Precisamos de mais e mais Rubens Casara no Brasil, por Charles Feitosa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Justificando

Precisamos de mais e mais Rubens Casara no Brasil

por Charles Feitosa

Confesso que eu gosto de coxinha de galinha, tenho até 2 ou 3 botecos para recomendar, onde se pode apreciar o tradicional petisco. Talvez por causa dessa associação prazerosa eu nunca fui muito fã de usar essa expressão para designar atitudes pouco agradáveis, como a daqueles que estão à direita, quer dizer comprometidos com a manutenção de um certo status ou poder.

Ninguém sabe ao certo como o termo coxinha ganhou originariamente a conotação de alguém meio certinho e convencional, nem também como passou a designar, mais recentemente, a ideia do sujeito que apoiou o golpe. Existem diversas teorias sobre a origem do termo, que envolvem gírias paulistas para policiais ou marchinhas mineiras de carnaval. O fato é que com a atual radicalização da sociedade brasileira, eu nunca mais vou poder comer coxinha sem correr o risco de uma certa indigestão, literal e simbólica.

Dentro desse contexto é no mínimo absurdo alguém afirmar que o termo coxinha tenha sido inventado pelo próprio Lula e acusar quem quer que use esse termo como seguidor do PT.

É exatamente esse um dos argumentos que fundamenta a acusação feita pelo CNJ de quebra do princípio de imparcialidade contra o magistrado Rubens Casara (juntamente com André Luiz Nicolitt, Cristiana de Faria Cordeiro e Simone Nacif Lopes), por ter usado essa expressão em um debate público sobre o impeachment em 2016.

O termo coxinha já está incorporado ao discurso cotidiano das pessoas, foi a palavra do ano de 2016 no Brasil. Identificar o seu uso como a marca de pertencimento a um partido é de certa forma menosprezar a inteligência das pessoas, induzindo-as a uma relação de causa e efeito, que não encontra respaldo na realidade.

Numa época em que há magistrados participando de reuniões secretas com deputados, senadores e presidentes, em uma nítida relação de promiscuidade com o poder, sem que haja nenhuma crítica da imprensa ou da sociedade em geral, e ao mesmo tempo, um juiz como Rubens Casara, tenha sua imparcialidade colocada sob suspeita apenas por ter participado de um fórum público, fica óbvio que reina atualmente uma noção muito parcial do que imparcialidade possa significar.

Precisamos lutar para reconquistar uma noção mais imparcial da própria imparcialidade. Devemos ficar atentos ao jogo de vários pesos e várias medidas, conforme os interesses e as posições políticas.

O Brasil de hoje precisa também repensar seus conceitos de legalidade, pois estamos assistindo inertes a compra de deputados com verbas públicas para fins pessoais com a justificativa de que faz parte da regra do jogo. Está na hora então de mudar as regras do jogo, virar o jogo, sair do jogo.

Em uma situação mais equilibrada de respeito aos direitos e às diferenças, Rubens Casara estaria sendo homenageado pela sua competência, capacidade e coerência. Em tempos bizarros como esses, ele é um exemplo de coragem na defesa da liberdade e da democracia no nosso país.

Precisamos de mais e mais Rubens Casara no Brasil.

Charles Feitosa é professor titular de filosofia da UNI-RIO.

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. me lembrou um colega. . .

    “. . .eu nunca mais vou poder comer coxinha sem correr o risco de uma certa indigestão, literal e simbólica.”  Essa frase me lembrou um colega que falou que não podia comer linguiça que lhe fazia mal, mas depois que fizeram a reforma ortográfica e tiraram o trema, ele pode comer tranquilo, descobriu que o que lhe fazia mal era o trema.

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