Por Paulo de Almeida Correia Jr., Geógrafo
Domingo passado, ao fazer a prova de um concurso para professores de uma instituição federal, deparei-me com uma situação interessante: um candidato, aparentando uns 50 anos, pediu para trocar a carteira. Ele era obeso e não cabia naquela carteira-cadeira minúscula em que estávamos. Uma fiscal constatou que ele guardava consigo um boné e alguns outros pertences, os quais deveriam então ser guardados à frente da sala de aula. Então, o referido candidato defeca a incrível frase, para todos ouvirem: “Tá vendo, vocês ficam votando no PT, aí dá nisso!”.
Perdi qualquer sentimento de solidariedade ao meu obeso colega: até agora não entendi a relação que um professor de Geografia fez com uma regra aplicada há anos em qualquer concurso público e o Partido dos Trabalhadores. Entendi menos ainda como um professor pode dizer uma incongruência desastrosa como essa.
Outro dia, no elevador do prédio onde moro, alguns moradores liam um aviso escrito por um empregado do condomínio. Diante de um erro de gramática, um dos moradores exclama, cheio de raiva e razão: “Isso é culpa do PT!!!”. Detalhe: o zelador do prédio, que é quem escreveu o cartaz, terminou o ginásio quando ainda nem existia PT!
E só por falar em educação, analisemos rapidamente os fatos: os Institutos Federais – antigos CEFET, que antes eram as gloriosas “Escolas Técnicas Federais” são instituições de ensino e pesquisa muito bem conceituadas em nosso país. Ensino de qualidade, que faz essas escolas aparecerem sempre nas cabeças das melhores classificações nos exames do ENEM. Aqui em São Paulo, o nosso IFSP é uma escola pública cujos alunos passam em vestibulares das melhores universidades, incluindo os próprios Institutos Federais. Nestes, os professores recebem salário equivalente a professores das universidades federais, pois há isonomia salarial entre essas instituições. Já nas ETEC e FATEC, multiplicadas à revelia por todo o Estado de São Paulo, como obras eleitoreiras tucanas, os professores recebem por hora-aula, que não chega nem a míseros 15 reais!!! É evidente a diferença entre as duas. Enquanto os concursos nas escolas federais são concorridíssimos, nas estaduais faltam professores, pois quem é louco de mudar de endereço para não ter garantia de salário? As escolas do Centro Paula Souza, de ensino técnico e superior-tecnológico, foram sucateadas pelos subsequentes e inconsequentes governos do PSDB no nosso Estado, perdendo toda sua referência de qualidade que tinham até a década de 1990. Talvez aqui em SP as pessoas não conheçam muito bem os Institutos Federais, pois são ofuscados pelas três estaduais – USP, UNESP Unicamp – mas em outros Estados, eles são devidamente valorizados.
Semana passada, em entrevista a blogueiros, o ex-presidente Lula – em cujo governo foram expandidos os Institutos Federais – afirmou que esperava que o Deputado André Vargas do PT convencesse a sociedade de que não tinha envolvimento com o doleiro Alberto Youssef, pois senão seria o PT quem iria “pagar o pato”. Mas é exatamente isso, Lula, o que o PT vem fazendo há anos: pagando o pato! Claro que isso já era uma tragédia anunciada: o PT foi o partido que primeiro elegeu uma mulher como prefeita, em São Paulo, ainda na década de 1980. Já o sindicalista operário Lula, político extremamente conhecido das disputas presidenciais, foi ganhar uma eleição para presidente somente nos anos 2000, quando já havia “amadurecimento”, tanto do PT quanto dos eleitores (mesmo tendo sido um dos deputados mais votados da história na década de 1980. Mas então cadê a tragédia anunciada? A tragédia foi ter de se coadunar com partido de tendência direitista, o PL (atual PR), para obter apoio de grande parte da “Bancada Evangélica”. Lula, marxista convicto, passou a frequentar igrejas e a falar em “Deus”. Lula virava o bunda-mole que anos mais tarde faria aliança com Maluf e gente até pior. É claro que, ganhando as eleições, o PT, até então oposição a tudo e a todos, teria de convencer a bancada opositora ao governo a votar a favor de seus projetos. E é aí que entrou o mensalão (forma mais fácil de convencimento conhecida até o momento…). Agora pode ser que a presidenta Dilma nunca mais seja eleita. Pode ser que nenhuma outra mulher seja eleita. Não só o PT pagou o pato, mas a esquerda, as pessoas de bem, as mulheres na política, o bom-senso, a democracia. Mas o bom foi que os nossos direitistas conseguiram achar o bode espiatório que banca essa patacoada toda!!! Amém!
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