Rede de biotecnologia formará mil doutores no NE

A Rede Nordeste de Biotecnologia (Renorbio) completa seis anos neste mês de setembro com a audaciosa meta de constituir um Centro de Excelência Virtual em Biotecnologia que se torne referência mundial no futuro. Dentre as propostas do sistema, que envolve 31 instituições de ensino e pesquisa dos nove estados da região, mais o Espírito Santo, está a de promover a titulação de doutores nas quatro grandes áreas da biotecnologia: saúde, meio ambiente, indústria e agropecuária.

A primeira turma da pós-graduação da Renorbio ofereceu cem vagas, selecionadas em 2006. Hoje já são mais de 400 estudantes mantidos no curso, com duração de quatro anos. A expectativa é que sejam formados mil doutores pelo sistema nos próximos 10 anos.  Segundo a secretária Executiva da Coordenação de Programa de Pós-Graduação, Paula Lenz, dez das 90 teses produzidas pela primeira turma já foram defendidas – as demais deverão ser apresentadas até dezembro – e das dez defendidas, seis já saíram com patentes.

A biotecnologia é responsável por revoluções em todas as atividades humanas que envolvem a manipulação de organismos vivos, com pesquisas em níveis que vão de molecular a nanométrico (medida que equivale a 30 mil vezes o diâmetro de um fio de cabelo). Os estudos nessa área resultaram no desenvolvimento de centenas de medicamentos e diagnósticos, além de hormônios do crescimento, insulina, plantas resistentes e, mais recentemente, organismos transgênicos, plásticos biodegradáveis, biocombustíveis e métodos de biorremediação do meio ambiente – essa última atividade utiliza microorganismos capazes de metabolizar compostos tóxicos em áreas contaminadas.

A coordenação da rede é feita pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e, junto com as demais instituições, oferece infra-estrutura e corpo docente. Assim, o interessado pela pós-graduação deve escolher um dos professores da rede para orientar seu projeto e se inscrever no site da Renorbio. Tendo sua proposta de pesquisa aprovada, participa das aulas na instituição mais próxima de sua casa. Algumas disciplinas são realizadas por videoconferências para que estudantes de mais de um estado participem simultaneamente de seminários.

“O fato da rede ser virtual, faz com que ela esteja em todo o Nordeste. Ela foi idealizada durante o Fórum da Competitividade em Biotecnologia, em 2004. Naquele momento identificamos um aumento consistente no número de profissionais na área e, ao mesmo tempo, uma oportunidade de fazer a indústria de biotecnologia crescer no Nordeste”, completa Paula.

Fazem parte hoje da Renorbio, duas unidades da Fiocruz, cinco unidades da Embrapa e mais de 20 universidades públicas, estaduais e particulares do Nordeste e do Espírito Santo, além da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária (IPA) e do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

Fomento ao Conhecimento

Tecia Vieira Carvalho, é autora de uma das teses de doutorado que resultaram em patentes. Seu trabalho consistiu num novo método para isolar substâncias químicas de valor para o mercado farmacêutico da cabeça do camarão, descartada como lixo por produtores e comerciantes.

O diferencial do seu trabalho é a produção de insumos a partir de substâncias renováveis (no caso o camarão), e por processos sustentáveis. “A produção de quitina e quitosana no Brasil é via química, então utiliza-se ácidos e bases fortes que geram mais poluição para o meio”, explica.

A quitina é o segundo polímero mais presente na natureza, depois da celulose. Já quitosana, é utilizada em diversas áreas, como saúde, agronegócio, e em processos de biorremediação – como absorção de substâncias tóxicas em ambientes contaminados. Segundo Tecia, um quilograma de quitosana é vendido por até R$ 4 mil no mercado, e o quilograma da quitina, por até R$ 2 mil. A pesquisadora espera vender seus produtos a preços iniciais de R$ 120 para o quilograma da quitosana, e R$ 160 o quilograma da quitina.

Em relação à contribuição da Renorbio para realizar sua pesquisa, Tecia explica que é perceptível as diferenças entres as inúmeras instituições, umas com corpo docente e infra-estrutura mais desenvolvidas em relação às outras. Durante toda a formação, a pesquisadora disse não ter tido necessidade de cumprir aulas extras fora da Universidade Federal do Ceará, onde cursou, mas participou de videoconferências e recebeu ajuda de custo da Renorbio para participar de duas feiras internacionais de biotecnologia – uma em São Paulo e outra em Milão.

O curso não é custeado pelo estudante. O principal mantenedor financeiro da pós-graduação da rede é a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), através do Programa de Apoio à Pós-Graduação (Proap). “Os recursos da Capes não são suficientes para alimentar todo o programa, então recorremos ao apoio de fundos setoriais, basicamente Finep e CNPq”, completa Paula.

A manutenção da rede custa, anualmente, cerca de R$ 650 mil reais – entre questões acadêmico-administrativas, deslocamento de professores e alunos, materiais de consumo. Para o período 2009-2010, a Capes aprovou R$ 144 mil para a instituição, via Proap.

Já existem propostas em estudo para melhorar a gestão e arrecadação de recursos nos próximos anos, dentre elas a de firmar planos governamentais para manter uma verba fixa aos programas da rede, além de parcerias com bancos, principalmente o BNB (Banco do Nordeste) e empresas.

“Se o Banco do Nordeste nos desse, ao ano, apenas 5 centavos por nordestino, seríamos capazes de revolucionar a formação de doutores e pesquisadores na região”, afirma Paula. O IBGE estima que mais de 52 milhões de brasileiros vivem hoje no Nordeste. Logo, somariam R$ 2,6 milhões.

Os cursos de mestrados e doutorados cresceram 31,3% no Nordeste, entre 2007 e 2010, segundo avaliação da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. A instituição constatou que em todo o Brasil os cursos de pós graduação stricto sensu aumentaram 20,8%, nos últimos três anos.

Redação

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