Rollerball em Brasília

Ontem revi Rollerball, filme produzido em 1975 estrelado por James Caan. Eu era criança quando este filme foi lançado e lembro-me de ter ficado bastante impressionado ao vê-lo no antigo Cine Estoril, em Osasco (hoje ocupado por uma igreja evangélica).

Apesar de apresentar como sendo modernos computadores que hoje parecem ser pré-históricos, Rollerbal não perdeu o seu charme. Isto se deve à atualidade do se roteiro.

O filme é ambientado num futuro alternativo em que os Estados deixaram de existir. Todas as pessoas tem acesso ao luxo e as necessidades das pessoas são atendidas por corporações privadas, cujos administradores agem como se fossem verdadeiros déspotas. A liberdade de informação é total e o acesso aos computadores é garantido a todos.

As disputas estatais, sociais e corporativas deixaram de existir. Rollerball é o jogo que concentra as atenções das pessoas e produz a catarse para as emoções que ele mesmo desperta. Todavia, há muito algo de errado neste mundo.

Jonathan E., o protagonista do filme é uma estrela do Rollerball. No auge da carreira ele é convidado a se aposentar. Ele recusa, pois ainda não se conformou com o fato da mulher dele ter sido tomada por um administrador. As televisões decoram todos os cômodos das casas. Onde quer que esteja o jogador é convidado a ver as imagens que ele armazenou ou aqueles que são transmitidas pelos administradores.

A condição feminina no contexto do filme é deprimente. As mulheres são objetos que podem ser adquiridos e descartados pelos homens. As disputas por uma mulher são resolvidas sempre em benefício dos administradores. Quando tenta obter informações relevantes sobre as guerras corporativas, Jonathan E. descobre que elas foram suprimidas, condensadas e eventualmente descartadas pelos sistemas informatizados.

Jonathan E. resiste à pressão para se aposentar e continua jogando. Quanto mais ele insiste em atuar, menos importante se torna o jogo. Durante a competição de Rollerball, as regras são modificadas. Primeiro, a disputa se torna mais violenta. Depois a violência passa a ser o único objetivo do Rollerball. O melhor amigo dele é propositalmente agredido e transformado num vegetal. A vida do protagonista está em perigo, pois ele desafiou a lógica corporativa.

No fim da final em que quase todos os jogadores estão mortos ou mutilados, Jonathan E. escolhe jogar ao invés de matar seu último adversário. Com sua decisão ele rejeita a nova lógica do Rollerball e choca a platéia. Mas logo em seguida o nome dele começa a ser gritado por todos como se fosse um símbolo daquilo que foi suprimido do cotidiano das pessoas pelas corporações privadas e seus administradores: a liberdade.

No Brasil, os banqueiros, empresários, donos de empresas de comunicação modificaram as regras do jogo. Eles romperam com o sistema constitucional possibilitando aos congressistas destituir a presidenta eleita pelos brasileiros. Isto produziu um verdadeiro Rollerball em Brasília.

Após o golpe de estado mediante o Impedimento fraudulento de Dilma Rousseff (que equivaleu à supressão da liberdade política da população escolher o presidente do Brasil), os interesses privados substituíram totalmente os interesses públicos. O usurpador cancelou direitos sociais e aumentou os juros e as verbas de publicidade dando aos banqueiros e donos de empresas de comunicação aquilo que eles queriam: mais dinheiro ganho com menos esforço.

Todavia, a mudança das regras do jogo produziu uma espiral de desemprego e desilusão. Também provocou um aumento da violência nas disputas políticas e uma previsível ampliação da brutalidade policial na repressão contra aqueles que rejeitam o golpe de estado e não aceitam a exclusão da população do orçamento da União. Nos últimos dias o conflito se generalizou dentro do próprio Estado. O Congresso aprovou uma Lei para responsabilizar os abusos cometidos por procuradores e juízes. E eles trocaram seus gabinetes pelos palanques midiáticos onde denunciam uma suposta conspiração para limitar a autonomia do Poder Judiciário.

Distantes da população, os promotores e juízes brasileiros já não merecem o prestígio e a impunidade que pretendem desfrutar. Muitos deles ganham salários nababescos acima do teto. Quando julgam os abusos cometidos por seus colegas raramente os juízes e promotores empregam o mesmo rigor que tem usado para perseguir seletivamente e até ilegalmente os políticos do PT ou ligados ao PT.

Lula é o único líder político que determinado a jogar o jogo de acordo com as regras da CF/88 que foi rasgada por banqueiros, empresários, donos de empresas de comunicação, senadores, deputados e juízes e promotores.  Nesse sentido, ele se assemelha muito com o personagem Jonathan E. do filme Rollerball. Na ficção, o protagonista derrota o sistema. Na vida real, o neoliberalismo tem sido implacável com aqueles que desafiam sua lógica.

A Frente Ampla imaginada por Lula é uma solução para a crise. Mas ainda se mostra uma ficção. Entretanto, se os conflitos em curso não forem solucionados o resultado previsível será o crescimento da barbárie.

Antes do final deste novo jogo sem regras em que o Estado atende apenas os interesses dos administradores de Bancos e empresas de comunicação, o respeitável público desempregado e faminto poderá acabar saqueando os supermercados porque seus interesses foram esquecidos ou menosprezados. Afinal, não estamos no cinema e o neoliberalismo não é exatamente uma utopia semelhante àquela retratada em Rollerball. Aqueles que assaltaram o poder não querem atender as necessidades de todos os brasileiros. Alguns deles, como Geddel Vieira e os juízes e promotores que ganham acima do teto, só estão pensando nos seus próprios interesses.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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