Sem investimento em parques industriais, governo Bolsonaro acelera o desemprego

Ganho com especulação financeira, incentivado por falta de ação do Estado, desestimula retomada da indústria

A cada ano a indústria perde importância, no Brasil. Na década 80, a participação industrial era de 30% do PIB e, atualmente, é de apenas 10,4% | Foto: Mark F. Levisay/Creative Commons

da Rede Brasil Atual

Sem investimento em parques industriais, governo Bolsonaro acelera o desemprego

São Paulo – O ganho com a especulação financeira, incentivado por falta de ação do governo Jair Bolsonaro, tem desestimulado retomada da indústria, estagnando a economia e a alta taxa de desemprego. A análise é de economistas que apontam para um cenário ainda pior com o governo Bolsonaro.

A cada ano a indústria perde importância, no Brasil. Na década de 1980, a participação industrial era de 30% do PIB e, atualmente, é de apenas 10,4%. De acordo com o professor de Economia Marcelo Manzano, boa parte da responsabilidade pela perda de importância da indústria nacional é dos chamados rentistas, que não investem diretamente na produção das indústrias, mas, sim, em papéis, como ações e empréstimos para o governo.

“Na medida em que os donos do capital e do dinheiro preferem esse tipo de investimento, eles deixam de apostar em projetos de expansão produtiva, em projetos industriais e de fortalecimento da indústria”, explicou Manzano, em entrevista ao repórter Jô Miyagui, da TVT.

Em consequência da desindustrialização, cresceu o desemprego. De acordo com o IBGE, de 2013 a 2017, a indústria perdeu 15% dos postos de trabalho, causando o desemprego de 1,3 milhão de trabalhadores. Para o presidente do Instituto Trabalho indústria e Desenvolvimento (TID Brasil), Rafael Marques, a indústria é fundamental para o desenvolvimento de qualquer país. “A indústria sempre vai ser o principal indutor do desenvolvimento pelas conexões que ela tem para produzir. A indústria não é mais um conjunto de fábricas, ela dá ao país soberania e autonomia”, afirmou.

Para que o Brasil volte a se industrializar e criar empregos, a solução é o próprio governo investir em empresas, como a Petrobras e garanta dinheiro através de bancos públicos, afirmam os especialistas.

“Nós precisaríamos de umas sete estatais atuando em diferentes ramos de atividade cumprindo esse papel de holdingsprodutivas, arrastando o setor privado a partir da sua demanda. É fundamental o papel dos bancos públicos. Os bancos privados e o mercado de capitais não têm apetite e não querem correr o risco de investir em projetos industriais que levam tempo para maturar, numa economia com tanta incerteza e insegurança”, acrescenta o professor.

A pesquisa do IBGE mostra que o sudeste tem perdido empresas porque fecharam as portas ou vão para outras regiões. Para Rafael Marques, os seguidos governos do PSDB, em São Paulo, não fizeram nenhuma política industrial para o estado. “Não tiveram um programa que reconhecesse que a indústria paulista passa por uma crise. As empresas do interior têm se migrado para outros estados ou até fechado. São Paulo não as reconheceu”, disse Rafael.

Assista à reportagem do Seu Jornal, do TVT

Redação

3 Comentários

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  1. “…Ganho com especulação financeira, incentivado por falta de ação do Estado, desestimula retomada da indústria…” Isto foi praticamente a história brasileira destes 88 anos. AntiCapitalismo de Estado. Basta ver a urgência e afinco pelas Figuras Políticas em destruir marcas como Odebrecht, Petrobrás, Embraer, JBS, Queiroz Galvão,…

  2. Parece que no Brasil não existe capitalismo. As leis do capitalismo têm que ser minimamente conhecidas quando queremos entender o que está acontecendo em quase todo o mundo. Na China, apesar de ser o país onde existe mais capital no mundo atual, não está vivendo essa situação. Muito pelo contrário. Lá o desenvolvimento está a todo vapor. Existe uma diferença fundamental que os economistas não conseguem entender. O mundo está vivendo momentos de uma grande transformação. É precisamente esta que pode nos fazer entender porque o capitalismo não dá mais certo. Os capitalistas preferem os lucros fictícios da roleta monetária. Não existe crise financeira, o que existe é crise da produção capitalista. A data de validade desta já chegou ao fim. Agora é a vez de uma produção coletiva da vida, e tudo aponta nessa direção. É o que diz Jean Ziegler em seu livro sobre o fim de uma época histórica. Aliás, é bom ler sua entrevista publicada nesse blog.

    1. Pedro,
      Perfeita colocação. Nada a comentar sobre o argumento e sua conclusão. Apenas gostaria de acrescentar algo que tornou-se um novo normal, mas não cessa de assombrar-me. Refiro-me a esquizofrenia, à deterioração das faculdades cognitivas dos brasileiros, especialmente, dos nossos capitalistas tradicionais, aqueles que investem sua capacidade empreendedora e seus recursos financeiros na construção de empresas industriais, comerciais e de serviços não financeiros. Custo a crer no que vejo, quando essas pessoas apoiam e aplaudem, incentivando, medidas que ferem os interesses dos seus empreendimentos e, em consequência, afetam-os diretamente como indivíduos no presente, além de comprometer seu futuro.
      A indústria nacional, o comércio e os serviços não transacionáveis, tanto quanto a agricultura e pecuária, dependem, na essência da capacidade de consumo e de investimento internos. Mesmo setores fortemente exportadores como o complexo grãos (milho/soja) e o complexo carne, interligados pela nutrição dos rebanhos, não são sustentáveis apenas pela exportação. Dependem de consumo interno que, por sua vez, depende do poder de compra da população oriundo da renda da população formada, em sua maior parte, pelos fatores emprego e massa salarial. Ora, tentando não estender-me em demasia – apesar da complexidade do tema exigir – o desenvolvimento econômico, unica via de saída da crise atual, depende de políticas publicas que promovam o emprego e renda, o consumo e o investimento.
      O incentivo à financeirização da economia, via juros reais elevados, restrição da oferta de crédito, restrição da tributação sobre rendimentos de capital, redução dos direitos trabalhistas leva à redução do papel do Estado enquanto equalizador das desigualdades e indutor do desenvolvimento em um cenário onde não se vislumbra possibilidades concretas do setor privado estar disposto ou, mesmo, ser capaz de ocupar este papel. O resultado disso está aí, para quem quiser ver. A sociedade, incluindo as empresas de bens e serviços, está à míngua. A continuidade das políticas públicas – ou de sua ausência – não trará nada diferente do aprofundamento da crise pelo aumento da desigualdade e do entesouramento financeiro, aumentando os efeitos deletérios observados e aumentando a pressão sobre o déficit público. De uma mão virá uma arredação tributária raquítica e da outra a demanda por mais serviços públicos nas áreas da saúde, da assistência social e, inevitavelmente, da segurança. Se isso não é o roteiro para a catástrofe, não sei o que é.
      E o exemplo mais escrachado do déficit cognitivo do empresariado nacional é ver aplausos à destruição dos bancos públicos, onde está a única fonte de crédito de longo prazo para investimento e o único instrumento presente para controlar o abuso, tanto do custo quanto da oferta de crédito, no Brasil. Agora, por puro proselitismo político, estão em plena perseguição ao BNDES. De um lado o ministério de Guedes está fazendo o máximo para encolher a capacidade operacional e do outro uma CPI ridícula, tanto pelo objeto, quanto pelos seus atores, está tentando destruir a imagem do Banco.
      Parafraseando Nassif, se cobrir é circo, se cercar hospício.

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