Por uma educação libertadora

Há algum tempo os professores dizem para os seus alunos que é preciso estudar para ter um futuro melhor. Se vocês não estudarem não serão ninguém na vida. Dizem isso com o foco, sobretudo, na ideia de que o estudo é condição para acessar os melhores empregos, entendidos não como realização individual independente, mas como empregos a serviço do capitalismo em voga.

Nesse sentido, a escola seria um meio para que os alunos vislumbrem um trabalho mais valorizado. Nada de errado para os educadores que tem uma visão reducionista da realidade e desconsideram outros valores que compõe a dimensão humana. Para esses, tudo tem um valor comercial, ganhar dinheiro. As consequências desse tipo de comportamento são desastrosas, gera uma sociedade em muitos aspectos desumanizante e irracional, que prioriza o econômico em detrimento do humano. As pessoas deixam de ter aspiração na vida a não ser o que está ligado ao conforto frívolo, ao consumo desmedido, ao ganho de dinheiro.

 Não estou defendendo uma educação autista, apartada da realidade econômica em que vivemos. A questão econômica é importante e qualquer proposta educacional que não contemple esse viés é uma “antieducação”. Precisamos educar para a vida, sem dúvida, mas precisamos, sobretudo, formar cidadãos autônomos, emancipados e que não sejam marionetes do sistema.

A escola deve ser o palco do esclarecimento integral para, então, se tornar geradora de cidadania. Isso significa adquirir a capacidade de assumir posições refletidas. A pessoa emancipada questiona abertamente, sabe o que quer, e precisa disso para ser livre. Ela quer saber o motivo, ela precisa entender para aceitar ou não o que é falado, ordenado. Ela é capaz de raciocinar além do mundo mercadológico e em que tipos de outros mundos seriam possíveis viver, ou analisar com consciência os caminhos que tomamos.

A inanição intelectual em voga ultrapassada de alguns que se dizem educadores não valorizam o ensino de Filosofia e Sociologia em detrimento de matérias mais úteis, como a Matemática e Português. Eles só reproduzem uma tendência produzida pelo Estado, creio que passageira, de uma óptica onde o importante é cumprir metas nas avaliações externas (Enem, Saresp, etc.) e no vestibular para ser mais um imbecil de terno bem sucedido no mundo do trabalho.

Não que o sucesso no trabalho não seja importante, a questão que se coloca é que não podemos esquecer o propósito da educação, que é preparar as pessoas para a vida em toda a sua complexidade. Todas as áreas do conhecimento que compõe o currículo das escolas são importantes e nenhum é mais ou menos importante do que outra para formar um cidadão.

Nesse sentido, é preciso que todos reconheçam a necessidade de uma educação holística, educar com foco no mundo do trabalho é educar pela metade. Quando os problemas humanos são colocados em segundo plano temos problemas existenciais e sociais.

 A educação deve estar voltada para o exercício racional da liberdade para que os determinismos sejam superados e o homem possa fazer-se a partir de projetos que se propõe racional e livre. O ser humano não está enclausurado ao determinismo, ele é inconcluso, e diante disso, precisa humanizar-se, o que abre a possibilidade de ser livre, de construir-se a si mesmo, e ao mesmo tempo, responsável e ético.

Luiz Cláudio Tonchis.

Filósofo, Professor e Especialista em Educação. 

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