Moral sem consequência

Na maioria dos casos, o brado contra a corrupção é um disfarce. O que temos é uma enorme bronca do governo, uma raiva ideológica que se manifesta por meio de um moralismo de fachada. Na ciência política, esta raiva é reflexo da velha luta de classes, pois o partido no governo tem origens proletárias e busca reduzir a desigualdade (resta saber até quando). A expressão “luta de classes” causa calafrios nas elites. O termo “elites” também costuma incomodar, inclusive – e ironicamente – alguns remediados/aspirantes/aderentes.
A maioria das pessoas, em sua vida privada, tolera uma corrupçãozinha, mas sente o espírito aliviado ao xingar os corruptos, sempre selecionados de acordo com suas paixões políticas, sempre sem base racional. Vociferar contra a corrupção virou um álibi, uma desculpa para atacar um partido que está entre os menos corruptos. Chocado com esta barbaridade? Basta consultar qualquer levantamento sobre processos de corrupção, fichas-sujas e mandatos cassados. Quando confrontados com a realidade dos números, a eterna resposta impregnada de cinismo moralista é: “puna-se todos, doa a quem doer…”. Ou: “corrupto é corrupto, não tem mais nem menos, tem que ir pra cadeia…”. Platitudes.

A principal maneira de reduzir a corrupção na esfera pública é impedir as doações empresariais para as campanhas políticas. O resto é perfumaria. Porém, a Globo vai convencer os seus bois tangidos de que a reforma política passa pelo voto distrital, bla bla bla… Este será o tom na mídia, pode esperar. E o Congresso, responsável maior pela tal reforma política, não quer discutir a corrupção das campanhas, pois ela é o alimento de muitos parlamentares. Ou seja, ficamos na mesma: depois do “esquenta”, vai-se às ruas para aliviar o fígado, mas sem consequência prática.

 

Redação

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