Que fazer quando o criminoso genocida é judeu?

Bibi Netanyahu tem sido o mais infame dos governantes israelenses. Mas agora ele excedeu todos os limites da má fé ao culpar os palestinos pelo holocausto nazista.

A versão divulgada por Netanyahu (de que os nazistas alemães não queriam exterminar judeus e fizeram isto a pedido de autoridades palestinas) é uma falsificação histórica grotesca e perigosa. Nenhuma autoridade palestina estava presente na reunião que decidiu a solução final. Não bastasse isto, pelo menos dois nazistas presentes na Conferência de Wannsee https://pt.wikipedia.org/wiki/Confer%C3%AAncia_de_Wannsee tinham  antepassados judeus. Refiro-me a Adolf Eichmann e a Reinhard Heydrich.

O protagonismo palestino no holocausto da II Guerra Muncial é um fato novo. Uma invenção convenientemente divulgada por Bibi Netanyahu para que Israel possa seguir oprimindo populações consideradas indesejadas pela extrema direita israelense. Além de legitimar as graves violações dos direitos humanos dos palestinos que são diariamente cometidas por civis israelenses e por agentes do Estado Israelense, a criminalização histórica preventiva das vítimas tende a justificar a impunidade dos seus carrascos.

Hannah Arendt estudou profundamente os documentos do holocausto e não fez qualquer referência ao protagonismo palestino no mesmo. De fato ela acusou os próprios judeus de terem colaborado com o extermínio do seu povo. Segundo a eminente pensadora judia que sobreviveu à matança porque fugiu da Alemanha nazista:

“A máquina de extermínio havia sido planejada e aperfeiçoada em todos os detalhes muito antes do horror da guerra atingir a própria Alemanha, e sua intrincada burocracia funcionou com a mesma impassível precisão tanto nos anos de vitória fácil como naqueles de derrota previsível. No começo, quando as pessoas podiam ter ainda alguma consciência, quase não ocorreram deserções entre a elite governante e os comandantes superiores da SS; essas defecções se fizeram notar só quando ficou evidente que a Alemanha ia perder a guerra.” (Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt, Companhia da Letras, 8ª reimpressão, São Paulo, 2008, p. 132)

A participação ativa de judeus no processo de identificação, reunião e transporte das vítimas do holocausto para os campos de extermínio é uma verdade factual constatada por Hannah Arendt:

“Em Amsterdã assim como em Varsóvia, em Berlim como em Budapeste, os funcionários judeus mereciam toda confiança ao compilar as listas de pessoas e de suas propriedades, ao reter o dinheiro dos deportados para abater as despesas de sua deportação e extermínio, ao controlar os apartamentos vazios, ao suprir forças policiais para ajudar a prender os judeus e conduzi-los aos trens, e até, num último gesto, ao entregar os bens da comunidade judaica em ordem para o confisco final.” (Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt, Companhia da Letras, 8ª reimpressão, São Paulo, 2008, p. 134)

Um pouco mais adiante ela afirma que:

“Onde quer que vivessem  judeus, havia líderes judeus reconhecidos, e essa liderança, quase sem exceção, cooperou com os nazistas de uma forma ou de outra, por uma ou outra razão. A verdade integral era que, se o povo judeu estivesse desorganizado e sem líderes, teria havido caos e muita miséria, mas o número total de vítimas dificilmente teria ficado entre 4 milhões e 6 milhões de pessoas.” (Eichmann em Jerusalém, Hannah Arendt, Companhia da Letras, 8ª reimpressão, São Paulo, 2008, p. 141)

Em nenhum momento a judia Hannah Arendt, que manuseou documentos e estudou profundamente tudo o que ocorreu na Alemanha dos anos 1930/1940, refere-se a participação de palestinos na Conferência de Wannsee. No livro dela não há uma só referência a palestinos trabalhando na localização, reunião e transporte de judeus para os campos de concentração e morte. Mesmo assim, Bibi Netanyahu (um sionista comprometido com a brutalização dos palestinos) diz o oposto. Malícia ou ignorância? Foi exatamente o que perguntei ao tal pelo Twitter:

@netanyahu blame Palestinians for the Holocaust despite Adolf Eichmann and Reinhard Heydrich had Jewish ancestors. Ignorance or malice?

Obviamente não espero qualquer resposta. Quando uma falsificação histórica se torna verdade absoluta, a humanidade já foi expulsa totalmente da política e o debate racional não é mais uma categoria relevante. Em razão da nova tese defendida por Netanyahu não ficarei surpreso se o extermínio em massa dos palestinos for elevado, em Israel, à categoria de “política pública inevitável” assim como o extermínio de judeus foi considerado indispensável pelo III Reich.

A infâmia genocida não tem pátria e deixou de ser uma prerrogativa dos nazistas alemães. Os inimigos mortais dos judeus foram, enfim, elevados à categoria de “good guys” por um político israelense que se diz descendente de vítimas do holocausto. Mas no caso específico de Netanyahu o mais provável é que os antepassados dele tenham ajudado os nazistas. 

Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. Texto lamentável, foi

    Texto lamentável, foi criticar um péssimo discurso e fez ainda pior, muito pior.

    Primeiramente, são cometidos erros históricos ao afirmar que Eichmann tinha ancestrais judeus: uma alegação mentirosa, algo nunca documentado por historiador algum. O mesmo vale para Heydrich, em torno do qual havia rumores de uma ancestralidade judaica, que não procede. De qualquer jeito, nem se tivessem ancestrais judeus essa discussão faria sentido, já que não se identificavam como judeus e partilhavam de um antissemitismo virulento e descendiam sobretudo de alemães cristãos.

