Ser professor não é “bico”. É a mais importante profissão, por Maria Izabel Azevedo Noronha

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Ser professor não é “bico”. É a mais importante profissão

por Maria Izabel Azevedo Noronha

Um anúncio publicitário da “Universidade Anhanguera” teve o dom de expor para toda a população alguns aspectos estruturantes do processo golpista que estamos vivendo no Brasil e que sustenta Michel Temer na Presidência da República: a quebra dos direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas, o desmonte da educação brasileira direcionando-a para o caminho da privatização e a desvalorização ainda maior do magistério.

No anúncio, o apresentador da Rede Globo, Luciano Huck, incentiva as pessoas a frequentarem cursos de pedagogia para complementarem sua renda. Assim, não apenas transforma a docência em um “bico”, como deixa muito claro o lugar da educação no País que está sendo formatado pelos que agora ocupam o poder em Brasília, associados aos comunicadores de massa engajados politicamente neste projeto de destruição.

Em tempos de “Uber da Educação”, terceirização ilimitada, extinção da Consolidação das Leis do Trabalho (passando a valer simplesmente a vontade dos patrões por meio de “negociações” diretas com seus funcionários), reforma do ensino médio, “notório saber”, “escola sem partido” e tantos outros ataques à classe trabalhadora e ao direito à educação de qualidade, o tal anúncio parece sintetizar tudo isso em uma advertência: os tempos mudaram definitivamente.

Com a forte repercussão negativa, a Universidade Anhanguera retirou o anúncio do ar e “pediu desculpas”. É bem possível que isso tudo já estivesse, inclusive, previsto no “script”. O que importa é que o recado foi dado. Nós, professores, estamos por nossa conta. A educação pública é um detalhe para os atuais donos do poder. Condições de trabalho, valorização profissional, respeito, carreira, nada disso está nos planos dos que hoje mandam no nosso país.

Em São Paulo já vivemos um pouco dessa realidade desde que o PSDB assumiu o poder em 1995. A situação dos professores temporários (a chamada “categoria O” é o exemplo mais evidente. Trabalham em regime de semi-escravidão, com baixos salários, jornada incerta, direitos escassos e, ainda, são obrigados a permanecer 180 dias fora da rede estadual de ensino ao final de seus contratos. Mas os professores efetivos, os estáveis, os demais cargos da carreira do magistério, como diretores e supervisores também estão sendo desrespeitados e desvalorizados por um Governador que nos mantém a todos há três anos sem reajuste salarial.

Nós, professores e professoras, constituímos a mais importante profissão e a sociedade nos reconhece e nos valoriza, sobretudo a esmagadora maioria das famílias de nossos estudantes nas escolas públicas. Entretanto, não temos o devido reconhecimento por parte da maioria dos governantes, que tratam a educação e os professores apenas como despesa e não como o mais importante investimento que pode ser feito no futuro de uma nação.

Luciano Huck, na malfadada propaganda, verbalizou um tenebroso projeto para a educação. Vamos permitir?

 

Professora Maria Izabel Azevedo Noronha – Bebel
Presidenta da APEOESP

 
Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

6 Comentários

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  1. É melhor você rever seus conceitos

    Ser professor não é bico?

    Se não era, agora é. Confira o porque:

    “A Corregedoria Nacional do Ministério Público Federal determinou o arquivamento de um procedimento disciplinar aberto para investigar a comercialização de palestras por parte do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba. Foi considerada inexistência de violação de dever funcional no caso.

    A polêmica começou após notícias veiculadas na imprensa mostrarem que uma empresa oferecia em seu site palestras do procurador por R$ 40 mil. Após a notícia, a página foi retirada do ar e passou a exibir mensagem dizendo que a oferta não teve aval de Dallagnol. Os deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ), no entanto, decidiram acionar a Corregedoria do MP.

    O parecer elaborado pelo procurador do Trabalho, Cesar Kluge, auxiliar da Corregedoria, não identificou ilegalidades na conduta do coordenador da Lava Jato.

    O documento afirma que a palestra pode perfeitamente ser vinculada à atividade docente e que isso não depende única e exclusivamente ao local onde será ministrada. Kluge apontou que Dallagnol proferiu palestras remuneradas, com conteúdo jurídico e social, de interesse da comunidade jurídica e civil, inexistindo qualquer indício de fornecimento de dados sigilosos.

    “É comum e natural que os conhecimentos e a experiência adquirida na seara pessoal e profissional reflitam, de alguma forma, na ATIVIDADE DOCENTE. Não há nenhuma irregularidade nisso, desde que, como observado anteriormente, não exista fornecimento de informações sigilosas, o que, frise-se, não ocorreu na hipótese em testilha”, escreveu….”

    https://jornalggn.com.br/noticia/corregedoria-arquiva-investigacao-contra-dallagnol-por-palestras

     

    Se ser professor não é bico, então o Dallagnol faz bico no MPF.

