Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Potássio nacional? Não mais verão, por Rui Daher, em CartaCapital

O motivo para eu citar com frequência o editor e comentarista econômico do britânico Financial Times, Martin Wolf, é saber que ele não é petista, de esquerda, ou comunista que come criancinhas. Pelo contrário. Apenas, como eu, acredita que o capitalismo abandona seus fundamentos humanistas em favor de uma exacerbação financista desregulada, que está destruindo os sistemas produtivos e os empregos.

“Em breve o Ocidente pode estar perdido” (Valor, 29/09), seu mais recente artigo, mostra surpresa com a receptividade que os norte-americanos estão dando a Donald Trump, e analisa as consequências de uma eventual vitória desse dourado cavalheiro. Um trecho:

“Como empresário, ele é um caloteiro serial e litigante judicial convertido em estrela de ‘reality shows’. É um mascate de falsidades e teorias da conspiração. Emite calúnias racistas. Ataca a independência do Judiciário. Recusa-se a revelar quanto paga em impostos. Não tem nenhuma experiência em cargos políticos (…), orgulha-se de sua ignorância, chega a sugerir um calote federal (…) ameaça rasgar acordos passados, e apoia a tortura e o assassinato das famílias de supostos terroristas”.

Apenas isso o faria merecedor de extirpação no planeta, como o foi Enver Hoxha, tirano comunista albanês, entre 1941 e 1985. Mas não, Donald Trump é candidato a presidente da maior e mais armada nação do mundo, e está bem cotado nas pesquisas de intenções de votos.

A descrição caberia justa em muitos políticos e empresários brasileiros.

Fato e análise remetem-me imediatamente às consequências que a mais recente corrosão na democracia brasileira nos traz. O mesmo conluio que depôs uma presidente eleita por vontade popular, agora ensaia uma ópera bufa em que relata um país melhor, feito que precisou menos de cinco meses para se concretizar. Segundo os golpistas, apenas com austera credibilidade.

Que bom! Mas melhor para quem? Certamente, para os políticos implicados em sérios casos de corrupção e poupados pela Morosidade da operação que usa PowerPoint para trocar provas por convicções, centradas em bola de personagem e partido únicos.

Preâmbulo feito, povo feliz, nação entrando no Guinness Book de Records, como a mais rápida recuperação sobre os frangalhos recém-expostos em folhas e telas cotidianas, só nos resta voltar às Andanças Capitais.

Bem, já sabem, né? O potássio, nutriente básico para as necessidades das lavouras, sai da Vale e vai para a norte-americana Mosaic, por US$ 3,5 bilhões.

Embora a produção nacional, exclusiva da Vale, não atenda mais do que 10% da demanda brasileira, agora o mineral virá 100% do capital estrangeiro. A Vale alega para a venda esgotamento da mina e baixa lucratividade. Estranho a Mosaic querer um ativo assim.

Entre 2000 e 2010, o lucro líquido da operação com cloreto de potássio na mina de Taquari-Vassouras, município de Rosário de Catete, Sergipe, acumulou lucro líquido de US$ 61,65 bilhões e pagou 45% de dividendos a seus acionistas, na maioria bancos estrangeiros.

A mina foi descoberta pela Petrobras, em 1963, que mais tarde cedeu construção e gestão à sua subsidiária em mineração, a Petromisa. Em 1985, a empresa iniciou a exploração do potássio.

Seis anos depois do início, deficitária pelo noviciado operacional e a falta de competitividade diante de dumping dos complexos exportadores mundiais, ainda não cartelizados, a Petromisa passou a ser ameaçada de privatização no governo Fernando Collor de Mello. Para evitar o ato, uma comissão de funcionários da empresa e representantes do governo do estado de Sergipe apresentaram uma proposta de arrendamento da mina à Companhia Vale do Rio Doce, na época ainda estatal. A Vale aportou US$ 5 milhões na Petrobras e levou a mina, em contrato de 25 anos (a vencer em 2016), prorrogáveis por mais 25 anos. Em 1997, Fernando Henrique Cardoso privatizou a Vale e junto a exploração do potássio.

Andanças, que ainda não eram Capitais, por volta de 2006, me levaram a visitar a mina da Vale, no Sergipe. Pediam à nossa consultoria estudo de viabilidade e adaptação da fábrica para produzir carnalita, um mineral composto de cloreto de potássio e magnésio. Em 10 anos, nada foi dito, a nós ou a alguém. Ou nós éramos ruins ou a exploração de carnalita não valia a pena.

Em 28 de abril deste ano, o governador Jackson Barreto (mais um caso de vice do PMDB que assume o lugar de um petista, com a morte de Marcelo Déda) recebeu representantes da Vale para apresentação do Projeto Carnalita e sua viabilidade técnica, feito por determinação dos acionistas da empresa. Óbvio que as negociações para a venda já estavam em processo, que permite explorar, em operação simultânea, o minério de 30 cavernas. Serão mais 1,2 milhão na oferta de cloreto de potássio nacional.

Estará, então, sucateada a mina de Taquari-Vassouras? Com a palavra a Mosaic e seus US$ 3,5 bilhões.  

Nota: Para mais informações está disponível na internet relatório da Associação dos Empregados da Vale em Sergipe.V

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

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