Porque Haddad é favorito – parte 1

Boa parte das análises que li sobre a disputa eleitoral para a principal cidade do país entoam um réquiem para o atual prefeito, Fernando Haddad. Como embasamento para essa visão, as pesquisas sobre a aprovação e reprovação do prefeito, e umas poucas sobre intenção de voto. Ainda que não considere descartáveis pesquisas de opinião, não me fio muito nelas, visto que Ibope, Datafolha, Vox Populi são especialistas em cometer erros retumbantes a cada eleição [http://j.mp/cG151010e], erros que nada têm de inocente.
Recentemente, o Ibope divulgou uma pesquisa, feita em fins de 2015, com a avaliação dos paulistanos sobre seu prefeito: apenas 13% aprovam sua gestam, com 56% de desaprovação [http://j.mp/20laEzr]. Índice que se aproxima dos apontados pelo Datafolha, em novembro do ano passado [http://j.mp/1TgGJqg]. Sobre intenção de voto, pelo Datafolha de novembro, Haddad estava tecnicamente empatado com Datena (PP) e Marta (PMDB) na segunda colocação, atrás de Russomano (PRB).
A despeito desses números, sigo acreditando que Haddad é o candidato com mais chances de vitória no pleito do segundo semestre, por mais que seu favoritismo seja muito tênue. Me explico.
Começo pelos adversários que tentarão batê-lo.
O PSDB, principalmente o de São Paulo, é a incompetência em partido: desde 2000, só duas vezes o partido teve outro nome que não Serra ou Alckmin em uma eleição majoritária, seja para prefeitura, governo estadual ou senado: nas disputas para o senado de 2002 e 2010, com José Aníbal e Aloysio Nunes Ferreira, quando eram duas as vagas em disputa [http://j.mp/cG150105ms]. Diante da falta de nomes novos de conhecimento público, o partido deverá ser figurante: pode no máximo lançar um candidato com vistas a 2018 ou 2020. Outra opção é a de assumir o papel de legenda de apoio, mantendo o discurso anti-PT, para depois negociar cargos. Uma escolha interessante, não apenas para a disputa como para o próprio partido: se vai manter a retórica raivosa de direita, beirando o extremismo, ou vai tentar se construir com um discurso mais ponderado, buscando o centro, a centro-direita – mais próximo do modelo do “catch-all-party” da ciência política. Pode ser uma verdadeira refundação do partido, ou selar o seu fim enquanto opção política democrática para o país (João Dória seria a assunção do papel de legenda proto-fascista, a espera de Luciano Huck para presidente).
Datena desistiu de seu sonho político, o que tende a favorecer Russomano – se um PSDB desesperado não buscar a todo custo seus órfãos. Os dois televisivos corriam na mesma raia, a de uma classe-média amedrontada com a possibilidade de perder o que conseguiu a duras penas (dizem). Uma classe-média (que vai da baixa à alta-classe-média) sem formação política – apesar da sua formação superior -, que entende cidadania como direito do consumidor, e defende a ordem e o progresso – na base do pau-de-arara, se for o caso. Datena seria o legítimo candidato do público do “bandido bom é bandido morto”, enquanto Russomano se vende como tendo o perfil de síndico de condomínio, que chama todos à ordem antes de chamar os militares (da polícia ou do exército), defensor do cidadão-consumidor pagador de impostos. Sem Datena, Russomano é favorito para vencer o (O, e não NO) primeiro turno – até pelo menor período de propaganda política na televisão. A questão é se o candidato do PRB tem fôlego para um segundo turno. Em 2012, tão logo o candidato-sabonete do partido da Igreja Universal resolveu fazer uma proposta política, definhou espetacularmente. O PSDB pode ser seu fiador num segundo turno – mas isso não somaria muito, visto que essa seria a tendência natural dos atuais eleitores tucanos, movidos antes pelo ódio ao PT do que por alguma causa positiva.
Marco Feliciano, pelo PSC, ameaça disputar. Seria interessante ele como candidato, pois se trata de um nome de projeção nacional (graças ao PT!) que apresenta de forma crua o reacionarismo mais perigoso – sua candidatura poderia dar uma dimensão do tamanho da extrema-direita de maior pureza na principal cidade do país. Poucas chances teria, sua candidatura seria para ventilar seu nome para o governo do estado, daqui dois anos. Russomano agradece se ele ficar por Brasília.
Marta Suplicy deverá disputar com Haddad a segunda vaga para o segundo turno até o último minuto. Política que, a exemplo de José Serra, tem um projeto pessoal (e personalista) de poder, ganhou guarida no PMDB de Temer, Skaf e Chalita, e já demonstrou, em 2008, ao questionar a orientação sexual de Kassab, que não tem peias éticas para alcançar seus objetivos. A grande incógnita que a cerca é o tamanho de seu capital político na periferia paulistana: quanto é dela, quanto é do PT. É isso que vai fazer a diferença – tanto para concorrer pelo PMDB quanto para chegar ao segundo turno. Apesar de ter saído do PT, ela segue como uma petista aos olhos de muitos anti-petistas, que só ousariam votar nela se com isso pudesse tirar o prefeito do segundo turno – ainda assim, é possível que muitos prefiram Haddad à “Martaxa”.
Apesar de ignorado pela Grande Imprensa corporativa, o Psol é um coadjuvante que não pode ser ignorado. A princípio sem chances de vitória, deve cumprir seu papel de “grilo falante”, ser o contraponto às direitas, puxando o debate um pouco para a esquerda. Se conseguir politizar o debate, pode ajudar a desidratar candidatos-sabonete ou candidatas-vira-casaca, mas pode também salientar contradições da administração Haddad, a ponto tirá-lo do segundo turno. Os demais candidatos, por PHS, Rede, PV, PTB, PDS PSDC, PPS tendem a fazer papel de legenda de apoio do candidato à direita mais bem posicionado.

Na próxima crônica, analisarei as chances do prefeito por ele próprio.

29 de janeiro de 2016.

Redação

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