Rodrigo Maia é o grande avalista da futura ditadura bolsonarista

O cemitério das vocações frustradas do Rio tem Francisco Dornelles, Miro Teixeira, Eduardo Paes. E a decadência inexorável de uma antiga grande cidade.

Publicada originalmente em 24/08/2020

Na entrevista concedida ontem à TV GGN 20 horas, o cientista político Leonardo Avritzer foi certeiro: o maior problema à democracia brasileira é o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que se tornou um serviçal do mercado.

Some-se, agora, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, que, em palestra a uma instituição financeira colocou-se totalmente à disposição de suas teses, quando assumisse a presidência do órgão.

Com os desatinos de Bolsonaro e seu estilo conciliador, Rodrigo Maia poderia ter sido o grande condutor das instituições em direção ao regime democrático. Conspirou contra ele apenas um ponto fundamental: é herdeiro da pequenez que tomou conta da política fluminense-carioca que, em décadas passadas, era quase um farol do país.

Depois de Leonel Brizola, nenhum político resistiu à avassaladora mediocrização do Rio de Janeiro.

Rodrigo Maia é herdeiro direto de duas forças que se desintegraram no ambiente rarefeito da política do Rio: seu pai César Maia e seu sogro Wellington Moreira Franco.

Em tempos passados, César Maia foi uma das referências do pensamento desenvolvimentista brasileiro. Exilado, voltou, teve papel relevante como economista e deputado. Mantinha uma coluna referencial na Folha de S. Paulo e emergiu como uma força de renovação da política carioca.  Eleito prefeito do Rio de Janeiro, aderiu rapidamente ao padrão carioca de política.

O mesmo ocorreu com Moreira Franco que, em determinado momento, chegou a ser tratado como  herdeiro da tradição política no estado – era genro de Amaral Peixoto, por sua vez genro de Getúlio Vargas. O grande destino político de Moreira Franco, no entanto, foi comandar o gado do centrão  – ao lado de Cunha, Temer, Geddel e Padilha.

Esse é o ponto central da crise brasileira: a falta de estadistas não apenas na presidência, mas nos demais poderes. Rodrigo teve a oportunidade única de ser o coordenador da grande frente democrática, justamente por seu papel de moderador dos ímpetos de Bolsonaro. Tivesse um mínimo de grandeza política poderia até se habilitar até à presidência da República.

Entre reorganizar o país ou prestar serviços para o mercado, mesmo com o risco de consolidar uma futura ditadura bolsonarista, Maia ficou com o mercado. Nem o critique muito. Mais do que ninguém, Rodrigo Maia sabe quais são seus limites e conhece seu tamanho. Ele só consegue se distinguir como contraponto a Bolsonaro. Logo, tornou-se umbilicalmente ligado ao seu suposto oponente. E seu único trunfo é o mercado.

O cemitério das vocações frustradas do Rio tem Sérgio Cabral Filho, Francisco Dornelles, Miro Teixeira, Eduardo Paes. E, agora, Rodrigo Maia. É a decadência inexorável de uma antiga grande cidade.

Luis Nassif

28 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Bom dia, Nassif, tudo bem? Você é um excelente analista politico e já previu com precisão muita coisa que se efetivou. Mas foi overdose de otimismo acreditar que gente como Rodrigo Maia, Alcolumbre, Gilmar Mendes, Alexandre de Moraes e os Donos da Folha, do Estadão e os irmãos Marinho poderiam abdicar um segundo de seus objetivos egoístas e inescrupulosos em torno do “bem maior do país e do povo brasileiro”. Assim, que viram um jeito de tirar proveito egoísta da situação, resolveram manter tudo como está, até pra garantir o PT bem longe de qualquer possibilidade de voltar ao Poder. Há uma análise antiga sua aqui na qual você acertou terrivelmente bem: o grande mal da elite que governa o Brasil é sua tendência de sempre fazer acordões em qualquer hipótese, com qualquer um. Alguns podem pagar caro, um dia, por esses acordos com golpistas (haja visto o que aconteceu com Adhemar de Barros e Carlos Lacerda logo depois de 64). Nassif, vc acha que tem uma nova ditadura, semelhante à ditadura escancarada de 64 (com tanques nas ruas, congresso e stf fechados, e torturadores pagos pelo estado), a caminho nos próximos 2 anos?

  2. Concordo com quase tudo, menos com inclusão de Eduardo Paes.
    Afinal, se quermos fugir das “majores”, dos “sargentos”, dos “soldados”, das religiões, enfim de psl, psc, e seus “socios”, a saida imediata é Paes.
    Não que se possa afirmar que ele esteja afastado de forças ocultas ou mais ou menos ocultas, contudo metade desta turma citada acima, e que não agrega nada a democracia e ao RJ, vai pra maré.
    Sou carioca, vivo aqui faz quase 70 anos. Paes foi a coisa mais perto de um prefeito nos últimos anos.

  3. È o avalista de toda a desgraça que se abateu sobre o povo brasileiro desde o golpe….. ainda falam que é a voz sensata do congresso, blerghhh!!! Ele já disse que teve menos votos quando tentou a destruição da presvidencia do vampirão golpista, quero saber como vai se apresentar ao eleitor depois de aprovar um reforma pior do que aquela…..e que os adversários nao deixem o eleitor esquecer…….

