Aquiles Rique Reis
Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.
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Quando o passado chega ao futuro, por Aquiles Rique Reis

Quando o passado chega ao futuro

por Aquiles Rique Reis

O som bem formado indica que a audição será supimpa, pois entre piano, baixo e batera nada é espandongado. Tudo o que soa ali é música instrumental de forma concisa. Lá se vão décadas em que os trios lotavam pequenos palcos que os abrigava para atrair clientes para beber e… conversar.

Quando os três tocavam na madruga, não raro frequentadores mais afoitos tentavam bater no prato da batera, tocar o “bife” no piano ou mexer no amplificador do baixo – não necessariamente nessa ordem. No que eram impedidos, nem sempre de maneira amiga, pelos músicos que defendiam seus instrumentos e o leite das crianças.

Anos depois, graças ao destaque que a formação de piano, baixo e batera ganhou nas TVs, os trios faziam bastante sucesso – foi, inclusive, quando surgiram muitos deles.

Mas tanto ontem, como ainda hoje, há clientes de todo tipo. Por exemplo, os inconvenientes – carma dos instrumentistas que varam as madrugadas tocando para eles mesmos curtirem entre si, posto que os tais fregueses não fazem a menor questão de ouvi-los. E há também os bem-vindos, assíduos frequentadores que os músicos já conhecem e que gostam de ter na plateia, dado o encantamento sincero que demonstram ao ouvir atentamente e aplaudir efusivamente os solos.

Tudo isso para dizer da sensação, meio nostálgica, é verdade, de ouvir um CD com oito faixas gravadas ao vivo por um trio formado pelo pianista Marcos Nimrichter, pelo baterista Renato “Massa” Calmon e pelo contrabaixista Jefferson Lescowicher. Além deles, o saxofonista Marcelo Martins e o guitarrista Paulinho Guitarra tiveram participações especiais na gravação.

Marcos Nimrichter Trio – Ao vivo no Teatro Municipal (independente) é o título do álbum. Nele, o trio e seus convidados tocam como se fosse a última coisa que fariam na vida. É de arrepiar quando improvisam, assim como é de aplaudir de pé quando tocam juntos.

(Eu bem sei que mixagem é questão de gosto. Apesar disso, arrisco dizer que o som do contrabaixo poderia estar mais presente. Penso que, assim, o que já está bom poderia ter ficado ainda melhor).

A tampa abre com “Raindrops Keep Falling On My Head” (Burt Bacharach e Hal David) e, de cara, ouve-se o som que, ao longo da audição, se mostrará como uma marca da personalidade do trio, evidenciando o bom-gosto da rapaziada.

“Sabiá” (Tom Jobim e Chico Buarque) tem Nimrichter como crooner… e não é que o cara se sai bem, rapaz!

“Amalgamation” (Moacir Santos) é quando a guitarra toca em sintonia com o piano. Supimpa!

Após alguns compassos da intro com a batera, há uma mudança de levada que é de tirar o ouvinte da cadeira… “Tatoo Lost In Place” (Paulinho Guitarra), é, sem dúvida, uma das melhores faixas do disco.

Reouvir a concepção musical de um trio de piano, baixo e batera deixou-me satisfeito e me trouxe o passado de volta. Passado que hoje me vem como um novo amanhecer musical.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

PS. O CD do Marcos Nimrichter Trio está disponível em todas as plataformas digitais.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
 

 

Aquiles Rique Reis

Músico, integrante do grupo MPB4, dublador e crítico de música.

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