    Netanyahu errou ao culpar o líder palestino como o responsável por sugerir o extermínio de milhões de pessoas durante a Segunda Guerra. Embora fosse de fato um antissemita, a responsabilidade total pelo Holocausto é da Alemanha Nazista. Hitler sempre admitiu a intenção de exterminar os judeus.

    A publicação no Jornal GGN vai ainda além: acaba por minimizar o Holocausto ao inferir que os judeus, alvo da maior atrocidade da qual se tem notícia são em parte responsáveis por ela. É escancaradamente antissemita, pois culpa a vítima. Os judeus que colaboraram com nazistas concedendo informações o fizeram por medo e desespero, em um cenário de total desarranjo da comunidade judaica. Imagino qual seria a reação do site, de tendência progressista, se fosse sugerido que mulheres estupradas são as culpadas, e não os estupradores. Mas o Holocausto tudo bem, certo?

    E tudo fica ainda pior quando o autor sugere que Israel cometeria um genocídio na Palestina. Acho que é preciso estudar mais: se o país realmente tivesse a intenção de exterminar os palestinos, já teria feito isso há muito tempo. E é impossível falar em genocídio quando a população árabe no território não para de crescer. Será que os “genocidas” israelenses são tão incompetentes assim?

    Não se deve comparar ninguém com os nazistas, a menos que estejam propondo construir câmaras de gás. Um texto como esse não faz nada além de alimentar o ódio.

    1. Hannah Arendt afirma

      Hannah Arendt afirma que Eichmann e  Heydrich tinham antepassados judeus. Ela era judia e vivenciou o drama da perseguição dos judeus na Alemanha Nazista. Portanto, considero-a uma fonte razoavelmente fidedigna. Você não apresentou nenhuma prova do que disse. 

      Judeus ajudaram a relacionar, reunir e transportar judeus para os campos de morte. Isto é um fato histórico registrado por Hannah Arendt com base em documentos que ela teve acesso. Se quer culpar algum de anti-semitismo, meu caro sionista, culpe a grande escritora alemã que foi obrigada a fugir do III Reich porque era judia.

      Soldados israelenses tem matado crianças e mulheres palestinas desarmadas todos os dias. Aviões de Israel despejaram centenas de toneladas de bombas em Gaza (inclusive o infame fósforo branco), mutilando, queimando e matando milhares de civis inocentes. Você não viu e não vê isto ocorrer porque é cego ou porque já considera os palestinos sub-humanos passíveis de serem exterminados a sangue frio?

      Sim eu comparo os sionistas aos nazistas. Isto é a única coisa decente a ser feita neste momento. E se você não é capaz de fazer esta comparação há algo de desumano na sua perspectiva, pois ela legitima os crimes de guerra cometidos por Israel. 

       

      1. Sionistas podem ser

        Sionistas podem ser comparados com nazistas? Por acaso há câmaras de gás na Palestina? Os palestinos são mantidos em campos de concentração? O Holocausto foi um acontecimento ímpar na história. Nunca houve antes nem depois um processo de matança sistemática e industrial como a perpetrada pelos nazistas. De maneira alguma pode-se comparar um conflito em que, lamentavelmente, as mortes dos palestinos acabam sendo maiores, devido a respostas desproporcionais de Israel com o genocídio dos judeus. Afinal, continua um conflito, e os israelenses não são os únicos culpados por ele: existe um lado palestino que comete outras violações dos direitos humanos, representado por grupos extremistas como o Hamas.

        Uma conclusão simplista generalizar um país inteiro. Israel não é diferente de qualquer outro país. Acima de tudo, deve-se evitar generalizações, leituras binárias: há pessoas de todas as opiniões imagináveis no país. Assim como há brasileiros contra Dilma e americanos contra Obama, há muita oposição a Netanyahu. Não se pode, portanto, criminalizar uma população inteira. Compará-los ao nazismo muito menos, já que asserções do tipo apenas trivializam o Holocausto e ofendem a história do povo judeu.

        1. Ok. Já notei que você é a

          Ok. Já notei que você é a favor do extermínio dos civis palestinos a tiros de fuzil, mísseis, bombas de fragmentação e de fósforo branco, disparos de morteiros, tiros de canhões e de tanques de guerra, como tem ocorrido na última década com maior ou menor intensidade. O que quer que você diga doravante será considerado “coisa de nazisionista” e, portanto, descartado automaticamente. Você tem mais alguma coisa a acrescentar ou vai pessoalmente matar palestinos no Oriente Médio?

  2. O implícito no artigo.

    É uma no cravo,

    outra na ferradura

    e uma terceira na canela.

    Bem no ossinho da miséria!…

    Devemos acreditar, então, que, para você, o tal do holocausto judeu é fato, é?!…

    1. Sim, o holocausto dos judeus

      Sim, o holocausto dos judeus é fato histórico. Nunca neguei isto e não me parece que você possa provar que eu tenha dito algo diferente.

      Não faça insinuações, apresente provas do que disse, seu merda! 

      Dito isto, tenho algo mais a dizer: também considero verdade factual o genocídio dos palestinos promovido por Israel na última década. Você certamente negará este fato “bem no ossinho da sua miséria sionista”. Ha, ha, ha…

      Nenhuma novidade. Um criminoso sionista em potencial sempre se espelha no outro criminoso sionista assim como o chefe deles (Bibi Netanyahu) se espelha nos nazistas. 

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