Repercussão do Ataque a Paris: Mais Xenofobia, Menos Ajuda Humanitária

O ataque terrorista a Paris, nesta sexta feira 13, que deixou pelo menos 126 mortos e mais de 180 feridos, 80 dos quais em estado grave, assinala que alguns países ocidentais, como por exemplo, os EUA, a Rússia, a própria França e, possivelmente o Reino Unido e outros eventuais países que participam de uma colisão internacional que realiza ataques aéreos contra jihadistas no Iraque e na Síria, já enfrentam um inimigo que, de certa forma, eles próprios construíram historicamente.

O atentado foi publicamente assumido pelo Estado Islâmico, através em um comunicado na internet. Trata-se de um grupo de fanáticos, desprovido de razão, com atitudes inaceitáveis do ponto de vista moral e incompreensível do ponto de vista racional. Representa uma ameaça à paz mundial e já demostraram que não respeitam as regras da moralidade. Trata-se de um verdadeiro estado de guerra.

Segundo o comunicado de seus representantes, os ataques de Paris, e outros possíveis ataques futuros, seriam uma resposta aos “bombardeios contra os “muçulmanos” em terras do califado”, um termo geralmente utilizado para designar as regiões do Iraque e da Síria controladas por eles. “Que a França e aqueles que seguem seu caminho saibam que permanecerão entre os alvos”, acrescentou, entre outras declarações, a organização extremista.

É importante deixar claro, que o Estado Islâmico e outros grupos radicais não representam o Islamismo na sua essência. O Islam é uma religião do bem, o seu livro sagrado é o Alcorão que consiste na coletânea das revelações divinas recebidas pelo Profeta Maomé entre os anos 610 e 632. Seus principais ensinamentos são a consciência da onipotência de Deus e a consequente necessidade da prática da bondade, generosidade, sinceridade para com Deus e justiça nas relações entre os seres humanos.

Esse atentado em Paris poderá potencializar de forma drástica a Islamofobia e a Xenofobia, vitimando principalmente os milhares de refugiados no continente europeu e outros países do ocidente. O conflito na Síria continua sendo o maior motivador dessa onda migratória. Mas a violência constante no Afeganistão e na Eritréia, assim como a pobreza no Kosovo também têm levado pessoas dessas regiões a procurar asilo em outros países.

Para evitar ou amenizar essa possível onda de Xenofobia, as pobres vítimas do Estado Islâmico – os refugiados, os quais são, paradoxalmente, eles mesmos muçulmanos em sua maioria, serão necessários algumas ações dos líderes políticos da União Européia e dos EUA e de outros países. É preciso muita sensibilidade a favor das causas humanitárias para proteger a comunidade refugiada e evitar um caos maior.

A raízes dos problemas do Oriente Médio remontam à invasão do Iraque pelos EUA, em 2003, quando o presidente Geoger W. Bush declarou sua “guerra ao terror”. Derrubar Saddam Hussein, não foi uma missão difícil, mas na realidade o que decorreu disso foi o surgimento do autoproclamado Estado Islâmico – um grupo extremamente belicoso, que planeja estabelecer um império global sob a liderança de Abu Bakr al-Baghdadi.

No entanto, a raiz do problema no Iraque é muito mais antiga, remonta a 1916, quando a própria França, juntamente com o Reino Unido, determinaram sozinhos as fronteiras do Iraque, Síria, Jordânia, Líbano e Palestina – territórios artificiais, onde conviveriam diferentes etnias, religiões e tribos. No caso do Iraque, o território abriga as tensões sociais entre uma maioria xiita no Sudeste, uma minoria sunita no centro e uma minoria curda no Nordeste.

Na resistência contra a invasão americana, destacou-se um grupo: a “Al-Qaeda no Iraque”, apoiado por antigos oficiais, soldados de Saddam. Em 2006, reuniu-se com outros grupos e juntos proclamaram seu “Estado Islâmico” (ISIS, na sigla em inglês). Quatro anos mais tarde, Abu Bakr assumiria a liderança do grupo. Após a retirada das tropas americanas do Iraque, o primeiro-ministro iraquiano, o xiita Nouri al-Maliki, iniciou uma série de ataques e perseguição aos sunitas. Assim, como resposta a essa perseguição, os sunitas no Iraque tiveram que passar a apoiar Abu Bakr.

Neste momento difícil, de insegurança e medo, marcada pela tragédia em Paris, que a razão e a tolerância sejam os instrumentos para evitar as injustiças. Os refugiados são as maiores vítimas desse grupo extremista e necessitam de ajuda humanitária.  Além disso, à luz da razão e das verdades que só podem ser adquiridas pelo conhecimento, é necessário desvincular o Islam do extremismo e analisar o fenômeno do terrorismo de forma racional e crítica.

 

Luiz Claudio Tonchis é Educador e Gestor Escolar, trabalha na Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, é bacharel e licenciado em Filosofia, com pós-graduação em Ética pela UNESP e em Gestão Escolar pela UNIARARAS. Atualmente é acadêmico em Pós-Graduação (MBA) pela Universidade Federal Fluminense. Escreve regularmente para blogs, jornais e revistas, contribuindo com artigos em que discute questões ligadas à Política, Educação e Filosofia.

Contato: [email protected]

            

Redação

2 Comentários

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  1. A falta de conhecimento tende

    A falta de conhecimento tende a generalizar, confumdem Islã com terrorismo. Uma pena que em pleno século XXI, com as informações a toque de um dedo ainda persiste a inanição intelecutal. O que é pior que vemos muitas pessoas dizendo asneiras. Se não sabe, não fale. Esse é um princípio básico para evitar a republicação da burrice.

  2. Com terrorista não tem

    Com terrorista não tem diálogo, que a força Internacional reage com rigor. Deixaram eles ir longe demais. Qual o posicionamento da ONU? Cade? Ou agora ela só se limita a um trabalho de bem estar social globalizado para o consumo?

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