Não é com a “cara do PSDB” que o candidato tucano a presidente, José Serra, vai se apresentar na entrevista desta noite ao Jornal Nacional da TV Globo e no programa eleitoral gratuito, na semana que vem. Serra quer que o PSDB tenha a cara dele na disputa presidencial – e não o contrário. Em reuniões com a coordenação da campanha, Serra e seus conselheiros avaliaram que, no embate com o PT, a acusação de representar um partido que defende menor presença do Estado na economia não é o que mais pesa. O problema maior é a imagem supostamente elitista do partido que, na avaliação dos tucanos, não bate com o discurso nem com o perfil do candidato. Diante disso, a ordem é reforçar a linguagem e a imagem de candidato distante da figura elitista. Seja no programa eleitoral ou na campanha de rua, o certo é que Serra vai bater bumbo naquilo que considera suas melhores marcas: os medicamentos genéricos, o seguro-desemprego, o perfil antifinancista, a defesa contundente da educação e da saúde públicas de qualidade e de empresas estatais postas a serviço da sociedade, e não de partidos políticos que se aboletam nos cargos os seus aliados. Os tucanos entendem que Serra é “uma marca popular muito forte”, forjada ao longo da própria trajetória política e administrativa dele, e querem reforçar isto no horário eleitoral. Os estrategistas da campanha trabalham para descolar o candidato dos pontos negativos que pesariam sobre a imagem do PSDB e, assim, fazer valer as marcas pessoais do próprio Serra.
Os tucanos acreditam que os adversários estão patrocinando uma ofensiva para convencer o eleitorado das camadas mais carentes de que, assim como o presidente Lula, Dilma Rousseff é a candidata do povo e Serra, da elite. Temem a estratégia porque acham que ela pode chegar às ruas com facilidade. É precisamente por isso que o tucanato considera a acusação de governar para os ricos como “a mais grave entre todas as marcas distorcidas” que pesam negativamente sobre a imagem do PSDB. Bem pior e mais nociva do ponto de vista eleitoral do que a pecha de “neoliberal”, “conservador” ou “privatista”.
Comparações. As comparações entre a gestão Lula e o governo Fernando Henrique não preocupam. Dizer que o PSDB não sabe governar e que foi privatista não é considerado problema porque suscita um debate que não “encontra eco” na rua. É a discussão elite versus povo que alarma os tucanos porque tem potencial para gerar desconfiança no eleitorado mais pobre, que depende dos programa sociais do governo Lula e teme um sucessor que “governe para os ricos”.
É por isso que Serra insiste no discurso de não dividir o Brasil entre ricos e pobres e em enfatizar os programas que fez em benefício dos mais carentes, tanto no governo como no Congresso. Os tucanos acreditam que os projetos que Serra apresentou quando foi deputado ou senador – como participação na criação do FAT – são importantes porque desmontam a imagem do constituinte competente que só trabalhou por São Paulo. Os partidários de Serra não se assustam quando o PSDB é apontado como partido ligado aos bancos, que usou dinheiro do contribuinte para socorrer banqueiros, fazendo o Proer. Dizem que os banqueiros não “morrem de amor pelo Serra, ao contrário”, e que, do ponto de vista da elite, o deputado Antonio Palocci (PT-SP), que coordena a campanha petista, representa mais esse segmento do que Serra.
Um dirigente tucano admite que vários integrantes da cúpula partidária, como o senador Tasso Jereissati (CE), o ex-deputado Márcio Fortes (RJ), e o ex-secretário municipal Andrea Matarazzo têm a cara do PSDB e são da elite, mas insiste que “Serra não é”. E provoca: “Quem é popular no PT é o presidente Lula. O Aloizio Mercadante, a Marta Suplicy e o Eduardo Suplicy são a pura elite paulista”
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