    1. A verdade que desagrada a muita gente é que Rodrigo Maia não está sozinho nesse papel. Caso a situação evolua para um regime bonapartista, ditatorial, o que efetivamente é o que está acontecendo, a maior parte da conta deve cair sobre os entusiastas da Frente Ampla.

      Pensemos por um momento: é lícito que apologetas da ditadura não apoiem um regime ditatorial? Temos na presidência das duas câmaras do Congresso Nacional o DEM, antigo ARENA, do qual faz parte o senhor Rodrigo Maia e o menos brilhante Davi Alcolumbre. Nada mais natural para essa gente que apoiar o fechamento do regime.

      Agora, eu pergunto: é lícito para a ESQUERDA apoiar o fechamento do regime? Porque temos que deixar bem claro que há um setor na esquerda que não lutou contra o golpe que derrubou a Dilma, não lutou contra a prisão do Lula, não quis levantar o Fora Bolsonaro, elogiou a Lava-Jato, e agora defende o imobilismo total, ao invés de mobilizar o povo para a luta. São os defensores da chamada política de Frente Ampla.

      Quem impede a luta contra um crime é cúmplice dos criminosos, pior ainda se quinta-colunas nas organizações que deveriam lutar contra a imposição de uma ditadura. Fernando Haddad, Flávio Dino, Marcelo Freixo, Guilherme Boulos, todos levam adiante essa política de paralisia da esquerda que permite que a direita feche o regime. São tão ou mais responsáveis pela situação.

      Como o Nassif é amigo pessoal do Haddad, talvez “convenientemente” nunca toque no assunto, mas a verdade é que tem gente na esquerda que deve ser responsabilizada caso ocorra um fechamento do regime. A única política aceitável nesse momento para defender a democracia seria fazer uma ampla campanha de propaganda das ideias de esquerda, mobilizar os sindicatos contra o ataques aos direitos, rumo a uma greve geral, fazer manifestações de rua pelo Fora Bolsonaro, denunciar implacavelmente o golpe de estado imperialista. Não me parece que a Frente Ampla cumpra sequer um desses pontos.

      1. Típico do que vc fala é a aceitação passiva da Lei do Teto, por parte da esquerda e demais forças que se autodefinem como “oposição”.

  4. A pergunta de hoje é:

    #RodrigoMaia também está recebendo depósitos do Queiroz para deixar o vagabundo Jair Bolsonaro socar jornalistas?

  5. Rodrigo Maia (DEM) não foi escolhido à toa pelo gangster Eduardo Cunha (a mando das altas finanças) como seu sucessor na Câmara. Com o Botafogo da Odebrecht, o criminoso Eduardo Cunha (MDB) sabia que todo o seu gangsterismo a favor do sistema financeiro não sofreria nenhuma solução de continuidade.

    Rodrigo Maia (DEM) está se saindo melhor que a encomenda, herdeiro que é, também, de toda a ‘esperteza das finanças’ do seu pai, Cesar Maia, uma daquelas ‘crias’ da esquerda (no caso, brizolista) que, à moda Anselmo, resolve fazer fortuna na direita (vide também Palocci).

  6. Não consigo entender como alguém possa ter expectativas de um deputado do DEM, a meu ver o mais reacionário dos partidos tradicionais (se é que o texto expressa a real posição do jornalista)?

  7. Só mesmo sendo muito poliana pra acreditar que Maia faria diferente. Acho que deveria ler mais o príncipe, e não o pequeno príncipe. No momento que Bolsonaro deixou claro que Guedes seria o seu tzar da economia, o mercado financeiro inteiro apoio Bolsonaro. Maia apenas entra em luta contra Bolsonaro se este querer fugir do que dita o rentismo – hoje, a lei do teto. O que a nossa elite miserável, a parte mais, digamos, sofisticada dela, lamenta em Bolsonaro não é o jeito que ele vem conduzindo até agora a economia ( veja que em plena pandemia os bancos privados encheram o rabo de dinheiro com dinheiro que deveria ir socorrer a parte produtiva da sociedade enquanto milhões de pessoas se aglomeravam desesperadas pra pegar um auxílio que é a diferença entre poder ou não comer – e a reforma da previdência poupou todo o andar de cima, mas pegou em cheio o lombo do andar de baixo – aí incluída uma classe média ignorante que acha que não é pobre. O ministro da economia chega ao absurdo de querer taxar livro e não iates e ainda luta por um cpmf 2.0 pra dar conta do rombo do orçamento ). E o trágico é que a esquerda, se por alguma conjunção astral rara, chegar ao poder de novo, vai ter que beijar a mão dos Setubal, Salles, Aguiar, Frias, Mesquita, Lehmann pra poder ter o direito de governo sem ser tirado antes do poder via lawfare. É um círculo do inferno.

