em 2015 para confirmar se as pesquisas na Rússia são realmente verdadeiras ou apenas uma peça de “ficção”. São verdadeiras, diz o pesquisador.

Em outubro de 2021, uma pesquisa de opinião mostrou que ao menos 56% dos russos têm sentimento de aprovação em relação a Putin. Outros 16% se disseram “indiferentes” ao líder e apenas 9% responderam que não têm nada de bom falar dizer a respeito do ex-agente da KGB.

Outros 47% dos russos disseram que Putin deveria continuar na Presidência após 2024. Mudanças na Constituição russa permitem que Putin – que já está há 20 anos no poder – possa tentar esticar o mandato até 2034. O desejo de que isso aconteça cai entre pessoas mais jovens e que se informam pelas redes sociais.

Quando perguntados por que acham que Putin detém a confiança da população, 41% dos russos responderam que é porque as pessoas não sabem com quem mais poderiam contar. Outros 49% disseram que é porque Putin tem tido êxito ao lidar com os problemas do País ou ainda será capaz de fazê-lo no futuro. A pesquisa foi feita pelo Levada Analytical Center, uma uma organização não governamental russa de pesquisa.

POR QUE PUTIN É POPULAR NA RÚSSIA

Em meio à operação militar na Ucrânia, a aposta do analista irlandês é que Putin pode ver sua popularidade derreter. Alguns críticos têm convergido em um dos argumentos: com acesso à internet pelo celular, os russos já podem furar a cobertura da mídia estatal russa e conhecer o drama humanitário dos ucranianos a partir de outras narrativas.

Buckley, porém, admite que, no passado, quando Putin usou a força militar para tirar a Criméia do alcance da Ucrânia, o resultado foi um crescimento em sua taxa de aprovação. Esse “fervor patriótico” foi citado pelo pesquisador como um dos fatores que ajudam Putin a cair nas graças do povo. Outro fator seria o “bem-estar financeiro e as taxas de inflação”.

“O desempenho econômico é uma constante subjacente ao apoio dos russos a Putin nos últimos 20 anos. Após o colapso econômico da Rússia na década de 1990, após a queda da União Soviética, Putin confiou na recuperação econômica e na estabilidade para sustentar sua popularidade”, descreveu.

Mas como grande parte do mundo ocidental impõe sanções econômicas com intenção de sufocar a Rússia e sustar a guerra na Ucrânia, os impactos sobre a população podem inflar o sentimento “antiguerra”.

“Putin tem uma ampla base de apoio e uma máquina de propaganda que pode usar para limitar os danos à sua reputação. No entanto, revoltas de massa, descontentamento e até revolução podem pegar todos de surpresa em regimes autoritários”, escreveu o autor.

Não é possível cravar o que Putin planeja para contornar a situação. Certo é que, há décadas, o ex-agente da KGB sabe como poucos trabalhar sua imagem perante a opinião pública.

“Deve-se dizer que Putin também é popular por causa de quem ele é e o que ele representa – liderança firme. Seu apelo pessoal – uma masculinidade conspícua e comportamento de homem do povo – e seu papel em trazer a Rússia de volta ao palco principal dos assuntos globais apenas reforçam sua atratividade.”

Leia o artigo completo aqui.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

2 Comentários

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  1. Há um fator cultural russo, que o autor chama de “liderança firme” e “masculinidade”, mas é mais que isso..
    Os russos têm uma visão czarista, boa parte da população acredita que a Rússia só esteve bem, quando teve governos com o mesmo governante por um longo período de tempo.
    A Revolução Russa (1917) não conseguiu quebrar essa imagem, pois logo depois teve Stalin e outros, que se mantiveram no poder por longos períodos.
    É também por isso, que os russos continuam aprovando Putin e não o vê como um ditador.
    O ocidente continua tendo aquela visão Romana, todas as outras culturas além da nossa são bárbaras, por isso temos que impor a nossa visão a eles.
    Se para nós, aquele governo não está nos moldes do que consideramos Demo-cracia. Bomba neles, porque é para o bem deles. Não importa o que aquela sociedade ache ou qual é a vontade dos “Dêmos”.

  2. Americanófilos resumem tudo a moedas. Tudo está restrita “à economia”. Valores, só se for terminados em cifrões.
    Lembrando que desde Roma, os que daquela área viraram sinônimos de servos: os eslavos, que em português ganhou a corruptela de escravos.
    Os “Povos do Mar” desconhecem ou fingem desconhecer o que significa isso arraigado na alma de um povo.
    A Rússia e todo o mundo eslavo tem muito mais a ver com a Macedônia de Felipe e seu filho Alexandre que com a Liga de Atenas, dita do Peloponeso e sua oligarquia autodenominada de democracia.

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