Primavera interrompida, por Fabianna Pepeu

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Primavera interrompida

por Fabianna Pepeu

Talvez seja o caso de imaginar a vitória do candidato fascista como o momento posterior a uma guerra civil que não tivemos e, a despeito de toda dificuldade que estamos enfrentando desde 2014, com esse aprofundamento gravíssimo agora, desenvolver uma rede solidária consistente e não sazonal para toda e qualquer ação política, cultural e afetiva. Desde uma carona que você pode dar pra uma amiguinha de seu filho até a construção efetiva de uma frente de resistência para os todos os dias difíceis que virão, passando por inúmeras atividades que podem e devem ser feitas pra tornar a nossa vida – e a de todas as pessoas que estão nessa mesma barca – mais inteira, plena e leve. 

Essa tragédia política que está em curso operou uma mudança muito profunda em mim e percebo com clareza o mesmo movimento em outras pessoas.
Não foi fácil passar pelo que passamos e não será fácil encarar os desdobramentos, a exemplo da denúncia contra Haddad, ocorrida nessa segunda-feira, 19, numa clara tentativa de desmoralizar a força de seu nome, a bela campanha que fez e o que isso representava. Isso é uma sequência, não parou e não vai parar, pois o desejo é de terra arrasada, impedindo um outro modelo de mundo. Uma imagem que nunca vivemos na totalidade, mas que tivemos a oportunidade de vislumbrar tal qual quando o amor quer se insinuar como possibilidade em nossas vidas. 

Considerando a falta de vocação nacional, pelo menos até o momento, para a revolução, e também isso parece estranho, mas, enfim, Che Guevara estampado apenas na camisa, é tempo de aprofundar laços – na contramão da evidente tendência líquida. Também é hora de estudar, pra evitar ações superficiais e frágeis, bem como construir cabanas acolhedores que nos protejam um pouco ‘disso tudo que está aí’, aqui e no mundo, porque o desenho é transnacional, inclusive. 

Assim, comecemos observando nosso próprio corpo – que já habitou um útero confortável e hoje é nossa verdadeira casa nesse mundo – e cuidemos de inspirar e expirar direito e de nos alimentar de modo prático e simbólico de tudo o que possa nos trazer força e esperança porque setembro entrou, mas a primavera ainda demora um bocado.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

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