Racismo, defeito de fábrica

 

Racismo, defeito de fábrica

 

Franklin Carvalho


Toda marca ruim é uma marca racista. Quer exemplos?

 

Veja o caso da Boticário. A Boticário é uma marca chinfrim de desodorantes que não protegem contra a transpiração, de perfumes de gosto duvidoso e de produtos ruins de todo. Ela cobra um preço mais caro do que os produtos de supermercado e farmácia, ao tempo em que tenta capilarizar sua rede em shoppings mais pobres, periferias e cidades do interior, para alcançar as camadas mais populares, mas aplica uma política de comunicação extremamente complicada. Na TV, nos outdoors, nas revistas, em toda a sua propaganda, só utiliza modelos brancos. O que se deduz daí? Que a Boticário tem vergonha de vender para negros.

 

Outro caso é o das cervejarias. A Skol, por exemplo, circula em carnavais, festas de largo, partidas de futebol e outro ambientes marcados pelo convívio de raças, tipos e classes sociais. Mas na propaganda da cerveja, o que se observa há muitos anos, é a presença exclusiva de homens – geralmente reproduzindo textos do machismo mais tacanha -, todos eles brancos. É um padrão que está também nas campanhas publicitárias da Nova Schin, sempre o mesmo grupo de amigos brancos e imbecilizados. A que conclusão devemos chegar? Só brancos devem beber cerveja.

 

Eu nem ousaria dizer que é um preconceito ou racismo contra os negros porque, segundo os mais famosos veículos de comunicação, não existe racismo no Brasil, ou melhor, os brancos é que são vítimas de racismo neste país. Conforme estes mesmos veículos, os brancos dominam tudo porque possuem méritos, e é injusto mexer em qualquer palha da estrutura social. Vamos concordar, então.

 

Devo entender, a partir daí, que a Boticário e a Skol querem prejudicar os brancos, isso sim, com suas propagandas ridículas. Como funciona? Essas marcas querem dizer, com a sua publicidade: “só os brancos são tão otários a ponto de usarem nossos produtos”. No caso das cervejas, é mais grave ainda: “só os brancos são alcoólatras e imbecis”. Veja, não sou eu que estou dizendo, é o comercial no intervalo do futebol.

 

O comercial no intervalo do futebol diz: grandes atletas em campo são negros, há negros destacados em vários esportes, além do que muitos torcedores são negros, mas eles não aparecem no material publicitário porque esse produto deve ser consumido por um público restrito. Já a Boticário orienta: Negros devem consumir produtos da Natura, marca que tem uma qualidade infinitamente superior, possui reconhecida responsabilidade social e veicula imagens de negros, brancos e até – o que acontece raramente no Brasil – índios em sua divulgação.

 

E a situação se repete abundantemente. Quanto mais amarrado de corda é o produto, mais dá-lhe agregar uma modelo pálida, uma estrela ofuscada de uma novela sem sucesso, uma celebridade de quinto escalão. Não é preciso ter carisma ou talento, é tudo uma questão de pele.

 

Entendo que seria o caso dos grandes veículos de comunicação, que combateram as cotas para negros nas universidades porque seria um racismo contra brancos, protestarem contra mais esse absurdo. Na verdade, essa luta é de todos, principalmente de quem acreditou nesse combate às cotas, defendida por políticos paladinos da ética. Quero ver marchas sendo convocadas pela televisão. E por falar em TV, devemos exigir também que as novelas deixem de usar somente atores brancos para fazer aqueles personagens doentios e estereotipados. Eles estão passando uma péssima impressão para as nossas crianças.

 

Franklin Carvalho é jornalista

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador