Responsabilização dos procuradores da Lava Jato não se esgota no CNMP, diz Fernando Hideo ao GGN

Jornal GGN – Doutor em Direito pela PUC-SP, com uma tese sobre processo penal de exceção orientada pelo jurista Pedro Serrano, o advogado criminalista Fernando Hideo disse ao GGN que os procuradores de Curitiba podem responder pelos “danos que causaram às pessoas perseguidas na fraude que foi a Lava Jato” não apenas na esfera administrativa, perante o Conselho Nacional do Ministério Público, mas também nas áreas cível e criminal.

“Acho que responsabilização desses procuradores não se esgota no Conselho Nacional do Ministério Público. A se comprovar todos os fatos que a Vaza Jato levantou, temos aí algumas caracterizações, ao menos em tese, de crime. Então os procuradores devem responder disciplinarmente no CNMP, mas não se limita a isso. Devem responder com o patrimônio deles pela perseguição às pessoas nessa fraude que foi a Lava Jato”, defendeu Hideo, em entrevista gravada na tarde de quarta (29). Assista ao final.

No CNMP, o procurador Deltan Dallagnol e outros membros da força-tarefa acumulam dezenas de reclamações por infrações disciplinares. No início de julho, o Conselho deveria ter julgado a ação mais antiga movida pela defesa de Lula, pelo uso de um powerpoint considerado difamatório, no âmbito do caso triplex. Mas a ação foi adiada mais uma vez – já entrou e saiu da pauta mais de 40 vezes. A única sanção que resta a ser aplicada depois de tanta protelação é a “improvável” exoneração de Dallagnol e colegas – pena que prescreve em setembro próximo.

Na visão de outros advogados ouvidos pela reportagem em caráter reservado, o represamento de julgamentos no CNMP beneficia os procuradores com a prescrição. Um fenômeno que expõe o “discurso oco” e a “falsa moral” dos procuradores de Curitiba, que acusam a advocacia de buscar justamente a prescrição dos chamados crimes de colarinho branco.

“HORA DE ABRIR A CAIXA PRETA DA LAVA JATO”

Na entrevista, Fernando Hideo também falou a respeito das acusações que o procurador-geral da República, Augusto Aras, trouxe à tona a respeito da Lava Jato em Curitiba. “Hoje, mais do que nunca, chegou a hora de abrir a caixa preta da Lava Jato”, disse.

“Esses agentes de Justiça fraudaram a lei com propósitos políticos” e “isso tem que ser passado a limpo”, com “duas medidas urgentes”: o reconhecimento da suspeição dos procuradores e do ex-juiz Sergio Moro, a partir do julgamento dos habeas corpus que estão no Supremo Tribunal Federal; e a responsabilização no CNMP ou para além do órgão correicional.

“Enquanto não tiver esses dois pilares – processos anulados e reconhecida a parcialidade, e as punições administrativas, disciplinares e quiçá criminais para os procuradores e Moro – a gente vai sempre conviver com esse fantasma autoritário”, concluiu Hideo.

Assista:

 

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Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

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  • Concordo mas mudaria o tempo do verbo. Deveriam responder. Mas, para que isso acontecesse, seria necessário que as leis, no Brasil fossem de fato PARA TODOS.

  • É lamentável a degradação da justiça brasileira. Parece que grandes tubarões de toga, que se espalham principalmente nos tribunais das instâncias superiores, acoberta os crimes da Lava Jato por terem rabo preso, participação e a covardia como obstáculos para que a justiça verdadeira seja aplicada como exige a lei. Ao que tudo indica, alguns deles desrespeitam a lei, a instituição e também se desrespeitam entre si para talvez esconder o lado imundo e reprovável do que fizeram e/ou ainda fazem. Envergonham a si, a seus familiares, seus amigos, a classe, a população e ao país. E assim continuará até a chegada do prêmio final e de praxe: a rica, gorda e confortável aposentadoria. Afinal, tá tudo dominado e garantido, desde o dia do descobrimento do Brasil, deles.

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