Qual a missão do novo regime? Purificar o Brasil mediante a destruição do PT?

Decidi republicar este artigo em razão do massacre de sem-terras que ocorreu em Mato Grosso em 20 de abril de 2017. A violência real que está ocorrendo foi precedida da incomensurável violencia simbólica diariamente disseminada contra o MST pela imprensa com a tolerancia da Polícia Federal, da Justiça Federal há quase uma década. A mesma PF que persegue internautas por causa de Twitters irrelevantes considerados perigosos foi incapaz de prevenir a violência real planejada e executada pelos ruralistas apoiados pelo usurpador Michel Temer e seu Ministro da Justiça.

Há 4 meses aqui mesmo no GGN fiz algumas observações sobre a inversão de valores operada pelo golpe de estado http://horia.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/a-logica-e-o-universo-paralelo-criado-pela-imprensa-no-brasil-por-fabio-de-o-ribeiro. Volto ao tema porque o fenômeno está se aprofundando.

Numa das passagens mais brilhantes de seu livro Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt afirma que o:

“…problema com Eichmann era exatamente que muitos eram como ele, e muitos não eram nem pervertidos, nem sádicos, mas eram e ainda são terrível e assustadoramente normais. Do ponto de vista de nossas instituições e de nossos padrões morais de julgamento, essa normalidade era muito mais apavorante do que todas as atrocidades juntas, pois implicava que – como foi dito insistentemente em Nuremberg  pelos acusados e seus advogados – esse era um tipo de criminoso, efetivamente hostis generis humani, que comete seus crimes em circunstâncias que tornam praticamente impossível para ele saber ou sentir que está agindo de modo errado.” (EICHMANN EM JERUSALÉM, Hannah Arendt, Companhia das Letras, 8ª reimpressão, 2008, p. 299)

Este fenômeno já ocorreu no Brasil e a prova disto foi dada pelo depoimento de um ex-agente da Ditadura à Comissão da Verdade https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/o-depoimento-de-paulo-malhaes-prova-que-nossa-democracia-esta-doente-o-que-faremos. Um novo colapso da legalidade vem ocorrendo no Brasil nos últimos anos e foi sendo metodicamente registrado e discutido no próprio GGN.

A condenação de José Dirceu porque não provou sua inocência, os linchamentos instigados ou legitimados por jornalistas que defendem a ‘legítima defesa coletiva’, o crescimento vertiginoso da letalidade policial, a impunidade de políticos do PMDB e do PSDB que cometeram crimes noticiados por seus comparsas às autoridades do Ministério Público, o Impedimento de Dilma Rousseff iniciado sem justa causa por um bandido que deveria ter sido afastado da presidência da Câmara dos Deputados, os vazamentos seletivos da operação Lava Jato, a denúncia de Lula com base em convicções, o grampo ilegal da Presidenta da República que não resultou em punição para Sérgio Moro, a prisão de Palocci porque não existem provas de que ele cometeu crimes e a anulação da condenação de PMs que participaram do massacre do Carandiru porque eles agiram em legítima defesa, Gilmar Mendes usando a TV para, com se fosse um novo Savanarola, proteger suspeitos tucanos, atacar petistas inocentes e deslegitimar a Lei da Ficha Limpa… Estes são apenas alguns exemplos de como o sistema jurídico brasileiro foi sendo minado, corrompido, sabotado e subvertido até ficar totalmente descaracterizado.

Nos últimos dias, ao comentar a decisão do TJSP no caso do Carandiru, vários juristas asseguraram que o conceito de “massacre policial praticado em legítima defesa” não existe no Código Penal brasileiro. Destarte, não posso deixar de notar que ele parece ter sido derivado do conceito de “legítima defesa coletiva”, argumento que foi popularizado por uma jornalista para justificar linchamentos. Este, por sua vez, certamente encontra sua validação na idéia de “guerra justa”.

Os fatos demonstram que a imprensa, o MPF, a PF e parte do judiciário já consideram justa a guerra contra o PT. O extermínio de petistas, portanto, não poderá ser considerado injusto pelos que se consideram eleitos por Deus para purificar o Brasil..

O nascimento desta tragédia ocorreu exatamente no momento em que o Direito começou a falecer. Não por acaso, o Direito preconiza o fim da “guerra justa”, substituindo-a pelas regras gerais e abstratas que foram pacificamente negociadas e que deveriam se impor de maneira indistinta a todos através da ação diligente e serena dos agentes públicos encarregados de lhes dar cumprimento (policiais, procuradores e juízes).  Portanto, a purificação genocida desejada pela Intentona Midiárica-Gilmariana não se fará através do Direito e sim mediante sua destruição.

Um simulacro da Lei já tomou o lugar da própria Lei https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/%E2%80%9Caos-bandidos-tudo-aos-inimigos-o-simulacro-da-lei%E2%80%9D-por-fabio-de-oliveira-ribeiro, autorizando-nos a comparar um juiz justiceiro a um justiceiro criminoso que se tornou famoso durante a Ditadura https://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/vidas-paralelas-sergio-moro-e-cabo-bruno.

O ódio partidário já condiciona a atividade do Ministério Público (os procuradores da Lava Jato não aceitam delações contra o PMDB e o PSDB) e motiva decisões judiciais (a inexplicável demora do STF para julgar o pedido de afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara dos Deputados dando a ele condições de iniciar e conduzir um processo de Impedimento fraudulento).

Chegamos ao fundo do poço? Ainda não. No limite, com ajuda da imprensa pró Michel Temer e anti-petista, os procuradores e juízes brasileiros irão ignorar ou legitimar um verdadeiro genocídio.

Há 7 anos denunciei no Observatório da Imprensa o desejo mais ou menos evidene do Jornal Nacional e de Gilmar Mendes de purificar o Brasil mediante a destruição do MST http://observatoriodaimprensa.com.br/jornal-de-debates/o-mst-e-o-jornalismo-homicida/. A queda de Dilma Rousseff parece não ter reduzido a sede de sangue dos protagonistas da destruição do Estado de Direito. Tanto isto é verdade que o JN e Gilmar Mendes (atual presidente do TSE) já começaram a construir um cenário em que será plausível, admissível e até desejável a purificação do país mediante a destruição do PT.

É evidente que esta nova Intentona Midiática-Gilmariana, que destruirá os resquícios remanescentes da normalidade democrática produzindo um curto-circuito entre o presente e o passado (provocando o renascimento da Ditadura Militar), obrigará os petistas a se organizarem ainda mais para defender suas vidas e seu partido. E a julgar pelas iniciativas do governo ilegítimo (recriação do SNI, infiltração de agentes secretos das Forças Armadas nas redes sociais, emprego abusivo da Lei Anti-Terrorismo, acordos militares com países que aderiram ao neo-fascismo latino-americano) o Estado brasileiro se prepara para exterminar qualquer resistência à destruição do PT.

Não existe Estado terrorista sem jurisprudência do terror. Nesse sentido, a nova jurisprudência do TJSP sobre “massacres policiais praticados em legítima defesa”  não deixará de ser útil aos desígnios daqueles que pretendem colocar em prática planos genocidas que vem sendo metodicamente ruminados desde que Lula ganhou sua primeira eleição presidencial.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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