  2. Ah, vá… claro que professor

    Ah, vá… claro que professor não só não é bico como também é a mais importante profissão do mundo.

    Mas se for para falar a verdade, a Anhanguera não é universidade. Aliás nem escola é, é mera empresa da iniciativa privada que apenas usa da legislação – a propósito criada por prepostos da mesma iniciativa privada – tanto para se arvorar escola quanto universidade.

    O certo seria que nenhum professor se sujeitasse a trabalhar nessa firma. Simulacro de professores em simulacro de escola simulando aulas para quem simula ser aluno.

    Bah… esse capitalismo e as vulgaridades, simulacros e similaridades baratas que vende, que usa para ganhar poder econômico e político muito antes do que realizar sua razão social, o motivo que alega ter para funcionar. Unisquinas…

    Aliás para ficar certo a desinência “razão social” no Capitalismo, deveria ser mudada para “razão individual”.

    1. Teaching Factories and Sausage Factories aim deriving profit

      “A Schoolmaster is a productive labourer when, in addition to belabouring the heads of his scholars, he works like a horse to enrich the school proprietor. That the latter has laid out his capital in a teaching factory, instead of in a sausage factory, does not alter the relation”- Karl Marx

      Marx, Capital, Volume I, Chapter 16 (1867)

  3. A desvalorização – à partir da ditadura – do professor

    Nem vou adentrar na seara da cabecinha de pastel de feira de Luciano Huck. Lembro somente de minha voh contando que em seu época ser professora era algo muito importante, de respeito e que ela sempre exerceu o magistério com muito orgulho e a seriedade necessaria. Hoje, um jovem de “boa familia” que diga que gostaria de ser professor é alvo de deboche e colera e é logo levado pelos pais a fazer Direito ou qualquer outra coisa que dê dinheiro e algum “status”.

  4. Importante para quem ?
    No

    Importante para quem ?

    No Brasil não é.

    Nossa prioridade é arrumar empregos para bacharéus, seja, de nível médio ou superior.

    Nunca foi a educação, o magistério.

  5. Falta, desde o berço, o hábito de se estudar, se formar (MESMO)

    acho simplificar demais falar em valorização dos profisionais nos salários. Os cursos de Pedagogia são dos piores na já péssimo sistema educacional. Tenta vestibular, Enem quem não conseguirá entrar noutro curso (ao contráriode uma Finlândia, p. ex., super disputado). Faz-se uma lavagem cerebral em que se repete, sem maiores questionamentos, desde Paulo Freire a Piaget, a métodos construtivistas ao apresentar trabalhinhos da aula, como sendo dito e transformando em “argumento de autoridade”, isto é, de antemão, já recebe e é vista com olhos ultra benevolentes, a aluna (é profissão mais feminina, imagine numa socieadde machista o tanto de influências de obediência a regulamentos e normas cegas, absurdas, algumas ditadas pela diretora por vezes no cargo por indicação politiqueira. Conheço gente formada em professora, em Pedagogia, mais alienadas em cidadania, e politicamente impossível, e reproduzem, claro. Tenho uma amiga que foi destacada por alguma rebeldia pra tomar conta da Biblioteca, e chegando lá viu nos fundos, escondidos, livros novos e mais livros, que a DIretora tinha mandado em período anterior, então ela fez cartazes incentivando alunos, dos raros que vão à biblioteca, a circularem , a terem a curiosidade estimulada, a descobrirem. Isso se reproduz Brasil afora. Enquanto isso, perdem-se as contas de quantos Congressos os Pedagogos, ditos Educadores fazem por esse país. Quando Mangabeira Unger consultou meio mundo pra um esboço (note: um esboço, um ponta pé pra iniciar discussão, e não discurso), as corporações com seus títulos , fazem questão de porem seus títulos (parece que na Suécia não tem essa de Ministro ser tratado com tanta reverência e títulos citados como acima dos mortais) títulos de Educadores, artigos em revista X, Y ou Z, que muitas vezes a gente tem dúvidas de como conseguiram, chiaram, gritaram, só não chamaram Mangabeira de santo. Marilene Felinto, quando escrevia na FSP, arguta observadora do comportamento, fez crônica sobre colégios particulares que propagandeavam de tudo, judô, hoje seria tablelt, etc, MENOS… ter uma Biblioteca. Por fim, informação não é formação, não é troca, nem reflexão (muitas vezes leva muito tempo e solitariamente, por isso não faço fé nas gerações e propagandas de modernidades de tablets, celulares distribuídos, um marketing, no popular, o matuto, o caipira querendo se sentir moderno, acompanhaar o último lançamento, e vejo gente muito simples com baitas smartphones (eu só quero voz, só tenho celular básico que tem bateria de 6 dias), mas claro que pode ser útil a uma pequena parte das pessoas. Lembro um artigo da Socialista Morena, ela, jornalista, blogueira, dizendo que deixa o celular no escritório, e vai-se embora, isso é um exemplo de Autonomia de ser humano, e não de robotização crescente.

     

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