    1. E tem a estorinha de que pretende dar mais 400 bi aos bancos, inteirando quase 2 trilhões para os abutres…..estranhamente há um silencio sobre issso…

      1. Coitadinhos! Acho que vou contribuir com uns 2 real pra essa gente pobrezinha, que tens uns filhos que ficam no farol mostrando uns filmes cheio de pobre…canalhas

  8. O artigo deixa claro que NHONHO deriva duma família de Hamsters, onde uns transam com outros sem ao menos conseguirem saber ao certo seu grau de ligação ou de afinidade, de parentesco ideológico ..diante dessa orgia, não deveria nos supriender a bagunça, o grau de anomia e de promiscuidade que tal família, partindo dum simples Estado, conseguiu implementar pra contaminar o país inteiro.

  9. O Cesar Maia foi um dos líderes da reação de direita aqui no Rio de Janeiro. Ou melhor, foi um dos mais tenazes antipetistas desde o primeiro momento de ascensao do Lula ao executivo federal. Quem acompanhava aquele (ex) blog dele via que nao um dia sequer que ele não defendesse o entrincheiramento em torno das pautas “conservadoras” (“valores da familia”, contra o aborto, mercado máximo, etc). Só mesmo quem nao prestou atenção pra cogitar de Rodrigo Maia quebrar o pacto antissocial depois de tudo que foi feito nos verões passados.

  10. Rodrigo Maia herdou os acordos de Eduardo Cunha. Sob sua liderança, toda a pauta proposta por Cunha foi implementada, com exceção das questões identitárias. Mas, para além disso, age como um representante do Grupo Globo dentro do Congresso Nacional. É, de longe, o político com maior tempo de imagem nos jornais televisivos globais, sempre com uma imagem positiva, de sensatez, de liderança, de comando. Os antigos acordos entre César e Roberto Marinho, que permitiram a eleição de César em 1992, continuam valendo para ele. E é falso dizer que não tem postura de estadista, que não tem uma visão acerca da nação a ser construída: ele emula a visão de Gudin, a visão de desmonte do estado nacional e do destino manifesto do país para ser um potência agrícola. E só. Não se sabe ao certo quais são seus projetos futuros, mas há algo interessante no ar: a partir de setembro, Fux é o presidente do STF; Barroso é o presidente do TSE; e Rodrigo é o presidente da Câmara. Todos os três com base política no RJ, que, pela primeira vez na república, viverá essa situação. Nunca houve um presidente da república com base política no RJ, seja capital ou estado. Quem sabe o ano novo nos reserva essa surpresa, via eleição indireta?

  11. Nassif, você sempre foi um defensor de um acordo nacional pra sairmos da crise, acordo tal que eu não acredito que se viabilize nunca a favor do povo e da democracia.
    Mas você acertou de forma enviesada. O grande acordo foi feito com Bolsonaro, mercado e tudo mais. O Brasil ficou de fora, como sempre:

  12. Avalista, como avalista. A figura do avalista é de um terceiro que garante uma operação.
    Rodrigo Maia é do conluio, é parte indissociável do desastre chamado Brasil depois do golpe de 16.

  13. Estou preparando minha mochila e aguardando as fronteiras serem abertas ou algum local desértico dos sapiens que nos ditam como viver e assistem insensíveis a degradação humana. Entra e sai década a “infinita” espera e pelo “país do futuro” por dias melhores nunca chegam. Acreditar/esperar algo que não seja setorial destas personalidades que elevem o patamar social é o mesmo que um bonobo explicar a teoria da relatividade para um chipanzé e este concordar que entendeu. Tamo f@#&*o.

  14. Maia é realmente o que há de pior – porque é pau-mandado do mercado e não pode ser criticado pela esquerda, por ser filho de César Maia.

  15. Não sei não. Me parece mais que todos os políticos citados têm apenas uma coisa em comum: são todos conservadores, muito conservadores, e sempre foram. Talvez a sociedade carioca seja conservadora mesmo. Daí eleger sempre o mesmo espectro de políticos.

  16. Botafogo,Bolinha,Bolachão,Tic Tic Nervoso,filho de Silvério dos Reis,genro do Gato Angorá,o que esperar de tanta coisa ruim e nada presta?Ora,ora seu Clever ou o motivo de força maior,alguns acenos ao diabo nos salva ou estamos literalmente fumados,isto é,mais fumados ainda.É tudo prostituta de um único Bordel,por que vou perder tempo em comentar se não altera coisa alguma.

  17. O pai dele (César Maia) que tinha uma capacidade acima da média, preferiu a subserviência e a mediocridade bem remunarada ao debate político / econômico sério. Não seria o filho, um mero medíocre, a nadar contra maré.

  18. alguém nos comentários acima falou em mobilizar sindicatos para formar uma frente anti-bolsonaro. esquece, parceiro. estou há mais de 30 anos nesse meio e, te garanto, hoje está quase impossivel mobilizar sindicatos para o básico do básico (direitos, emprego, salários erc.), quanto mais para csmpanhas políticas. como era comentado em slguns círculos desde 1936, o fim do imposto sindical acabou com o sindicalismo brasileiro. aliás, já que trabalhador aparece tão pouco no ótimo ggn (uma falha lamentável), vocés podiam promover um debatezinbo sobre o futuro do sinficalismo brasileiro.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador