Quem são eles?

Ao contrário da ciência que visa questionar e trazer explicações objetivas com relações de causa e efeito, a arte permite ao autor transmitir a percepção individual sobre determinada questão. Tanto melhor será a arte quanto melhor puder transmitir o que sentia o autor quando exprimia seus sentimentos através do trabalho. Talvez por isso, uma das melhores sínteses sobre o que se sente hoje em relação à política brasileira possa ser a lembrança do poema de Eduardo Alves da Costa [1]. Em uma passagem, após descrever a moléstia de seu jardim, a morte do seu cachorro e o roubo da própria luz, a imensa ousadia dos usurpadores chega ao ponto de tomar a voz do autor. Nesse momento, não havia mais o que fazer.

Provavelmente os picaretas da época em que o texto fora escrito, em 1968 fossem diferentes em um ou outro aspecto que os de hoje. Mesmo assim, ao ver tentarem aprovar medidas apontadas pela atual (e vai saber até quando…) equipe econômica a tal PEC do fim do mundo [2] a reforma da previdência [3] e a eventual reforma trabalhista [4], só consigo pensar que os “eles” não se contentam mais em maltratar as flores do jardim, matar o cachorro e roubar a luz. Agora resolveram jogar sal no terreno, instalar campos minados e disseminar o breu! Enquanto isso, tentam roubar as vozes dissidentes com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e a propagação mentirosa de que esse é o único caminho.

Mas quem são eles? Quem eles pensam que são ? [5] Acredito que as contradições do ambiente político atual estejam nos respondendo essas questões.

Primeiramente, uma elite perdulária que distribui rios de dinheiro em forma de propina como se fosse troco de bala enquanto se recusa a pagar impostos [6]. Do outro lado, um exército de mercenários prontos a correr da raia caso algo não saia do jeito que idealizaram em sua tentativa golpista de “estancar a sangria” [7]. O altíssimo grau de promiscuidade destes picaretas somente pode ser equiparado ao grau de desprezo que seus corrompedores lhes demonstram ao chamá-los por apelidos como “boca mole”, “Caju” ou “Gripado [8]. E para piorar, o único ideal que une “eles” com “aqueles outros” do judiciário é a disseminação da barbárie [9]. Em troca, é claro, salvar um pouco do que sobrar para si [10] [11].