Projeto mostra jornalismo sem credibilidade e função mediadora em xeque

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

Da Abraji

Projeto Jornalismo no Brasil aponta para 2019 com baixa de credibilidade e função mediadora em xeque

O jornalismo e sua função mediadora estão em xeque. Essa é a conclusão do projeto que aponta os rumos do jornalismo brasileiro para 2019, parceria realizada pela Abraji e pelo Farol Jornalismo pelo terceiro ano consecutivo. O especial O jornalismo no Brasil em 2019, que reúne dez artigos sobre temas como colaboração, diversidade e reencontro com a audiência, está disponível gratuitamente no Medium e pode ser acessado em jornalismonobrasilem2019.com.

Tal cenário, advindo da polarização que dominou os anos recentes da política nacional e em particular o período eleitoral de 2018, colocou em evidência atores políticos que apresentaram a “verdade” que mais lhes convinha, reforçando as crenças de seus seguidores. Tudo isso, na maior parte das vezes, prescindindo do jornalismo. Mas como fazer para que as pessoas continuem crendo no trabalho da imprensa e na sua importância para a democracia?

Essa é a pergunta a que os 10 autores convidados, ao projetarem o ano que se avizinha, acabam por tentar responder. Há muitos desafios a serem enfrentados, mas o futuro aponta para a colaboração, como se viu em iniciativas como o Projeto Comprova, coalizão de 24 veículos formada para verificar notícias sem autoria referente às eleições de 2018. No entanto, o editor do Comprova, Sérgio Lüdtke, diz que não basta apenas produzir conteúdo de qualidade: será preciso fiscalizar políticas públicas e ativistas digitais de maneira aberta e transparente. A pesquisadora Rosane Borges também aposta na transparência para o desafio imposto pela desintermediação.
 
Entre os artigos reunidos no estudo, está o da jornalista e pesquisadora Sílvia Lisboa, que afirma: não basta um veículo dizer que tem credibilidade; é preciso que a audiência perceba e aceite essa credibilidade. Esse novo contrato com a sociedade passa por um esforço maior de conhecer o público. Segundo a pesquisadora Cláudia Nonato, é necessário compreender o que espera parte da população brasileira que votou em Jair Bolsonaro.

Já a jornalista e pesquisadora Taís Seibt sugere a adoção de formatos que conversem melhor com os ambientes nos quais o brasileiro costuma se informar, o que inclui as redes sociais e o WhatsApp. A diversidade é outro caminho apontado para o jornalismo no Brasil no próximo ano, como forma de garantir a pluralidade na cobertura. O pesquisador Gean Gonçalves sinaliza a possibilidade de as redações adotarem editores de gênero, seguindo o exemplo de El País e New York Times. 

O jornalismo local e o praticado na região amazônica também foram temas abordados pelo projeto. Sérgio Spagnuolo, editor do Volt Data Lab e coordenador do projeto Atlas da Notícia, que mapeou os desertos de notícias no Brasil em 2018, escreveu que, em todo o país, o jornalismo local sofre com modelos de negócio quebrados que inviabilizam a inovação. Já a jornalista Elaíze Farias chama a atenção para as dificuldades de fazer uma cobertura na região norte que deixe de lado estereótipos e abrace a complexidade local.

Segundo Patrícia Gomes, diretora de produtos no JOTA, olhar para os dados gerados pelos usuários e adaptar os produtos jornalísticos ao comportamento de quem os consome pode ser uma das saídas para restabelecer a relação de confiança. Já Guilherme Amado, repórter de O Globo e da Época, aponta para um reencontro do jornalismo com seu público como forma de devolver-lhe a credibilidade.

Seja como for, o jornalismo deve encontrar caminhos para lidar com as novas dinâmicas que influenciam tanto o modelo de negócios, como o relacionamento com os diversos públicos que consomem notícias.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Direito ao contraditório
    Dar o mesmo espaço e destaque ao contraditório de cada reportagem publicada

    Só publicar denúncias com provas suficientes para abertura de processos judiciais. Meros indicios, vazamentos seletivos, fofocas nunca devem ser publicadas

    Os melhores jornais são independentes de viés. El pais, The intercept, mesmo a Al jazera merecem mais credibilidade que Veja, Estadão, Globo e Falha de São Paulo

  2. A grande imprensa brasileira

    A grande imprensa brasileira perdeu a exclusividade dos fakenews. Agora chora e se pergunta, o que fazer? Esse poder é fundamental para seu modus operandi que é a chantagem sobre os governantes, ainda mais quando estes não são da “tchurma”.

    Com certeza eles utilizarão o que ainda detem desse poder para medir forças com essa dita nova direita que não precisa do pig. Pelo menos não precisou para se eleger. Muito embora a conexão direta do Moro lavajato com a Globo, foi muito importante, vide delação do Palloci. 

    Alias Moro é um foco das grandes contradições que virão. Sem Globo/lavajato para levar o antipetismo a uma categoria de “programa de governo” em si, Bozo não se elegeria. Lula emplacaria mais um poste. 

    Mas e agora? Claro que Globo/Folha e governo Bozo podem se acertar. No fundo tem tudo para. Querem o mesmo, que é varrer a esquerda, concentrar renda e estabelecer o aparteid social de uma vez por todas.

    Só que não podem fazer as claras, nem podem ser flagrados atrás da moita, como a Dodge e o Temer. Se o pig fazer vista grossa para a corrupção primária da família Bozo, perde o pouco de credibilidade que ainda tem com a velhinha de Taubaté. E se o governo Bozo compor com a Globo, esse antro de pervetidos homosexuais, vai ter sérios problemas com bolsominions de primeira hora, os mais “orgânicos”.

    Esse dificil arranjo é o grande nó, que em não se desatando, poderá ajudar a oposição a ganhar espaço, para além dos 45% que mostrou ter, entre os eleitores.

  3. Se vocês acham que é só no Brasil, assistam o vídeo, em francês!

    Este vídeo é um pouco antigo, é de 2015 e o título é: Midia: Por que 10 multimilhionários controlam nossa informação? (MÉDIAS : POURQUOI 10 MILLIARDAIRES CONTRÔLENT NOTRE INFORMATION ?)

    É altamente ilustrativo, não sei como colocar legendas, mas vou tentar depois do natal.

    [video:https://youtu.be/41lAe0mgjjU align:center]

    Para quem não sabe francês, algo que está ficando raro no Brasil, pode utilizar o tradutor do própio YouTube, a tradução é boa em 95% ou mais das palavras e 99% das frases, logo dá para compreender bem o assunto.

    O canal é de um jovem frances um dos maiores Yotubers de informação política francesa. Osons Clauser

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador