Réquiem para uma Democracia

Ecce Homo – Caravaggio

 

Estamos vivendo a concretização do golpe. O senado entregou a vítima à morte: “ecce homo”. Eis a democracia.

Agora, são os 180 dias que abalarão o Brasil (veja aqui). Pelo visto, estamos a vislumbrar uma “pausa democrática”, a morte da soberania popular. Em verdade, espera-se que não se siga a um desastroso “repouso eterno” do Estado Democrático de Direito.

Na emblemática missa de Réquiem de Mozart, o Dies Irae surge na sequência inicial. Em outro artigo, “O trabalho e os dias de ira no golpe”, restou exequível que a ira popular deve ser o fiel da balança em momento posterior à morte e aos cerimoniais fúnebres da Democracia, não devendo haver uma capitulação definitiva.

Ademais, pelo que se mostra no patético programa “Ponte para o Futuro”, mais uma vez a cartilha de “responsabilidade” do FMI está se impondo diante do confrangimento das instituições democráticas. Recorde-se e se reviva. A recordação do período liberalizante será concretizada, infelizmente, na vivência traumática do povo trabalhador, por exemplo, ao se propor que “as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais”.

Seguindo a obra de Mozart, aqui, os condenados serão os desventurados trabalhadores, mais uma vez. Dias de lágrimas virão. Não para o mercado. Não para os bancos (como tem sido, aliás). Não para as bolsas de valores. Não para os maiores contribuintes da Receita Federal, por sinal, muitos deles, sonegadores. Não para a elite que vai voltar a viajar com o dólar a altura de sua fome de consumir produtos supérfluos. Os prantos não serão daqueles importadores de mercadorias estrangeiras que fomentarão a queda da inflação, mesmo que à custa do vilipêndio do potencial desenvolvimento da indústria nacional e da política de conteúdo nacional. Haverá sacrifícios sim! Mas para os trabalhadores brasileiros.

Em que pese as cerimônias funestas desses últimos tempos, soará a trombeta poderosa. E esse som será entoado nas urnas. Aqueles que têm a “marca de golpistas na testa” permanecerão inertes e inermes à direita (como sempre estiveram) do panteão soberano do poder popular. O signo do golpe estará estampado na fronte dos Aloysios, dos Serras, dos Aécios, dos Anastasias, dos Agripinos, dos Jereissatis, dos Jucás e dos Cunhas. E o capitão do rompimento institucional (eufemismo barato!), Michel Temer, terá o sinal reluzente.

Em suma, e em tom menor, a opção pelos mais pobres e a política de valorização do salário mínimo, além de outras políticas públicas com viés progressista, restam combalidos com os festejos fúnebres que selam o quadro democrático atual.

Que assim não seja! A ver!

Redação

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