Rio precisa de desenvolvimento não de intervenção, avalia Lula

‘O Estado do Rio é a grande vítima da crise, porque indústria do petróleo e gás teve muito prejuízo, o Estado diminuiu muito a arrecadação e a polícia não recebe salário’
 
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(Foto Agência PT)
 
Jornal GGN – O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia com preocupação a intervenção federal (com uso das forças militares) na segurança pública do Rio de Janeiro, apontando que a estratégia do governo Temer carece de uma visão mais ampla de Estado. Sua “tese”, na verdade, é que o emedebista trocou a fracassada pauta da reforma da Previdência por um “espetáculo” de segurança pública a fim de apoiar uma possível candidatura nestas eleições. 
 
“Eu temo que essa intervenção no Rio de Janeiro seja uma coisa de pirotecnia, seja uma coisa de interesse, pura e simplesmente, política. Ou seja, o Temer sabe que quem tirou a reforma da Previdência da pauta não foi ele, nem foi a intervenção, foi a pesquisa Datafolha feita quase um mês atrás que mostrou que os deputados não iriam votar a reforma”, ponderou à jornalista Edilene Lopes, da rádio itatiaia. 
 
O ex-presidente lembrou que o Exército esteve durante um ano na favela da Maré, no Rio de Janeiro, mas depois que os militares deixaram o local os mesmos problemas de violência voltaram, completando que é preciso ter uma visão ampla de Estado para combater efetivamente os problemas da segurança pública:
 
“É preciso que a gente tenha a clareza que, mais ou menos, a violência está ligada a capacidade de desenvolvimento do estado e o estado do Rio está muito empobrecido. A grande vítima desse país da crise é o Rio de Janeiro, porque a indústria naval foi desmontada, porque a Petrobras teve um baque muito grande com a operação Lava Jato, porque a indústria de petróleo e gás teve muito prejuízo, porque o Estado diminuiu muito a arrecadação, porque a polícia não recebe salário, o servidor não recebe salário, porque o professor não recebe salários e porque tem milhões de desempregados”.
 
Lula cogitou também que a mesma falta de pensamento sistêmico pode ter ocorrido na implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), anunciada com grande alarde em novembro de 2008 pelo governo do estado do Rio mas que, em 2016, já era avaliada com um fracasso.  
 
“Ninguém nem explica porque que ela falhou, porque que ela não deu certo”, pontua o ex-presidente reforçando que o mesmo risco a intervenção federal com o uso de forças militares corre hoje. 
 
“Você tem que anunciar e apresentar um plano estratégico de enfrentar a segurança, porque a Marinha sabe que se quiser diminuir o contrabando de armas e o narcotráfico, tem que ter uma estrutura pra poder controlar 8 mil quilômetros de fronteira marítima! O Exército sabe que tem que ter uma estrutura para poder combater o narcotráfico em 16 mil quilômetros de fronteira seca! E aonde está a Polícia Federal? Está em Belo Horizonte? Está no Rio de Janeiro? Por que ela não está na nossa fronteira?”, questiona. 
 
Para Lula o uso das Forças Armadas é uma questão de soberania nacional que pode estar sendo desvirtuada no emprego para a segurança pública. 
 
“O Exército não é preparado para enfrentar o narcotráfico, o Exército não é preparado pra lidar com bandido em favela. O Exército é preparado para defender a soberania nacional contra possíveis inimigos externos”, lembrando, em seguida, o exemplo do México que usou tropas do Exército para combater o narcotráfico na fronteira com os Estados Unidos, desviando-se da finalidade para a qual as Forças Armadas foram criadas, e o resultado foi, além de não eliminar o tráfico, a corrupção de grupos de solados.
 
‘Temer quer eleitor de Bolsonaro’
 
Em vista de todos os fatores que pesam contra o ato de intervenção de Temer no Rio, ou seja, a falta de estratégia clara, de um plano de segurança montado e sem considerar que a crise de segurança pública é resultante da crise no desenvolvimento, Lula avalia que o objetivo central de Temer é se manter mais 4 anos no Planalto. 
 
“Acho que o Temer está encontrando um jeito de ser candidato a presidente da República. E acho que ele achou que a segurança pública pode ser uma coisa muito importante pra ele pegar um nicho de eleitores do Bolsonaro. Como é só previsão, é uma tese minha, vamos ver o que vai acontecer. Ou seja, um homem que só tem 3% de voto, sabe?” analisou. 
 
Segundo pesquisas do Datafolha, o deputado Jair Bolsonaro lidera em um eventual cenário sem Lula entre 18% e 20% das intenções de voto. Com Lula incluído na disputa, o petista levaria 37% dos votos contra 16% de Bolsonaro.  
 
“Daí eu acho que o Temer está fazendo uma aposta e a gente não pode [deixar de] levar em conta de que ele tirou da pauta uma coisa que a sociedade é contra [a reforma da Previdência] e colocou na pauta uma coisa que a sociedade é favorável, que é o combate à violência, à criminalidade”, pontuou o ex-presidente reforçando, entretanto, que a segurança pública é um tema extremamente importante e que atinge, justamente, a população mais pobre:
 
“Nós temos que discutir claramente [os problemas da segurança pública] para que a gente apresente à sociedade um plano definitivo”, refletiu o ex-presidente, ou seja, não uma ação de maquiagem com baixas chances de sucesso, segundo avaliação de especialistas da própria segurança pública.
 
 
 
 
Leia também: Qual é o recado de Temer ao escolher um general como interventor no Rio?
 
Redação

4 Comentários

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  1. Lula tem razão.
    Infelizmente

    Lula tem razão.

    Infelizmente a elite carioca pensa de maneira oposta.

    Ela prefere ver a miséria nos morros para desfrutar o prazer mórbido de se sentir rica num país pobre,

    A pobreza da elite carioca é incurável.

    Ou melhor, ela será curada quando o aquecimento global finalmente fizer o nível do mar se elevar alguns metros comprometendo totalmente os imóveis na orla marítima do Rio de Janeiro.

    Quando os brancos ricos se tornarem favelados haverá paz na cidade maravilhosa.

    Antes disso, porém… as balas perdidas continuarão achando corpos pobres onde se alojar. 

  2. Quem dera Lula não estivesse,

    Quem dera Lula não estivesse, tal qual Juscelino no passado, sendo impedido de ser candidato. Mas do que heroi ou falsos salvadores da patria, precisamos de homens e mulheres como Lula, pessoas que amem esse Pais e que não temam a luta nem sintam vergonha do povo brasileiro.

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