São Paulo na contramão dupla

Que a impermeabilização do solo, com a multiplicação de edifícios, de ruas asfaltadas, de calçadas feitas com materiais impedem a absorção de parte da água das chuvas, que isso contribuía para as enchentes, já se está cansado de saber — e já se está cansado de ver que nossos prefeitos e demais autoridades municipais não fazem nada para, pelo menos, impedir maior impermeabilização. Muito pelo contrário.

Lendo o artigo abaixo, publicado esta manhã pela Agência Brasil, descubro que a impermeabilização, além de impedir o escoamento da água, gera mais calor, o qual por sua vez aumenta as precipitações, que pioram as enchentes… Ou seja, a impermeabilização contribui duplamente para agravar o problema.

É o que deduzo ao ver o que prefeitura está fazendo no meu bairro paulistano (Itaim): está quebrando todas as calçadas para cobri-las unicamente com cimento, liso e ininterrupto. Só não arranca as partes de pedra portuguesa, que aliás em vez de estarem soltas, são rejuntadas com cimento, formando portanto também uma camada impermeável contínua. Havia, como na calçada da 15ª DP, vários trechos de calçadas no bairro cobertas de forma descontínua, p.ex., com bloquinhos de concreto sextavados entre os quais havia terra, por onde a água escoava. Agora acabou. Impermeabilização ampla, geral e irrestrita. Decididamente, as autoridades da cidade parecem quebrar a cabeça para descobrir um jeito de torná-la cada dia pior de se viver! E ainda botam a culpa no Pedroca.

 

09:48
03/02/2011

Concentração de calor na capital paulista causa temporais mais fortes do que no resto do estado

Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil

São Paulo – Os fortes temporais ocorridos ao longo do mês de janeiro na cidade de São Paulo estão diretamente ligados ao fenômeno conhecido como ilha de calor. Segundo o meteorologista Fabrício Daniel dos Santos, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a grande quantidade de chuvas no início do ano mostra uma discrepância entre o clima na capital e no restante do estado.

O janeiro deste ano foi o mais chuvoso desde 1943, quando o Inmet começou a fazer as medições. Em cidades do interior como Franca e Presidente Prudente, no entanto, a chuva ficou abaixo da média histórica, de acordo com Santos. Mesmo nos locais onde o índice pluviométrico excedeu a média para o mês, ficou próximo ao esperado para a época do ano.

A diferença da capital para o restante do estado está na grande aglomeração urbana que concentra fontes e receptores de energia. “A ilha de calor é muito bem caracterizada na cidade”, ressalta o meteorologista.

O professor do Departamento de Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo Edmilson Dias de Freitas explica que o acúmulo de calor causado pelas grande quantidade de edificações e a impermeabilização do solo, além do uso de equipamentos como ar-condicionado e automóveis, ampliam a corrente que leva o vapor de água para a atmosfera. Esse processo acaba por criar nuvens maiores do que o normal. “Quanto mais intensa a corrente ascendente que leva a água lá para cima, mais desenvolvimento vertical essa nuvem vai ter.”

Essas grandes nuvens dão origem a tempestades que descarregam em um curto espaço de tempo a precipitação que demoraria várias horas ou até alguns dias para voltar à terra. “O fato é que chove a mesma coisa em um número menor de vezes”, explica o professor. Com isso, a cidade vai adquirindo uma espécie de clima próprio, “muito particular”, acrescenta Freitas.

São Paulo “é a capital brasileira que tem a maior tendência para eventos extremos, principalmente precipitações”, afirma Fabrício dos Santos com base nas observações feitas em todo o país pelo Inmet. Isso deve piorar com o acirramento das mudanças climáticas nos próximos anos. “É uma cidade típica que vai estar sofrendo mais por conta do aquecimento [global].”

Isso porque a magnitude da ilha de calor está diretamente ligada ao tamanho da cidade, explica Freitas. Segundo ele, é possível amenizar o fenômeno com ações que reduzam a absorção de energia pela metrópole. Entre elas, o professor aponta o aumento das áreas de vegetação e utilização de calçamentos mais permeáveis, no sentido de “permitir que o solo receba mais água, transpire essa água e receba menos quantidade de energia”. Além disso, ajudaria reduzir a circulação de automóveis, principalmente nos horários de pico.

Edição: Juliana Andrade

http://agenciabrasil.ebc.com.br/web/ebc-agencia-brasil/enviorss/-/journal_content/56/19523/3180555

Redação

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