Que país viramos...? - Jornal GGN

Que país viramos?
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A vida às vezes é estranha e trágica e traz momentos em que o ser se perde, como quem comete um “suicídio em vida”… Já fiz isso comigo algumas vezes, é uma das sensações mais estranhas da vida! Como estar num lugar que você no fundo não queria, e nem sabe explicar porque ali ficou aquele tempo, ou uma fala desastrosa, daquelas que você pede para a terra se abrir e te engolir….. O erro é inerente ao homem!… Como os paradoxos…. Cometerei um agora (paradoxo…)
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Ontem escrevi duramente contra Palocci e, vejam, não me arrependo!
Hoje, quero vê-lo sob uma ótica igualmente humana – como foi humana minha crítica, porque acredito nela….
Revendo trechos de seu inacreditável depoimento, (e lembrando que minha intuição me dizia que havia algo de “estranho ali”…).

Foi agora há pouco que tive um “insight” (que não afirmo ser verdadeiro, falo aqui de uma MERA INTUIÇÃO….) sobre o que era tão estranho naquela cena: é que “Palocci não estava sendo Palocci naquele momento” – ao mesmo tempo, em que as DUAS FARSAS que encenava, faziam dele um ser completo – na miséria de sua atitude, na miséria de “estar sendo ele mesmo, ao negar-se”…..
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Explico: Delcídio é um homem SEM AMBIGUIDADES nesse aspecto. Preso, a impressão que deixou é que já chegou em Curitiba “oferecido”, “fácil….” – tipo: “não quero ficar aqui nem um minuto além do necessário…. tô topando qualquer parada…. o que que vocês querem que eu diga?” – nunca houve um acordo tão rápido, nunca um preso ficou tão pouco tempo nas masmorras de Moro! Delcídio é um “cara sem crise” – não há culpa ali…. Vejo o mesmo em Aécio, Serra, FHC, em Palocci, HOJE, tive dúvidas….. (sem absolvê-lo, não é essa a intenção de minha reflexão – é aprender sobre a vida, sobre nossa humanidade precária e conflitante….)
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Palocci está preso há mais de um ano….. Evidente que negociou várias delações, todas rejeitadas….. Isso exaure qualquer um!… Mas ontem, toda sua expressão corporal não revelava um cansaço sequer, uma dúvida, uma insegurança!…
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O que eu vi em sua voz, seu olhar, seu corpo, e acima de tudo suas falas, foram duas coisas: rendição, a primeira. E uma farsa absoluta na segunda, uma CARICATURA, uma coisa ridícula e pungente ao mesmo tempo, algo como se tivesse se entregado ao seguinte pensamento: “Chega!… Não aguento mais isso… vou falar o que sei e o que não sei, vou falar do Caixa 2, que todos já sabem, e falar tudo o mais que eles querem ouvir, se é pra bancar a “puta”, vou ser puta inteira, de corpo e alma, vou chafurdar até o pescoço nessa merda, nessa vergonha, nessa fraqueza minha, nessa traição…..”
Foi isso o que vi…..
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Um homem fraturado na sua ação inteiramente sórdida, um homem que só poderia “delatar” assim, nunca “mais ou menos” (ele não suportaria…), tinha que ser num gesto “selvagem”, como quem SE ATIRA NUM ABISMO – que foi exatamente o que ele fez: atirou-se no abismo da fraqueza, da vilania, da traição, da covardia, do desejo de salvar a própria pele – e tornando possível o ato, ao torná-lo caricato – e torná-lo caricato significava fazer o que fez: torná-lo o mais abjeto possível.
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Apenas atirando-se no abismo, apenas mergulhando no esgoto que lhe fora oferecido até o pescoço, ele poderia suportar sua própria vergonha, culpa e humilhação.
Como uma mulher, que por qualquer neurose ou necessidade tivesse que se entregar a um carrasco, e para não enlouquecer, decidisse dar-se toda, inteira…. Como se essa atitude radical – a humilhação completa – fosse menos vergonhosa que o “entregar-se com pudores…” – Eis a motivação fraturada de Palocci – esse “entregar-se sem pudores” – como uma inócua e desesperada tábua de salvação.
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Termino meu “delírio”, com uma certeza absoluta:
Uma “Justiça” que queira “fazer o bem” prendendo, torturando, chantageando seres humanos com o SADISMO demonstrado pela turma da Lava Jato, é a mais vil, canalha e desumana das “Justiças”.
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Um dia, Moro, Janot, Polícia federal e cia., serão EXECRADOS e usados como exemplo do PIOR MOMENTO das nossas instituições….. Seus nomes serão pronunciados com DESPREZO…..
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Mas levará um tempo! Antes, teremos que nos transformar numa sociedade minimamente humana e civilizada….
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(eduardo ramos)