Quando a violência é a linguagem e estratégia de um grupo, a resposta não pode ser o diálogo.

 

A professora Liana Lewis contou, em suas redes sociais, que foi impedida de falar sobre Jair Bolsonaro em palestra para a Polícia Militar de Pernambuco.

Leia seu relato na íntegra abaixo:

MEU ROMANTISMO PEDAGÓGICO E A VIOLÊNCIA INSTITUCIONAL

Esta semana meu romantismo pedagógico foi por água abaixo. Quem me conhece sabe que meu propósito não é o narcisismo acadêmico, mas a possibilidade de, através da academia, contribuir para pensar um mundo mais justo. Pois bem, fui convidada para discutir Direitos Humanos com a Polícia Militar de Pernambuco. Mesmo sabendo que os estudos afirmam reiteradamente ser a Polícia Militar uma instituição genocida, me propus a discutir a sociedade autoritária com eles. Fiz um traçado histórico e, ao chegar na atualidade, fazendo uma análise do neofascismo, e ao qualificar Bolsonaro como fascista, a platéia, tomada por uma emoção impressionante, me ordenou que calasse. Perguntei então se não poderia continuar falando. Tentei aqui fazê-los perceber o quão autoritários estavam sendo. Aos gritos afirmaram que não. O condutor da mesa me questionou de maneira bastante firme e afirmou que eu estava levando para o âmbito pessoal por citar nomes. O que ele e a platéia obviamente não compreenderam é que Bolsonaro, como figura pública, representa, para além de um indivíduo, o horror histórico e sociológico que estamos vivendo. 
Como profissional, nunca me senti tão desrespeitada. Compreendi na pele o ensinamento de Fanon: quando a violência é a linguagem e estratégia de um grupo, a resposta não pode ser o diálogo. 
Saí destroçada não apenas pela violência que sofri, mas por saber dos horrores que a juventude negra sofrerá ainda mais com o fascismo, e que, apesar da clara sensibilidade de alguns indivíduos, não existe pedagogia possível para esta instituição. 
Me aterrorizou, sobretudo, a ode feita a Bolsonaro por indivíduos em lugar de poder afirmando, ao final do evento, ser ele representante da democracia. 
Nossos espaços de pedagogia são outros. Com instituições genocidas, apenas a luta pode trazer algum resultado.

 

https://www.diariodocentrodomundo.com.br/professora-conta-que-foi-impedida-de-falar-de-bolsonaro-em-palestra-para-a-pm-de-pe/

 

Redação

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